No próximo dia 21 de abril, quando se completam 61 anos de sua fundação, Brasília será homenageada pelo pintor mineiro Carlos Bracher. Trata-se de uma celebração da cidade que o encantou em sua primeira visita, nos anos 60 – e cuja arquitetura e monumentos ele retrataria em suas pinturas quarenta anos mais tarde. Como parte da programação do Ateliê Casa Bracher, a live “Bracher/Brasília” exibirá o documentário “Âncoras aos céus”, dirigido por Blima Bracher, que registrou de perto a jornada do artista em sua temporada brasiliense. Em seguida, Silvestre Gorgulho (jornalista e ex-secretário de Estado de Cultura de Brasília) conversa ao vivo com o artista sobre sua forte ligação com a capital federal. O evento começa às 19h, com transmissão pelos canais oficiais (YouTube, Instagram e Facebook) do Ateliê Casa Bracher. O Ateliê Casa Bracher tem patrocínio do SESI.
Carlos Bracher recorda que o desejo de pintar Brasília foi despertado em 1962, quando viajou para a cidade pela primeira vez, aos 21 anos. “Fiquei maravilhado com aquela cidade nova, diferente de tudo que havia visto antes. Os palácios pousando num só ponto, tudo elevado como que flutuando, a ausência de cruzamentos de carros. Aquilo me deu muita vontade de pintar.” Entre 2006 e 2007, Bracher colocou o sonho em prática e dedicou uma série à capital federal, em uma homenagem a Juscelino Kubistchek (presidente do Brasil à época da fundação da cidade) e Oscar Niemeyer, arquiteto responsável pelo projeto ao lado de Lúcio Costa.
Os 66 quadros da série “Brasília” foram pintados por Bracher ao ar livre, na frente de monumentos e no meio de praças, com o vaivém das pessoas em volta. Em suas telas, estão lugares emblemáticos como Congresso Nacional, Catedral de Brasília, Ponte Juscelino Kubitschek, Praça dos Três Poderes, Memorial JK, Esplanada dos Ministérios, Supremo Tribunal Federal e Embaixada da Itália. A série também traz 30 gravuras feitas, posteriormente, no Castelinho dos Bracher (Juiz de Fora).
“Sou um pintor de rua, assim como os impressionistas que realizavam suas obras fora dos ateliês. Pretendi que em Brasília fosse dessa maneira, pintada ao vivo, junto da natureza, da arquitetura, diante das árvores e das nuvens. Há um outro componente que são as pessoas, que chegam e vão, se integrando àquele momento”, diz Bracher.
Diretora de “Âncoras ao Céu”, a jornalista Blima Bracher, filha de Bracher, recorda que a série dedicada à Brasília marcou o início de uma parceria com seu pai. “A documentação do trabalho do meu pai começou ali. Eu havia sido repórter de TV durante dez anos e tinha alguma experiência com a câmera. Como temos muita intimidade, consegui ângulos que seriam difíceis para outro cinegrafista. Fiz experimentações, tentei gravar as sombras, a palheta, o suor. É um filme de amor”, conta Blima, que teve o documentário exibido no Canal Brasil e premiado na CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto.
Parte das obras da série “Brasília” podem ser vistas no tour virtual do projeto Ateliê Casa Bracher (www.ateliecasabracher.com) onde, desde dezembro, mais de 150 obras da coleção pessoal do casal de artistas Carlos e Fani Bracher estão disponíveis online. O acervo fica localizado anexo ao casarão onde ambos residem há cinco décadas, em Ouro Preto. Em homenagem ao lançamento do projeto, uma série de eventos com a participação dos artistas e de convidados acontecerá no site e nas redes sociais do Ateliê durante este ano.
O TOUR VIRTUAL
Através de tour virtual no Ateliê Casa Bracher (www.ateliecasabracher.com), o público tem uma visualização em 360° dos ambientes do sobrado colonial, construído há mais de 200 anos, localizado no centro histórico de Ouro Preto (Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade) e pode apreciar, em detalhes, mais de 150 obras do casal, que traçam a trajetória de cada um desde o início da carreira. Ao clicar nas obras, é possível acessar conteúdos variados – fotos, vídeos e textos informativos.
