O Instituto Teatro Novo se originou da companhia Teatro Novo, formada por pessoas com deficiência, em especial autistas ou com Síndrome de Down que, na função de atores e produtores de cultura, influenciam o imaginário coletivo dos espectadores. Para o Festival Teatro Nosso, foram convidados projetos artísticos do estado do Rio de Janeiro que trabalham com arte inclusiva, para a programação online e os debates sobre o capacitismo (discriminação contra pessoas com alguma deficiência) no teatro das pessoas com deficiência. O festival conta com o apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, por meio da Lei Aldir Blanc.
Transformação
Segundo o psicólogo Rubens Emerick Gripp, que dirige o Instituto Teatro Novo, “a inclusão da arte no dia a dia de pessoas com deficiência intelectual transforma a vida delas completamente”. Gripp é especializado em psicologia clínica e educacional, com mestrado em ciência da arte pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
O psicólogo esclareceu que a criação de espetáculos com assuntos que não fazem parte do cotidiano das pessoas com deficiência, como meio ambiente e câncer, por exemplo, obriga-as a pensar e organizar o próprio pensamento. Outro ponto importante das atividades no grupo de teatro é a convivência com seus iguais. Isso faz com que eles aprendam a respeitar o outro, a esperar a vez, a viver em grupo, disse.
Para Gripp, o teatro traz muitos benefícios para a vida das pessoas e uma reflexão importante para a sociedade em relação às pessoas com deficiência. “As pessoas que não têm deficiência não costumam parar para ouvir e dar atenção aos deficientes, mas, assistindo a um espetáculo feito por eles, elas ouvem. Então, é uma mudança de eixo nas relações”, observou.
Capacitismo
O festival será aberto com uma transmissão ao vivo pela internet, reunindo artistas em um painel temático sobre Capacitismo no Teatro, às 20h, no Facebook, Instagram e YouTube do Instituto Teatro Novo. Amanhã (19), às 20h, o Grupo de Teatro do Oprimido Pirei na Cena, coletivo teatral oriundo do Hospital Psiquiátrico de Jurujuba, em Niterói, apresentará o espetáculo Doidinho para trabalhar. O tema aborda a questão do mercado de trabalho para o usuário de saúde mental.
No dia 20, às 20h, será a vez do grupo Corpo Tátil, coletivo teatral que surgiu no Instituto Benjamin Constant, instituição de ensino para deficientes visuais situada no Rio de Janeiro, com a encenação da peça Dá um tempo pra falar de tempo.
O grupo Teatro Novo encerra o festival no dia 21, às 19h, com a apresentação da peça O câncer, a pessoa e o remédio. Todas as apresentações serão gravadas sem público, no Teatro Municipal de Niterói, respeitando os protocolos de segurança com relação à pandemia de covid-19. A programação é gratuita. As apresentações terão legendas e tradução em libras e ficarão disponíveis no Facebook e no canal do YouTube do Instituto Teatro Novo depois das transmissões online.
Instituto Teatro Novo
O Instituto Teatro Novo não tem fins lucrativos. A ONG realiza ações socioculturais voltadas para pessoas com deficiência, especialmente deficiência intelectual (autismo e Síndrome de Down). Seus projetos visam à inclusão, cidadania, ao empoderamento, empreendedorismo, anticapacitismo e bem estar das pessoas com deficiência, em linguagem simples e acessível.
A instituição oferece oficinas no Teatro Cacilda Becker, no Rio de Janeiro, e no AeroClube Charitas, em Niterói, com média de 60 alunos. Essas oficinas são núcleos de teatro-escola com alunos com deficiência intelectual, que encenam, semanalmente, apresentações abertas ao público, servindo de referência a professores e estudantes.
Atualmente, porém, e desde do início da pandemia, as aulas das oficinas de teatro têm ocorrido de forma remota. Ao todo, já foram realizadas mais de 50 peças ao longo desses anos de trabalho, com a criação inclusive de espetáculos específicos para várias empresas.
Convidados
O Corpo Tátil é um coletivo teatral criado na sede no Instituto Benjamin Constant. Os trabalhos foram iniciados em 2003, sob a coordenação da professora Marlíria Flávia, em princípio como uma atividade extracurricular para apoiar a educação de pessoas cegas. Entretanto, o trabalho ganhou autonomia e conta hoje com cinco atores fixos, além da manutenção das atividades culturais e educativas, constituindo referência no trabalho artístico específico e includente de pessoas com deficiência visual.
O Grupo de Teatro do Oprimido Pirei na Cena foi criado em 1997. Ele é composto por pessoas da área de saúde mental e visa a discutir discutir, por meio do Teatro do Oprimido, temas do universo da loucura. Com sete espetáculos criados, o grupo já recebeu vários prêmios, entre eles o Ações Locais, da Secretaria de Cultura de Niterói, o Prêmio Culturas Populares, do Ministério da Cultura (MinC), Loucos pela Diversidade, da Secretaria de Cidadania Cultural do MinC, e o Prêmio Agente Jovem de Cultura do MinC.
No ano passado, devido à pandemia, o grupo Pirei na Cena enfrentou surtos e ansiedades, que o levaram a criar um experimento estético sobre loucura e isolamento social. Esse trabalho será apresentado no Festival Teatro Nosso.