Fernanda Montenegro e Fernanda Torres falam sobre o especial

Diário Carioca

Protagonistas do especial de Natal ‘Gilda, Lúcia e o Bode’, que vai ao ar no dia 25, na Globo, as atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres refletem sobre a mensagem que o episódio levará para o público e endossam a importância   do afeto e da união das famílias neste momento. “A mensagem é: resista. Busque aquilo que você acha justo, busque a comunhão humana, estenda a mão. Nós precisamos disso no mundo contemporâneo. Acho que sempre precisamos disso, no passado, no presente e no futuro”, afirma Fernanda Montenegro. Aos 91 anos, a atriz volta à TV como a personagem Gilda, apresentada ao público no episódio ‘Gilda e Lúcia’ de ‘Amor e Sorte’, série que foi ao ar em setembro, na Globo. 

 

Agora, em ‘Gilda Lúcia e o Bode’, mãe e filha têm que encarrar uma nova realidade e a dificuldade financeira que elas precisam enfrentar nesta nova fase, de volta ao Rio de Janeiro, não é o único desafio para Gilda e Lúcia (Fernanda Torres). Além da presença inevitável do bode ‘Everi’, as diferenças de personalidade entre as duas, que passam a morar juntas na casa de Gilda, tornam a rotina ainda mais difícil. “Eu acho que o público pode esperar essa mistura de comédia com afeto, de comédia com drama, uma certa reflexão sobre o mundo em que a gente está, mas com humor e afeto”, define a atriz Fernanda Torres. As atrizes falam mais sobre o especial de Natal nas entrevistas abaixo. 

 

Criado por Jorge Furtado e produzido pela Conspiração Filmes para a TV Globo, o especial de fim de ano ‘Gilda, Lúcia e o Bode’ tem roteiro de Jorge Furtado, com Fernanda Torres e Antônio Prata, direção de Pedro Waddington e direção artística de Andrucha Waddington. Protagonizado por Fernanda Montenegro, Fernanda Torres e Joaquim Waddington, conta com as participações especiais de Arlete Salles e Fabiula Nascimento, além de Muse Maya, Kelzy Ecard, Thelmo Fernandes, Cibele Santa Cruz e Fernando Pestana no elenco. A atração será exibida na noite de 25 de dezembro na TV Globo, após ‘A Força do Querer’.

Entrevista com Fernanda Montenegro



O Especial de Natal reúne três gerações da família: avó, mãe e filho. Dessa vez, com uma troca profissional ainda maior. Como você vê essa experiência?

Fernanda Montenegro – A família teatral existe há milénios, eu acho. Tem o circo, embora esteja, aparentemente, desaparecido neste momento neste país. Tem a comédia Dell’arte (forma de teatro popular que surgiu no século XV, na Itália); os De Filippo, de Nápoles, por exemplo, a família inteira. É muito comum. De repente, Fernando (Torres) e eu viemos para esse setor, para surpresa das famílias, sobrevivemos e já estamos na terceira geração. De alguma maneira, estaremos na criação de personagens, ou fazendo, dirigindo, compondo, gravando, musicando, não tenho dúvidas. 

Na sua opinião, quais as principais mensagens que o episódio especial de Natal vai passar? O que o público pode esperar?

Fernanda Montenegro – A mensagem é: resista. Busque aquilo que você acha justo, busque a comunhão humana, estenda a mão. Nós precisamos disso no mundo contemporâneo. Acho que sempre precisamos disso, no passado, no presente e no futuro. E alinhe fronteira. Acho que é isso. E é isso que a nossa história conta. Terminamos com ‘Feliz Ano Novo’, estamos juntos, apesar de, durante possivelmente os cerca de 40 minutos da história, a gente tenha lutado para chegar a isso. Mas chegamos. Essa é a mensagem do nosso trabalho, de toda a equipe.

2020 foi um ano que ‘deu bode’. Quais reflexões você acha que Gilda faria sobre o ano que passou? E quais são os principais desejos dela para o ano que está por vir? 

