Vestida para morrer 3 vezes: Allegra Ceccarelli apresenta vídeoartes e debate feminícidio

Diário Carioca

A atriz e performer carioca Allegra Ceccarelli constrói, ao vivo, um vestido feito de absorventes internos e externos, e desfila por um “tapete” vermelho feito de copos cheios de tinta guache em tom escarlate. O público é convidado a participar ativamente atirando o “sangue” contra o corpo da performer, enquanto soa um áudio com dados estatísticos sobre mulheres assassinadas diariamente no Rio de Janeiro e no Brasil. 

A cena descreve Vestida para morrer 3 vezes, performance interativa da carioca Allegra Ceccarelli, originalmente concebida para ser apresentada ao vivo. Em decorrência da pandemia do coronavírus, a ação foi adaptada para o formato on-line e passou a integrar o projeto que carrega o mesmo nome, também idealizado por Ceccarelli. Reunindo outras três videoartes produzidas por mais duas mulheres e um homem trans, todos artistas representantes de diferentes regiões do Brasil, o programa tem o intuito de diversificar narrativas.

A temática que une estes trabalhos é a mesma: o sangue. O menstrual, o do feminicídio e o “sangue” que a sociedade jorra diariamente sobre a terra (de onde brota a força simbólica do feminino) ao estabelecer uma relação insustentável com o meio ambiente. A mostra será exibida através da plataforma Zoom, com acesso via Sympla, para retirada de ingresso gratuito (https://linktr.ee/rangdart).

O projeto também inclui lives com as artistas e oficinas de arte-ritual performativa ministradas por Ceccarelli, voltadas para ONGs de mulheres cis e trans, homens trans e pessoas não binárias. 

“O patriarcado hegemônico que tira das mulheres o direito à vida é o mesmo que desmata o planeta, bem como o que criou o tabu secular em torno da menstruação. A indústria mundial de absorventes ainda nos vende a ilusão de ‘frescor e liberdade’. Todas estas ações violentas estão, lamentavelmente, conectadas”, afirma Allegra. 

Nos dias 8, 15, 22 e 29 de março, serão exibidos em ambiente digital pequenos cortes dos filmes autorais que compõem o projeto. Nos dias 10 e 11 de abril, será exibida a mostra “3 Sangues: da terra, do útero e do pulso”, com as quatro videoartes produzidas pelos artistas: Allegra Ceccarelli, Kali Saxa, Gael Jardim e Zahy Guajajara. Após a exibição haverá um bate-papo aberto ao público com a idealizadora e os três artistas convidados, através da plataforma Zoom, nos dois dias de mostra.

“Vivo entre o Brasil e a Indonésia há seis anos, depois de ter morado por três em Londres. Em minhas andanças, conheci mulheres de diferentes culturas, que me instigaram a cocriar arte e processos. Esse projeto é fruto da relação e da troca com todas elas. Além de marcar o nascimento da minha companhia de arte-ritual RangdArt**, que une saberes ancestrais de bruxaria às técnicas da tradicional dança-teatro balinesa. A companhia surge da vontade de compartilhar arte, ancestralidade e aprendizados com mulheres do mundo todo. É um espaço aberto a colaborações diversas que dialoguem com o tema”, reflete Ceccarelli.

(**Segundo a tradicional mitologia balinesa, Rangda é a bruxa, a rainha das trevas balinesa, adorada e temida ao mesmo tempo na ilha.)

A performer acredita que a arte é capaz de informar, comunicar, educar, alertar, curar e transformar a sociedade. Seu projeto se propõe a conscientizar sobre o feminicídio e a violência contra a mulher de forma geral, a informar sobre os direitos e leis que as protegem, a valorizar a natureza cíclica e desmistificar tabus em torno do ciclo menstrual. Além de conscientizar sobre os impactos ambientais da menstruação e apontar caminhos sustentáveis para a questão.

O projeto Vestida para morrer 3 vezes é destinado a todo tipo de público acima de 14 anos, em especial adolescentes que estão na fase da descoberta de seus corpos, mulheres (cis e trans), homens trans e pessoas não binárias. É também aberto a homens cis que tenham o interesse de se aprofundar sobre as questões feministas. 

Sobre as quatro videoartes:

Allegra Ceccarelli: Vestida para morrer 3 vezes

Concebido originalmente para ser um solo ao vivo e interativo, a adaptação da performance “Vestida para Morrer 3 Vezes” para o audiovisual, é uma ode a vida, a morte e a mãe natureza.  A artista Allegra Ceccarelli faz um paralelo entre os 3 tipos de sangue derramado: o sangue menstrual, o sangue das mulheres mortas pelo feminicídio e o “sangue invisível”, que a sociedade derrama diariamente sobre o meio ambiente.

