Sob pressão de entidades, decisão sobre entrada de trigo transgênico no país é adiada

Diário Carioca

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), ligada ao Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação, decidiu adiar a deliberação sobre a importação da Argentina de trigo transgênico, que estava prevista na pauta da reunião ordinária da comissão desta quinta-feira (10). A previsão é que a análise seja feita em novo encontro agendado para 5 de agosto.

Segundo entidades de pesquisa ambiental e de saúde brasileiras e internacionais, as consequências do consumo humano do trigo transgênico e dos agrotóxicos utilizados em seu cultivo são potencialmente catastróficas e ainda não de todo conhecidas. A  Associação Brasileira da Indústria do Trigo estima que cada brasileiro consuma, em média, mais de 40 quilos do grão ao ano.

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“O glufosinato de amônio, presente nos agrotóxicos utilizados no cultivo do trigo transgênico, pode causar alguns tipos de câncer. Também pode afetar o sistema reprodutivo, e é neurotóxico. Muitos riscos para um produto tão importante na alimentação humana”, afirmou ao Brasil de Fato o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, representante do ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio entre 2008 e 2014 e colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida.

“Além disso, são muito raros os estudos de impactos deste veneno sobre organismos aquáticos, onde os problemas tendem a se magnificar, aumentando de concentração na cadeia alimentar: o (animal) maior come o menor, e os riscos crescem, até que chega a vez do pescador”, alerta.

Segundo divulgou o CTNBio, o adiamento é para solicitar informações à empresa multinacional Bioceres, entidade que requer a liberação do trigo no Brasil.

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“O fato de a CTNBio solicitar informações adicionais da empresa requerente demonstra a importância do alerta de cientistas, pesquisadores, consumidores e organizações, que evidenciaram as incongruências apresentadas no dossiê (feito pela Bioceres e apresentado à CTNBio em seu pedido) e na audiência pública realizada em outubro de 2020”, aponta a assessora jurídica da Terra de Direitos e integrante da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, Naiara Bittencourt.

Veneno no pão

O agrotóxico glufosinato de amônio é classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como potencialmente cancerígeno. A modificação genética no trigo foi realizada exatamente para tornar a planta resistente ao produto, proibido na Europa e na maioria dos países desenvolvidos.

“[O glufosinato de amônio] é um herbicida especialmente danoso para plantas de folha estreita, como trigo, arroz e diversas gramíneas. O trigo tolerante não vai morrer, o veneno vai circular dentro dele, e alguma parte irá parar no grão destinado ao consumo humano”, explicou Melgarejo.

Edição: Vinícius Segalla


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