Fernanda Montenegro – Tem uma coisa muito bonita na nossa história. O bode não é ‘o’ bode. É um bode. Ele une as personagens; é através dele que tudo vai se completando dentro da história. E tem uma hora em que a Gilda fica na absoluta solidão e tem o bode com ela. O bode é o grande amigo dela. Não vamos pensar esse animal tão bonito e tão fundamental para a procriação das cabras e dos cabritinhos com medo, receio, desprezo. Ele é um animal maravilhoso. Sem ele não nascem mais cabritinhos. E, na minha origem, lá dos italianos, era o grande prato do Natal e da Páscoa. Eu tenho uma grande ligação com o bode. E, por acaso, a minha personagem também. Ela é socorrida pelo bode. Então, ‘Feliz Bode’ para o nosso ano que vem. Feliz Bode. 

Na trama do episódio, as personagens têm suas superstições de fim de ano e acreditam, em um determinado momento, que a quebra desses rituais possa ter contribuído para o ano ruim. Você tem rituais de fim de ano? Tem alguma história inusitada sobre isso?

Fernanda Montenegro – Acho que é o abraço do fim do ano. Esquecer o que houve de podre nesse fim de ano e ter esperança para o outro ano. Se abraçar, se comunicar, se olhar, sair dessa solidão que a quarentena, na qual, desgraçadamente, esse vírus nos pôs. O que eu posso desejar é que essa vacina exista e que a gente possa voltar a se reunir fisicamente, a se abraçar. É uma hora complicada em que estamos vivendo. Mas, no desejo, na mente, vamos viver isso, mesmo que seja no imaginário. Eu acho que os que estão na quarentena, que ainda estão livres dessa desgraça, tem que se abraçar em louvor aos que não estão podendo se abraçar. 

Entrevista com Fernanda Torres

 

Depois de uma convivência forçada na Serra, Gilda e Lúcia encaram uma nova realidade em suas vidas. Na sua opinião, de que forma a união entre elas pode fazer diferença para encarar as adversidades do cotidiano? 

Fernanda Torres – A Gilda e a Lúcia representam um pouco a polarização do mundo hoje em dia. Uma é a liberada e a outra é a liberal. E é muito interessante a possibilidade de convivência dessas duas crenças de vida… a Lúcia é a filha careta de uma mãe maluca. Pais malucos, filhos caretas. Pais caretas, filhos malucos. Eu acho que a grande surpresa desse episódio é propor, através do afeto, das relações familiares ou das relações de amizade uma possibilidade de existir um campo comum de interesses onde as polarizações, as radicalidades possam se encontrar, conversar e resolver seus problemas. Em ‘Amor e Sorte’, uma chamava a outra de ‘Direita Guilhotina’ e a outra de ‘Esquerda Carnívora’. Uma demitia, mas era vegetariana. A outra era liberal, mas era louca por um paio, uma linguiça. Então, dentro dessas radicalidades e dessas polarizações, ninguém é ‘nem tanto ao mar, nem tanto à terra’. Ninguém é totalmente uma coisa só. E a Gilda e a Lúcia são isso. E a relação de afeto e amizade, a relação familiar é o que resolve o problema delas. A gente veio de um ano em que muitas famílias racharam por questões ideológicas, pararam de conversar uns com os outros. E a Gilda e a Lúcia são um pouco isso: vamos, através do afeto, nos encontrar aí em algum campo comum de convicção, desarmar um pouco a guarda da sua trincheira ideológica e sentar à mesa para conversar, passar o Natal e desejar um Feliz Ano Novo. 

 

2020 foi um ano que ‘deu bode’. Quais reflexões você acha que Lúcia faria sobre o ano que passou?  

Fernanda Torres – Acho que a Lúcia estava muito feliz com o mundo como ele se encaminhava. Um mercado soberano, uma ideia de que tudo se resume à economia, aos números. Grande parte é verdade. A economia rege muito as nossas vidas. Mas eu sinto que a Lúcia estava feliz com a Bolsa de Valores acima de 100 mil pontos, com reformas passando e, de repente, veio o inimaginável, que foi essa pandemia. E ela, primeiro, se coloca do lado da empresa em que ela trabalha, ela é a favor de demitir as pessoas para salvar a empresa e salvar empregos. Por outro lado, é terrível, cruel essa questão. Não tem jeito, tem que demitir. E agora, para a surpresa dela, ela é incluída na lista das demissões da Covid. Ou seja, essa pandemia, de certa forma, desestrutura o mundo que, para Lúcia, estava bem encaminhado. E ela é obrigada a viver fora da caixinha, a se reinventar e vira uma franco-atiradora do mercado financeiro alavancando operação para ver se faz o dinheiro dela render mais. Acaba perdendo, ganhando… A Lúcia está na corda bamba. 

