Os adolescentes possuem riscos semelhantes de adoecimento e óbito pela covid-19 quando comparados aos jovens adultos. Estudo de pesquisadores da UFMG, demonstrou que o número de óbitos em menores de 18 anos no Brasil foi sete vezes maior do que em outros países, como o Reino Unido.
Existem evidências de que as vacinas previnem a transmissão do SARS-CoV-2 (vírus que causa a covid-19). Um estudo feito no Reino Unido mostrou que adultos que se infectaram três semanas ou mais após receber a primeira dose da vacina da Pfizer-BioNTech ou da AstraZeneca, eram 38 a 49% menos prováveis de transmitir o vírus para aqueles que moravam na própria casa e não estavam vacinados.
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Vacinar adolescentes, portanto, representaria uma provável diminuição na transmissão do vírus nos ambientes que eles frequentam, como suas casas, escolas e comunidade. A vacinação desse grupo também possibilitaria redução nos riscos de surtos e a necessidade de isolamento de contatos no ambiente escolar.
Vacinar adolescentes protege toda a população
Uma carta publicada por famílias e cientistas britânicos, observando o que está acontecendo nas escolas, recomendou fortemente que se ofereça vacinas a todas as crianças acima de 12 anos, com distribuição nas escolas para maximizar o acesso e a adesão.
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É preocupante a divulgação da aplicação da terceira dose em idosos sem nenhuma notícia da vacinação de adolescentes sem comorbidades em BH. É uma decisão que contraria o que temos observado no mundo e em outras capitais brasileiras, não sustentada pela literatura, nem pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Adolescentes possuem riscos semelhantes de adoecimento e óbito pela covid-19 quando comparados aos jovens adultos / Rodrigo Buendia / AFP
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A argumentação de aumento da proporção de mortes em idosos parece um problema de interpretação estatística. Como explica o pesquisador Mauricio Nogueira, livre docente e virologista da USP, esse efeito é esperado à medida que se amplia a cobertura vacinal da população adulta. Com a população totalmente vacinada, retorna-se à distribuição proporcional dos óbitos observada no início, sabidamente maior em idosos. Se não houve aumento do número absoluto de mortes, isso não significa necessariamente falha da vacina.
Recomendar a terceira dose significa uma mudança significativa no planejamento da vacinação, uma mudança de regime de doses. E provavelmente resultará em ampliar a recomendação para profissionais de saúde, educação, etc.., podendo resultar em adiamento indefinido da vacinação de crianças e adolescentes.
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Saúde dos adolescentes após mais de um ano de escolas fechadas
Como pediatras, trabalhamos durante toda a pandemia atendendo crianças e adolescentes. Infelizmente, temos diagnosticado diversos adolescentes com grave comprometimento da saúde mental. Sentimento de insegurança, incerteza frente ao futuro, com o agravamento da crise econômica e política, associados ao isolamento social e ao adoecimento e óbito de amigos e familiares os tem levado a transtornos de depressão e ansiedades severos.
Vacinar os adolescentes, em conjunto com a aplicação das medidas sanitárias, permitiria uma volta às aulas com maior segurança e um encontro com os pares, reduzindo sentimentos de ansiedade, insegurança e tristeza.
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Crianças e adolescentes não vacinados podem se tornar o nicho de novas variantes e poderão surgir inclusive variantes mais adaptadas e nocivas a eles. Achamos temeroso esperar a situação se agravar para protegê-los.
Por fim, na Nota Técnica do Ministério da Saúde, de 2 de setembro, é explicita a recomendação de vacinar a população de 12 a 17 anos. Não encontramos referências científicas para iniciar a terceira dose, antes de terminar a primeira dose de toda a população brasileira.
A Nota Técnica ainda diz que “há a necessidade de vacinação de 85% ou mais da população para redução considerável da doença, a depender da efetividade da vacina, em prevenir a transmissão”. Isso certamente inclui a população de 12 a 17 anos.
Relata ainda que 50% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por covid-19 e 70% dos óbitos por covid-19 na população de 15 a 19 anos possuem ao menos um fator de risco. Olhando pelo lado inverso: metade da SRAG e 30% dos óbitos ocorreram em adolescentes sem comorbidades.
Por todos estes motivos defendemos que a vacinação dos adolescentes com e sem comorbidades, deve ser uma prioridade, enquanto política de saúde coletiva!
*Cristina Gonçalves Alvim é professora do Departamento de Pediatria da UFMG.
**Aline Almeida Bentes, médica da Rede de Médicas e Médicos Populares, Profa Departamento de Pediatria da UFMG.
***Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Elis Almeida