Aos 93 anos de idade, Augusta Silva dos Santos contraiu pneumonia e infecção urinária, na fila da espera por uma vaga de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), no hospital Santa Casa de Misericórdia de Araçatuba, interior de São Paulo. Dona Augusta precisa realizar uma cirurgia no fêmur e aguarda por um leito desde o dia 1º de março. Na tarde de terça-feira (9), ela foi levada para o isolamento devido à suspeita de covid-19.
Santos chegou primeiro na Santa Casa de Misericórdia de Guararapes, no dia 28 de fevereiro, após sofrer uma acidente doméstico e fraturar o fêmur. Como não há leitos de UTI na unidade, foi transferida na manhã do dia seguinte para Araçatuba, a cerca de 20 quilômetros. A situação, no entanto, não mudou: novamente, sem leitos e insumos disponíveis.
Segundo a filha, Marilza Arcanjo dos Santos Rodrigues, de 57 anos, que contraiu covid-19 dentro do hospital, sua mãe chegou bem ao hospital e sem apresentar nenhum sintoma de qualquer doença. “Ela é somente uma senhora de 93 anos. Ela não tem diabetes, hipertensão, nada, apenas a idade. Ela entrou para fazer essa cirurgia de fêmur. Desde então, a gente está aguardando e solicitando que se faça a cirurgia. Só que foi passando o tempo, justificada pela falta de insumos, de acordo com a diretora do hospital, e ela começou a adquirir as doenças do leito, ficando cada vez mais debilitada, mas ela não entrou dessa forma”, afirma a filha de dona Augusta.
A situação vivida pela família está longe de ser um ponto isolado. O recrudescimento da pandemia de covid-19 levou ao colapso do sistema de saúde, fazendo que não haja vagas e insumos para qualquer paciente, seja proveniente de um quadro de covid ou não.
A Santa Casa do município atingiu 104% de ocupação nos leitos de UTI destinados para pacientes com suspeita ou diagnóstico positivo de covid-19. São 26 pacientes graves internados para 25 leitos, de acordo com a Prefeitura de Araçatuba, com base nos dados do Departamento Regional de Saúde de terça-feira (9).
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Outros quatro municípios da região, Birigui, Penápolis, Ilha Solteira e Mirandópolis, que possuem, juntos, 48 leitos, também não têm mais vagas disponíveis.
Quanto aos leitos de enfermaria, a situação segue a mesma linha. Dos 62 leitos disponíveis na Santa Casa de Araçatuba, 54 estão ocupados, configurando uma taxa de ocupação de 87,1%.
Os hospitais da região de Araçatuba registraram, na última segunda-feira (8), 289 casos de pacientes internados com suspeita ou diagnóstico para covid-19. É o maior número registrado desde março de 2020.
Diante do quadro de poucos insumos e leitos para muitos pacientes, Marilza Arcanjo dos Santos Rodrigues teme que o caso de sua mãe tenha “caído em um protocolo de quem tem mais chances de sobreviver”, quando os profissionais da saúde escolhem priorizar o tratamento de um paciente com mais chances de sobreviver em detrimento de outro.
“Se a minha falecer, ela não vai falecer de covid-19. Mas a covid levou ela a isso, e a covid está dessa forma porque não teve atitudes públicas sanitárias adequadas para um país tão grande. Ela não vai morrer de covid, mas pode ser que ela morra pela má gestão da pandemia. Poderia ter sido feito diferente”, afirma Marilza Arcanjo dos Santos Rodrigues.
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Hoje, dona Augusta precisa se recuperar das doenças contraídas na fila da espera por um leito de UTI, infecção urinária, pneumonia e suspeita de covid-19, para então realizar a cirurgia de fêmur, “mas a gente teme não dar tempo, porque ela tem 93 anos, ela sempre teve uma saúde muito boa, mas hoje ela está debilitada por conta dessa espera. Ela está aguentando até agora, porque ela está fazendo a parte dela. Agora, o Estado tem que fazer a parte dele também.”
Outro lado
O Brasil de Fato entrou em contato com a Santa Casa de Misericórdia de Araçatuba. Em nota, a Direção Técnica declarou que o quadro clínico da paciente “inviabiliza a realização da cirurgia neste momento”. Não informou, no entanto, qual é a situação de insumos e leitos no hospital. A Prefeitura de Araçatuba também foi questionada acerca da situação, mas até a publicação desta reportagem não houve uma resposta.
Brasil
Na terça-feira (9), o Brasil bateu mais um recorde de mortos em 24 horas: 1.972 vítimas notificadas, segundo o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), totalizando 268.370 óbitos. Quanto aos casos, foram 70.764 somente no último período. Com isso, 11.122.429 brasileiros já foram contaminados.
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Com esses números, o sistema de saúde de diversos estados já entrou ou está em vias de entrar em colapso. No Paraná, cerca de 989 pessoas aguardavam na fila por uma vaga, sendo 519 com necessidade imediata de UTI, no último fim de semana. No Mato Grosso, aproximadamente 100 pessoas aguardam por um leito.
Edição: Rebeca Cavalcante