 

O Especial de Natal reúne três gerações da família: Avó, Mãe e filho. Dessa vez, com uma troca profissional ainda maior. Como você vê essa experiência?  

Fernanda Torres – Eu sou de uma família de circo. A gente vai para o set e nem pensa mais nisso, o problema é a cena. A gente realmente não pensa nisso quando está trabalhando. Quando eu estou trabalhando com minha mãe ela é uma colega de trabalho. E o Joaquim (Waddington) entrou numa ponta em ‘Amor e Sorte’, e ele fez uma coisa ótima, ele fez um interiorano, ele compôs sutilmente um personagem e acabou que vingou. O Jorge (Furtado) e o (Antônio) Prata adoraram e falaram: – vamos colocar o Dimas. Aí, o Joaquim virou para mim e disse: “agora eu vou ter que sustentar esse interiorano que eu fiz”. E ele fez muito bem. É engraçado ficar olhando o Joaquim interpretar. Não só o Joaquim, como também o Pedro (Waddington), meu enteado, que já está trabalhando com o Andrucha (Waddington) em ‘Sob Pressão’, já dirige. E mesmo a própria equipe, que dessa vez só tinha atirador de elite, que é toda a equipe que trabalha no ‘Sob Pressão’, a gente trabalha com eles há muito tempo. São uma família estendida minha. Tem horas que eu não vejo diferença entre minha mãe, o Joaquim, o Andrucha, o Pedro e o restante da equipe.

Na sua opinião, quais as principais mensagens que esse episódio especial de Natal vai passar? O que o público pode esperar? 

Fernanda Torres – Eu acho que o que o público pode esperar é, mais uma vez, a discussão entre extremos ideológicos que a vida força a chegar a um acordo comum. Mais uma vez, é um episódio que reúne comédia com drama. Esse episódio tem um roteiro com um maior número de cenas. Tem mais cenas, mais diálogos e a gente tinha uma equipe maior também para conseguir dar conta disso. Eu acho que o público pode esperar essa mistura de comédia com afeto, de comédia com drama, uma certa reflexão sobre o mundo em que a gente está, mas com humor e afeto.

Na trama do episódio, as personagens têm suas superstições de fim de ano e acreditam, em um determinado momento, que a quebra desses rituais possa ter contribuído para o ano ruim. Você tem rituais de fim de ano? Quais são? Tem alguma história inusitada sobre isso?  

Fernanda Torres – A Olga, que é feita pela Arlete Salles, é um personagem que acredita piamente nisso e tem um diálogo maravilhoso em que a Gilda (Fernanda Montenegro) diz: “Você acha sinceramente, Olga, que a porcaria da sua vida contribuiu para o destino da humanidade? Além de dedo-duro, você tem mania de grandeza. Então, essa ideia de que o que você fez mudará o destino do mundo é um pouco delírio, né?”. Eu acho que no fim do ano, perto do Natal, o que todo mundo sente é um certo funil do fim do ano. Mesmo que você se negue a lidar com o Natal, o fim do ano, o mundo força você a sentir isso. Tem o 13º salário, as cestas de Natal… para quem tem família, é difícil não reuni-la e comemorar de alguma maneira. Negar o fim do ano é uma maneira de lidar com o fim do ano. É inevitável. Eu não curto grandes festas. Eu prefiro estar afastada, num lugar de natureza, calmo. Na hora, penso coisas boas, mas não chega a ser superstição, não pulo ondinha. E, quando estou no mar, costumo fazer um barquinho de barbante, eu gosto de fazer coisas com as mãos. Geralmente, eu faço um barquinho e quem quiser escreve um desejo, e a gente põe no mar. Ano passado, por exemplo, eu fiz um dos melhores barquinhos, a gente estava em Ilha Grande. Coloquei a quilha, ficou lindo. Colocamos no mar à meia-noite. Ele foi, ele venceu a arrebentação, saiu da baía… e, nesse ano, veio a pandemia (risos). 

Comunicação Globo

Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 2020

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