O ano de 2021 trouxe mais uma ideia de criação de uma liga para o futebol brasileiro para tirar a organização do principal torneio nacional de clubes da CBF. O conceito não é novo e países como Espanha, Inglaterra, Alemanha e Itália têm isso há tempos. Mas qual é o verdadeiro modelo que os clubes devem buscar para fazer essa liga ser bem-sucedida?
Afinal, cinco anos antes da Premier League dar seu pontapé inicial com um planejamento e noções que conquistariam o mundo e aumentariam as receitas de seus clubes múltiplas vezes, o Brasil teve o Clube dos 13 e a Copa União, em 1987, com um formato similar, porém uma briga interna deu fim à tentativa de organização do futebol entre os clubes.
Qualquer iniciativa atual que não integrar todos os clubes e pensar de forma coletiva irá fracassar. Há dinheiro suficiente para todos com as grandes somas que advém de direitos televisivos, parcerias e fontes de renda das mais diversas. A paixão do torcedor é garantida e isso pode trazer renda a cada jogo assistido na TV, ingresso comprado, produto oficial adquirido ou até um cadastro no bet365 para dar palpites nos jogos do Brasileirão. Você não está confiando? Já há exemplos disso em um país que tem ligas muito avançadas.
Um quê de Premier League com NBA
A Premier League sempre será citada como exemplo de liga de futebol e há excelentes razões para isso. O dinheiro gerado para cada clube é impressionante e apesar de termos castas, há uma mudança de forças rolando, com times ascendendo e bichos-papões de poucos anos atrás que não são mais os mesmos.
Como há recursos para todos e a divisão dos direitos de transmissão obedecem a critérios esportivos, um time como o Leicester pôde passar de modesto para campeão inglês e dono de seguidas boas campanhas porque tem dinheiro para contratar e manter uma estrutura organizada.
Aqui só pode acontecer algo com um time como o Bragantino, por exemplo, por causa do patrocínio da marca de energéticos Red Bull, porque os valores dos direitos de transmissão do clube estão muito, mas muito longe dos chamados times grandes.
Por isso a preocupação com a divisão do dinheiro deve ser a maior em um novo contexto de liga.
A NBA nesse sentido traz uma lição ainda maior que a Premier League. Todos as franquias têm um dono e não importa que o Los Angeles Lakers tenha décadas de história, milhões de torcedores ao redor do mundo e o maior número de títulos (junto com o Boston Celtics). O dinheiro dos direitos de transmissão, contrato de material esportivo e outras parcerias é dividido de forma igual (1/30 para cada equipe) com o Charlotte Hornets, New Orleans Pelicans, Utah Jazz e Denver Nuggets, times de mercados muito menores.
E tem mais: todos eles precisam respeitar um teto salarial – só pode ser ultrapassado pagando uma multa bem pesada, que iguala também o salário das grandes estrelas e coloca um limite no que as equipes podem pagá-las.
A questão das apostas, abordada no começo do texto, é mais um exemplo do coletivo ser melhor que um time só. A liga decidiu que permitiria parcerias entre casas de apostas e cassinos com as franquias, mas pediu uma porcentagem dos ganhos para liberar essa união. As empresas de jogo, claro, aceitaram.
Não estamos falando de um esporte na União Soviética e sim no berço do capitalismo, os Estados Unidos.
Essa divisão rígida cria uma liga em que a pior equipe pode ser competitiva e vencer o título em poucos anos, gerando maior interesse, equilíbrio e diversão no fim das contas. Qual é a graça da liga francesa, alemã e italiana se, na maioria dos anos, o vencedor será o mesmo ou sairá de um pequeno grupo de “iluminados”?
Esperar que o mesmo aconteça no Brasil é loucura, afinal o que acabou com o Clube dos 13 foi o Flamengo e o Corinthians quererem receber ainda mais do que recebiam em comparação com outros gigantes do futebol brasileiro. Mas se o caminho de negociar de forma coletiva e dividir com base no resultado em campo, não quem supostamente é maior, for adotado, já há um claro avanço. Para os torcedores resta torcer pelo melhor.