Segundo trabalho do Onda Coletivo, o espetáculo “A Meia-Luz” aborda o tema do gaslighting, termo criado para designar uma forma de manipulação em que informações são distorcidas de modo a favorecer o abusador e fazer com que a vítima duvide de sua própria sanidade mental. Aliás, a peça é mais uma realização da bem-estabelecimento parceria com a Leoninna, no ano passado com o espetáculo “Alguma Coisa Entre a Vida e a Morte”, dirigido por Aline Lopesz.
As apresentações acontecerão nos dias 21 e 22 de agosto, sempre às 20 h, na plataforma Zoom. Os ingressos já se encontram disponíveis na Sympla.
O termo em inglês ‘gas light’ serve para designar lampião ou iluminação a gás, muito comum no início do século passado. Já a palavra gaslighting é uma referência ao filme Gas Light , dirigido por George Cukor e adaptado da peça homônima de Patrick Hamilton, que aqui no Brasil denominado título “À Meia-Luz ”.
Na trama, um personagem vivida pela atriz Ingrid Bergman é a todo momento enganada por seu marido de modo a convencê-la que sua percepção da realidade estava equivocada. Em dado momento ela percebe mudanças na intensidade da iluminação a gás da casa e ouve o som de passos no andar de cima, mas é convencida por seu marido de que o estaria apenas imaginando. Ao final, sabemos que ele estava buscando uma fortuna escondida no sótão e por isso manipulava a esposa para que não o descobrisse. Assim, uma expressão gaslighting foi criada e até mesmo incorporada como um termo clínico para designar este tipo de abuso psicológico que põe em verificar a sanidade da vítima.
Mas, ao contrário do título do filme, o do espetáculo do Onda Coletivo abre mão da crase, e portanto da preposição, para focar no substantivo: a meia-luz. Aquilo que nos ilumina também pode nos cegar? Um copo está meio cheio ou meio vazio? Longe de ser uma adaptação da obra anterior, “A Meia-Luz” é uma criação coletiva em que uma arquiteta, uma analista de marketing, uma programadora e um treinador espiritual se necessário nesse lusco-fusco, apoiando e manipulando um ao outro simultaneamente em situações inusitadas, mas carregadas de um realismo que servem como uma lente de uma lupa sobre as intenções de cada um.
Além disso, a iluminação também é um elemento fundamental para a construção do espetáculo, de modo que o jogo de luz e sombra vai aos poucos revelando traços da personalidade e da relação de cada uma das quatro personagens.
Concebido e encenado de modo remoto e virtual, “A Meia-Luz” c transmitido diretamente da casa de cada um e conta ainda com o suporte técnico de Ana Golodne, também do Rio de Janeiro.
O gaslighting, também chamado de ‘luz a gás’ ou ‘luz do gás’ em Portugal e ‘luz de gás’ em espanhol, é um tipo de violência próprio de abusivos e não raro costuma estar associado o à violência de gênero, embora possa ocorrer em qualquer relação. Na maioria das vezes começa de forma silenciosa e imperceptível, mas vai ganhando força ao minar a autoconfiança e autoestima da vítima, podendo ocasionar sepulturas sequelas emocionais.