Gael Jardim: O Sangue Repudiado 

A videoarte conta de maneira narrativa as perspectivas e vivências de Gael Jardim, homem trans, com seu corpo e sua relação pessoal com a menstruação. Neste projeto, Gael, criador do Canal Transcendendo, traz sua vivência e perspectiva acerca dos tabus sobre a menstruação.

Historicamente, o sangue menstrual foi retratado como mistério ou repulsa ao longo de milhões de anos. A evolução humana possibilitou a evolução científica, medicinal, academicista e a compreensão de que outres gêneres podem entrar no rol de pessoas com útero e que menstruam. As identidades de gênero são para a Idade Nova, o despertar social de pertencimento e o reconhecimento de ser e existir no nosso planeta.

Kali Saxa: As Aventuras de Sandy Sangrenta

Em uma de suas encarnações, Sandy Sangrenta vem a terra para cumprir a missão de destruir tudo que vê pela frente, antes de se tornar uma galinha. Sandy Sangrenta é uma identidade performática menstrual da multiartista Kali Saxa, que atua no campo dos estudos da Estética Menstrual, conceito criado por Kali para abordar artisticamente uma subjetividade menstrual.  

Video 1 – Sandy Sangrenta cozinha raiva

Video 2 – Sandy Sangrenta e a origem

Video 3 – Sandy Sangrenta e livre estou

Zahy Guajajara: Pó de Urucum

Pó de Urucum é uma arte-ritual da artista Zahy Guajajara, que dialoga por meio de imagens e de movimentos, trazendo questões políticas que atravessam o seu corpo indígena. A artista faz uma ressignificação com o sangue derramado dos povos originários através de um ritual para manter vivo quem já morreu e desenterrar os enterrados vivos.

Programação:

Dias 8, 15, 22 e 29/03: compartilhamentos de vídeos curtos dos quatro artistas do projeto, no Instagram @rangdart.

Dia 18 de março, às 20h: Live (via Instagram @rangdart) de Kali Saxa com Allegra Ceccarelli  

Dia 25 de março, às 20h: Live (via Instagram @rangdart) de Gael Jardim com Allegra Ceccarelli

Dia 31 de março, às 12h: Live (via Instagram @rangdart) de Zahy Guajajara com Allegra Ceccarelli

Dias 3 e 4 de abril: Oficina de arte-ritual performativa com Allegra Ceccarelli, voltada para ONGs de mulheres cis e trans, homens trans e pessoas não binárias, no zoom. 

Dia 10/04, às 20:00: Mostra “3 Sangues: da terra, do útero e do pulso” aberta ao público geral, via Zoom, e tamnbém para ONGs de mulheres cis e trans, homens trans, pessoas não binárias e adolescentes, com o intuito de formarmos uma platéia diversificada.

Dia 11/04, às 20:00: Mostra “3 Sangues: da terra, do útero e do pulso”. Sessão com acessibilidade: audiodescrição e tradução em libras.

Minibios das artistas:

Allegra Ceccarelli, 36 anos, é uma multiartista, mestre em artes cênicas pela faculdade de Londres, East 15 Acting School (Essex University). Possui residências artísticas no conservatório teatral GITIS- The Russian University of Theatre and Arts, em Moscou, e no Shakespeare ‘s Globe, em Londres. Atuou em diversas peças e teatros londrinos como; “O Sonho de uma Noite de Verão”, de Shakespeare, no Shakespeare’s Globe; “As Comadres”, de Michel Tremblay, no Arcolla Theatre; entre outros. 

Em 2015, recebeu uma bolsa de estudos para treinar dança-teatro tradicional balinesa, na Universidade ISI Denpasar, em Bali (Indonésia), e, também, com os Gurus Ibu Partini, Ketut Wirtawan e Made Cat, com quem segue desenvolvendo a sua pesquisa. 

Em 2018, Allegra fundou a Baubo Cia Performática, onde produziu arte-ritual feminista. Em 2021, a Cia passou por uma renovação, transformando-se em RangdArt e abrindo espaço para mulheres de diversas culturas, países e backgrounds somarem e criarem arte internacionalmente e digitalmente. 

Allegra é criadora e facilitadora das oficinas “O Corpo Ancestral”, “A Linguagem Corporal da Máscara Balinesa” e “O Ancestral que Manifesta-se”, baseados nos seus estudos sobre a arte e a cultura balinesa, “Prazeres Selvagens: desperte a sua Baubo interior” juntamente com a Argentina Luciana Musumeci, tendo já aplicado a sua metodologia mundialmente. É também idealizadora, ao lado da artista visual Dafne Nass, do Festival MenstruAÇÃO.

Gael Jardim é niteroiense, formou-se em Cinema e Administração pela UNESA, e está há 20 anos no mercado. Por entender-se uma pessoa transexual, dedica todo seu talento artístico para dar maior visibilidade à causa como “ARTIVISTA”, tendo criado, em 2016, o Canal Transcendendo (Instagram, YouTube e Facebook) onde conta sua história pessoal, suas teorias sobre a transexualidade e estudos sobre a existência e evolução humana.