No térreo da casa, estão obras de Carlos Bracher, artista brasileiro que mais fez mostras individuais fora do país. Foram selecionadas 38 telas representativas de todas as suas fases: paisagens; retratos (os de Pino Solanas, Affonso Romano de Sant’anna e Leonardo Boff são alguns deles); autorretratos (que vão desde o início da carreira até os mais recentes, feitos durante o confinamento); além de pinturas com motivos marinhos e flores.
O acervo conta ainda com obras representativas de suas renomadas séries temáticas: “Homenagem a Van Gogh” (1990), feita no centenário da morte do pintor holandês com exposições nas Américas, Europa e Ásia; “Do Ouro ao Aço” (1992), sobre a siderurgia em Minas Gerais; “Brasília” (2006/2007), homenagem a Juscelino Kubistchek e Niemeyer; “Petrobras” (2012), uma ótica artística sobre o universo industrial do petróleo; e “Tributo a Aleijadinho” (2014), releitura contemporânea sobre a obra do grande mestre do Barroco em homenagem aos 200 anos de sua morte.
No segundo andar e no subsolo, localizam-se as obras de Fani Bracher das quais 85 delas serão exibidas no tour virtual. São óleos, objetos, mobiliário, panos, bordados, colchas, desenhos, figurinos de teatro, além de suas fases temáticas: “Paisagens”, “Mineração”, “Flores”, “Ossos”, “Pedras” e “Setas”. Também estão os pigmentos in natura usados na série “De Pigmentos e Pedras”, criada durante a pandemia.
Na reserva técnica, estão localizadas mais de 450 obras de Carlos Bracher. O acervo é coordenado pela jornalista e documentarista Blima Bracher, filha do casal, que há uma década se dedica à organização, catalogação e preservação da obra dos artistas. Nesse sentido, o projeto Ateliê Casa Bracher representa não só um canal para a difusão artística como também ferramenta para a continuidade da documentação digital deste valioso arquivo que, pela primeira vez, está sendo disponibilizado na internet.
Ao longo de 2021, o site terá uma programação com atividades artísticas e bate-papos ao vivo, sempre uma vez por mês. Entre os eventos com Carlos Bracher, estão previstos, além da pintura do retrato ao vivo, palestras sobre arte e pintura, exibição dos filmes “Âncoras aos céus” e “Ouro Preto olhar poético” (ambos de Blima Bracher), seguidos de conversa com o pintor. Fani Bracher falará sobre seu processo criativo e como foram feitas as pinturas dos grandes painéis em afresco, com 2km de extensão, em Piau, na Zona da Mata mineira.
CARLOS E FANI BRACHER
Carlos Bracher pintando Brasília, 2007 (foto: Sérgio Pereira da Silva)Mineiro de Juiz de Fora e descendente de suíços, Carlos Bracher nasceem 1940,fruto de uma família de artistas. Autodidata, fez sua primeira exposição na cidade natal em 1960, com seus irmãos Nívea e Décio, também pintores. Em 1964, em temporada de viagens para estudos artísticos com Nívea, Carlos descobre Ouro Preto, cidade que elege para viver e retratar. Com apenas 27 anos, ganha o disputado “Prêmio de Viagem ao Exterior” – concedido pelo Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e considerado láurea máxima a um pintor brasileiro. Casa-se com Fani Bracher e partem juntos para dois anos de residência na Europa. Em viagens de estudos artísticos vão a Lisboa, São Petersburgo e Moscou.
Em 1980, Bracher foi um dos escolhidos para o importante “Prêmio Hilton de Pintura” como um dos artistas que mais se destacaram na década de 70 (ao lado de João Câmara, Siron Franco, Tomie Ohtake e outros). Intitulada “Pintura Sempre” e com curadoria de Olívio Tavares de Araújo, sua primeira retrospectiva ocorreu em 1989, ocupando em temporadas, significativos espaços de cultura em sete capitais do país. Realizou grandes séries de pinturas: “Do Ouro ao Aço”, “Brasília”, “Petrobras” e “Tributo a Aleijadinho”.
Entre 2014, a mostra “Bracher – Pintura & Permanência” percorreu as quatro unidades do CCBB (Rio, São Paulo, Brasília e BH). No CCBB de Belo Horizonte, a mostra bateu recorde de público de um artista nacional, recebendo ao todo quase 600 mil visitantes. A exposição foi contemplada com Destaque Especial no Prêmio Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) – 2015. Sobre seu trabalho já foram publicados sete livros e realizados dezenas de filmes e documentários. Bracher é um dos artistas brasileiros mais citados em publicações de pintura no país.
Fani Bracher nasceu na Fazenda Experimental em Coronel Pacheco, Minas Gerais. Graduada em jornalismo pela UFJF. Em 1968 casa-se com o artista Carlos Bracher e juntos viajam para a Europa, onde residem por dois anos. Em Portugal, fez cursos de história da arte com os críticos José Augusto França e Mário Gonçalves. Frequentou o atelier do pintor Almada Negreiros. Na cidade do Porto, conheceu a obra de Amadeu de Souza Cardoso. Depois de Portugal, partiu em viagem de estudos pelos Museus da Dinamarca, Suécia, Finlândia, Rússia, Alemanha, Holanda, Bélgica e Inglaterra.
Fixou residência em Paris de agosto de 1969 a dezembro de 1970. Ainda na capital francesa, participou ativamente do “Centro de Artes para estudantes e artistas americanos”. De volta ao Brasil, estabeleceu-se em Ouro Preto, onde começa a pintar em 1973. A partir desta data, participou de várias exposições em museus, centros culturais e galerias de arte no Brasil e no Japão. Realizou 30 exposições individuais em cidades brasileiras e também no Uruguai, Argentina, Peru, Colômbia, Guiana Francesa, Jamaica e França. Sobre sua obra escreveram vários críticos, como Celma Alvim, Rubem Braga, Wilson Coutinho, Roberto Pontual, George Racs, Ferreira Gullar, Flávio de Aquino, Walmir Ayala, Walter Sebastião, Marcelo Castilho Avellar, Frederico Moraes e Ângelo Oswaldo de Araújo Santos.
Ganhou 14 prêmios de pintura e tem seus trabalhos incluídos em 34 livros de arte. O livro “Fani Bracher”, de Frederico e Ronald Polito (editora Salamandra Consultoria e Editora SA) obteve o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o V Prêmio Fernando Pini de Excelência Gráfica, como “Melhor Livro de Arte”. Tem ainda publicado o livro “Fani Bracher”, (C/Arte Editora), de autoria de José Alberto Pinho Neves.
FICHA TÉCNICA ATELIÊ CASA BRACHER
Artistas: Carlos Bracher e Fani Bracher
Coordenação Geral: Larissa Bracher | Sergio Saboya | Silvio Batistela
Coordenação ACB, pesquisa, arquivo, acervo, curadoria, vídeos, produção executiva de eventos e textos do site: Blima Bracher
Assessoria de Imprensa: Paula Catunda | Fernanda Lacombe
Tour Virtual Hipermídia: Ricardo Macedo e Cristiane Macedo
Coordenação site e tour virtual: Carlos Chapéu
Sound designer e trilha sonora: Marcello H .
Tradução: Aline Casagrande (inglês e espanhol) | Roberta Arantes (inglês)
Social media: THD Digital
Coordenação financeira e administrativa: Letícia Nápole
Contabilidade: Contabilidade Teixeira e Carvalho CTC
Anúncios publicitários: Nea Palma Comunicações
Teasers dos eventos: André Sutton
Fotos: Acervo pessoal, Blima Bracher, Edmar Luciano, Ricardo Correia de Araujo, Larissa Bracher, Rômulo Fialdini, Miguel Aun, Pollyanna Assis, Pirex, Dimas Guedes, Zélia Gattai, Eduardo Tropia, Sérgio Pereira Silva, Sérgio Bara.
Ateliê Casa Bracher
www.ateliecasabracher.com
Evento Bracher/Brasília
Dia 21 de abril (quarta), às 19h. Gratuito.
Exibição do documentário “Âncoras aos céus”.
Direção e câmera: Blima Bracher. Edição: André Sutton e Kabeh Ferreira.
Duração: 25 min. Classificação: Livre.
Bate-papo ao vivo com artista Carlos Bracher.
Mediação: Silvestre Gorgulho
Transmissão nos canais do Ateliê Casa Bracher:
Instagram e Facebook: @ateliecasabracher
YouTube: bit.ly/ateliecasabracher