O caminho do meio

Diário Carioca

RAY CUNHA, DE BRASÍLIA – A palavra Buda é do sânscrito desperto. São os que despertaram para a compreensão de que todos os fenômenos, ou a vida material, são impermanentes. O Buda mais conhecido no Ocidente é Siddhartha (aquele que atinge seus objetivos) Gautama (condutor de gado), também conhecido como Sakyamuni, sábio do clã dos Shakyas, fundador do budismo, e que viveu por volta de 563 a.C. a 483 a.C. Sidarta nasceu príncipe no reino de Kapilavastu, em Lumbinī, território atualmente dividido entre Nepal e Índia; era filho do rei Suddhodana Gautama, líder do clã Shakya, e da rainha Maha Maya.

Sidarta foi educado pela irmã mais nova de sua mãe, Maha Pajapati, que, a mando do rei, o fez acreditar que todo mundo vivia no mesmo fausto do palácio. Aos 16 anos de idade, seu pai o casou com uma prima da mesma idade, Yashodhara, que deu à luz um filho, Rahula. Ao todo, Sidarta viveu 29 anos como príncipe dentro das muralhas de Kapilavastu, em contato com o bom e melhor da vida. 

Apesar do esforço do seu pai para que nunca visse doentes, moribundos, nem sofrimento algum, um dia Sidarta viu um homem velho e pobre. Quando um cocheiro do reino, Chandaka, amigo de Sidarta, explicou a ele que era natural envelhecer, o príncipe arranjou um jeito de sair das muralhas para ver o mundo fora delas. Não deu outra, viu um homem doente, um corpo em decomposição e um asceta. Isso o deprimiu. Como superar a doença, a velhice e a morte? Por meio do ascetismo?

Ajudado por Chandaka, Gautama pegou seu cavalo, Kanthaka, e abandonou o palácio. Levaria a vida de mendicante, atrás das respostas que o afligiam. Seguiu para Rajagaha, onde sobreviveu pedindo esmola. 

Foi longa a peregrinação de Sidarta, até encontrar um grupo de cinco yogues, liderados por Kaundinya, que tentavam encontrar a iluminação por meio da privação de bens materiais, incluindo a alimentação, e praticando a auto mortificação. Um dia, ao banhar-se na beira do rio Neranjana, morto de fome, Gautama desmaiou e quase se afogou. Nesse momento, se lembrou da infância, observando seu pai a arar o campo; concentrado nesse pensamento feliz, entrou em um estado meditativo que até então não conseguira atingir.

Gautama percebeu que tanto o luxo em que vivera quanto o ascetismo extremo em que estava vivendo é que levavam à morte; precisava seguir o caminho do meio, o caminho da moderação, igualmente afastado dos extremos, da autoindulgência e auto mortificação. Diz a lenda que sentou-se, ali perto do rio Neranjana, sob uma Ficus religiosa, figueira, e jurou não se levantar dali enquanto não houvesse encontrado a verdade. Após 49 dias de meditação, alcançou a iluminação, ou seja, a paz espiritual.

Tinha 35 anos de idade. Desde então, Gautama ficou conhecido por seus seguidores como o Buda, ou Shakyamuni Buda, o Iluminado da tribo dos Shakya, até morrer, aos 80 anos de idade, na cidade de Kushinagar, atual estado de Uttar Pradesh, Índia. 

A iluminação de Sidarta consiste em que ele compreendeu quais são as causas do sofrimento e como eliminá-lo, as Quatro Nobres Verdades, a essência do budismo. Compreendido isso surge um estado de paz interior, liberdade da ignorância, inveja, orgulho, ódio e outros sentimentos que levam à angústia. 

A Primeira Nobre Verdade é a causa do sofrimento, ou sentimentos ruins, como tristeza, insatisfação, aflição, desilusão, desespero, tédio. A causa de tudo isso é o apego material, pois, como a matéria é impermanente, apegar-se a ela será sempre insatisfatório. A Segunda Nobre Verdade é a constatação da Primeira Nobre Verdade. A Terceira Nobre Verdade revela que há um caminho que leva ao fim da Primeira Nobre Verdade, e a Quarta Nobre Verdade detalha esse caminho, fazendo cessar todo o sofrimento.

Trocando em miúdos, a Primeira Nobre Verdade é a constatação do sofrimento: nascimento, envelhecimento, doença, morte, tristeza, lamentação, dor, angústia, desespero, a união com aquilo que não causa prazer, a separação daquilo que é prazeroso, não obter o que se deseja, o apego, a matéria, tudo isso é sofrimento. 

Sofremos porque não temos algo, porque conseguimos algo e quando o conseguimos temos medo de perdê-lo, porque temos algo que parecia bom, mas agora não é tão bom assim, porque temos algo de que queremos nos livrar e não conseguimos, porque a matéria, as ideias, os conceitos, os pensamentos, são impermanentes. 

A Segunda Nobre Verdade é o conhecimento da origem do sofrimento, que é a busca pelos prazeres sensoriais. A Terceira Nobre Verdade mostra o caminho que prescinde desses prazeres, fazendo-os cessarem, desapareceram. E a Quarta Nobre Verdade detalha esse caminho. Logo, a Nobre Verdade é o caminho que conduz à cessação do sofrimento, o Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta.

É essa a grande disciplina. A melhor vacina contra qualquer virose, pois o medo da morte, as trevas, desaparecem, dando lugar à luz do amor, que é a energia, a sintonia fina da vida

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