Envolvendo-se em todas as áreas artísticas, já esteve em produções de teatro, TV e cinema. Entre elas, podemos citar os seguintes: “40 Anos Esta Noite – escrito Felipe Cabral” – Espetáculo Teatral; Platô de 21 comerciais para a rede de Drogarias PoP – Exibidos na Rede Record; Produtor dos vídeos clipe “Grana – Mc Xuxú”, “Tanque de Guerra Pintade de Rosa Choque – Indianare Siqueira”. Como artivista, atuou no vídeo clipe “Só você (feat Funk Samba Clube) – Quéops”.

Produziu e dirigiu o longa-metragem “Felisberta – Uma mulher de luta”. No meio jornalístico prestou serviços para o “Grupo Transrevolução, na Casa Nem” (Casa de acolhimento para pessoas Lgbti+ em situação de vulnerabilidade social), cobrindo atos e debates, coordenando o audiovisual do espaço. Atualmente, é colunista semanal da página “Ezatamantchy e Ezatamag”, onde desenvolve assuntos atuais de cunho geral.

Kali Saxa é artista pernambucana residente no Distrito Federal. Mestra em Arte Contemporânea pela Universidade de Brasília, com a orientação da professora doutora Maria Beatriz de Medeiros e graduada em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Pernambuco.

Desde 2017 a artista realiza pesquisas poéticas acerca do sangue menstrual, trabalhando para que a menstruação seja deslocada da lógica da dor, da culpa, do corpo mulher, do medo, da reprodução, da vergonha, do nojo, do trauma, da raiva, da autopunição e que este sangrar, possa deslizar nos sentidos do imaginário de uma Estética Menstrual. Durante a quarentena Kali iniciou o projeto virtual Sangrenta, dedicado a divulgar trabalhos menstruais.

O trabalho autoral de Kali e a Estética Menstrual se aplica a partir do humor, da linguagem do Camp, Kitsch, Pop, Brega, Nonsense, Grotesco ou no que a artista nomeia de Arte Pós-Traumátika.

Zahy Guajajara nasceu na aldeia colônia, na reserva indígena Cana-Brava no Maranhão, região nordeste do Brasil. É do povo Tenetehar-Guajajara, se comunica em Ze’eng eté, dialeto do tronco tupi-guarani, sua primeira língua e em Português.

É atriz e ativista pelas causas indígenas, com experiência em TV, Cinema e Teatro. Participou da série “Dois Irmãos”, da TV Globo, com direção de Luís Fernando Carvalho.

No Cinema, fez “Não devore meu coração”, de Felipe Bragança. Atualmente, participa como co-diretora de uma nova adaptação de Macunaíma para o cinema, em parceria com Bragança.

No teatro, fez “Macunaíma – Uma Rapsódia Musical”, como atriz convidada pela companhia Barca dos Corações Partidos, com direção de Bia Lessa.

Também foi atriz convidada das peças “Os insensatos” e “Guerra em Iperoig”, com a companhia Mundana e direção coletiva.

Atualmente, está em processo com a peça “Como devo chorá-los?”. Direção: Marina Vianna.

Ficha Técnica:

Idealização: Allegra Ceccarelli e RangdArt

Direção de Projeto: Allegra Ceccarelli

Performers Criadores: Allegra Ceccarelli, Gael Jardim, Kali Saxa e Zahy Guajajara

Filmagens: Brunela Behring, Felipe Rocha, Tonhão Nunes e Zahy Guajajara

Edição: João Maia P e Kali Saxa

Sonoplastia: Valesuchi

Direção de Arte e Figurino: Marcela Petrus

Coordenação de Produção: Allegra Ceccarelli

Produção Executiva: Tatjana Vereza

Marketing Digital: Roberta Labanca

Assessoria de Imprensa: Mônica Villela 

Tradução em Libras: Claudia Jacob

Audio Descrição: Virgínia Maria Barcellos e Felipe Monteiro 

Administração Financeira: Aline Carrocino e Cacau Gondomar 

O projeto “Vestida para Morrer 3 Vezes” foi contemplado no edital Retomada Cultural RJ, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Aldir Blanc.

Serviço:

Vestida para morrer 3 vezes | Mostra “3 Sangues: da terra, do útero e do pulso”

Quando: 8, 15, 18, 22, 25, 29 e 31 de março + 3, 4, 10 e 11 de abril de 2021

Plataformas digitais:

A mostra e as oficinas do projeto serão transmitidas via Zoom, com acesso liberado através do Sympla, para retirada de ingresso gratuito. Link: https://linktr.ee/rangdart

Instagram do projeto: @rangdart

Share This Article
Follow:
Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca