Eduard Ribas i Admetlla.
Cidade do México, 22 out (EFE).- Após dois anos de sua fuga para o México denunciando ter sido vítima de um golpe de Estado, o ex-presidente da Bolívia Evo Morales retornou ao país que, segundo ele, “salvou sua vida” ao lhe conceder asilo, e foi abraçado pela esquerda latino-americana, que o saudou como um “líder histórico”.
Morales é o convidado principal de um seminário internacional de mais de 100 partidos socialistas do continente, realizado na capital do México pelo Partido do Trabalho, da base do governo de Andrés Manuel López Obrador, que deu asilo à Bolívia em 2019.
“A direita fascista lamenta não acabar com minha vida, por isso digo que o México ajudou a salvar nossas vidas e também nos ajudou a salvar a democracia”, disse Evo Morales nesta sexta-feira em uma entrevista coletiva para agradecer publicamente pelo asilo.
O político boliviano chegou ao México na quarta-feira e se reuniu com várias autoridades mexicanas, além de ter sido recebido pelo fórum dos partidos latino-americanos.
“Nosso reconhecimento de Evo Morales como um líder histórico exemplar para todos os povos da América Latina e do Caribe e, naturalmente, de todo o mundo”, disse o senador Alejandro González, do Partido do Trabalho, na mesma coletiva de imprensa.
AGRADECIMENTO AO MÉXICO.
No dia anterior, Evo Morales foi recebido no Palácio Nacional pelo presidente mexicano López Obrador, que se referiu ao boliviano como “o mais autêntico representante dos povos originais da América Latina e do Caribe”.
A reunião tinha o objetivo de acabar com os rumores de um suposto desacordo entre os dois líderes depois que Morales deixou o México sem aviso prévio, apenas um mês após ter recebido asilo naquele país.
“Estamos aqui, dois anos após o golpe de Estado, nesta conferência, para agradecer ao povo mexicano e ao irmão presidente do México (López Obrador) por salvar minha vida, em nome do meu povo, em nome dos movimentos sociais, em meu próprio nome e diante de vocês”, disse.
A Bolívia mergulhou em uma crise social e política após as eleições de 20 de outubro de 2019, que foram anuladas devido a alegações de fraude eleitoral em favor do então presidente, Evo Morales.
Após um relatório da Organização dos Estados Americanos (OEA) ser divulgado na madrugada de 10 de novembro de 2019 apontando fraude no pleito, Morales primeiro anunciou a convocação de novas eleições, e horas depois renunciou à presidência, alegando ser vítima de um suposto golpe.
Em seu último livro, López Obrador afirmou que supostos soldados bolivianos tentaram abater o avião no qual Morales decolou em Cochabamba rumo ao México com um foguete, algo sobre o qual o político disse não ter conhecimento até agora.
Morales ficou apenas um mês no México, mudando-se para a Argentina após a posse de Alberto Fernández como presidente desse país, e por fim retornou à Bolívia depois que seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS), venceu as eleições de outubro de 2020 com o candidato Luis Arce.
MANIFESTAÇÕES DE APOIO.
Embora Evo Morales não tenha dado detalhes de sua reunião com López Obrador dois anos após seu asilo, a política de nacionalização do lítio, para a qual o México recebeu conselhos da Bolívia, provavelmente esteve sobre a mesa.
Morales apoiou nesta sexta-feira a iniciativa de López Obrador de não distribuir concessões para a exploração deste precioso metal, afirmando que “a indústria do lítio deveria estar nas mãos dos Estados, não do setor privado”.
Antes da coletiva de imprensa, Morales tomou café da manhã com a prefeita da Cidade do México, Claudia Sheinbaum.
“Temos muita admiração por Evo Morales e pelo que ele conseguiu na Bolívia”, disse a prefeita, que é do mesmo partido de López Obrador.
O ministro das Relações Exteriores mexicano, Marcelo Ebrard, que disputa com Sheinbaum o posto de candidato do partido governista à presidência do México para as eleições de 2024, foi fotografado na quarta-feira com Evo Morales, a quem ofereceu um “abraço de solidariedade” do povo mexicano.
O partido colombiano Comunes, que surgiu da desmobilização das Farc, também participou do fórum dos partidos de esquerda. O ex-guerrilheiro Rodrigo Granda viajou em sua delegação, mas retornou à Colômbia devido à possibilidade de ser preso e extraditado para o Paraguai. EFE