Falta de supervisão é possível causa de tiro mortal disparado por Baldwin

Diário Carioca

Javier Romualdo.

Los Angeles (EUA), 25 out (EFE).- As autoridades do condado de Santa Fé, no estado do Novo México (EUA), estão investigando se a falta de supervisão por parte da armeira do filme “Rust” e do assistente de direção causou o acidente no qual Alec Baldwin matou a diretora de fotografia Halyna Hutchins.

Declarações de integrantes da equipe que trabalhava no set do longa produzido e estrelado por Baldwin descrevem um ambiente de trabalho precário, no qual protestos se acumulavam e protocolos de segurança supostamente não eram estritamente seguidos.

De acordo com depoimentos dados por Baldwin e o diretor do filme, Joel Souza e que estão em posse do tribunal do condado de Santa Fé, o diretor assistente Dave Halls entregou a arma a Baldwin ao grito de “pistola fria”, que no jargão de Hollywood se refere a uma arma sem munição real.

TRANSCURSO DOS ACONTECIMENTOS: TRÊS PESSOAS MANIPULARAM A ARMA.

Após receber a arma, Baldwin disparou em direção à lente da câmera operada por Hutchins, sem saber que ela continha munição real em vez de um cartucho de festim.

Entretanto, embora Halls fosse responsável por entregar a arma ao ator, a produção tinha uma armeira profissional que deveria supervisionar todas as armas no set.

A investigação agora se concentra em Hannah Gutierrez Reed, uma mulher de 24 anos que estava trabalhando em seu segundo filme como armeira e que tinha três armas a seu cargo naquele dia de filmagem, um número maior do que o habitual por profissional do ramo devido aos protocolos de saúde contra a covid-19.

De acordo com o transcurso dos eventos, a equipe estava se preparando para filmar a cena na quinta-feira de manhã, embora tenha deixado o set para almoçar por volta do meio-dia.

Durante essa preparação, a armeira deixou três pistolas cenográficas em um carro estacionado fora da igreja do rancho Bonanza Creek, onde a produção foi montada.

O diretor do longa disse às autoridades que não sabia se as armas foram revisadas após o retorno do intervalo.

Foi nesse momento que Baldwin ensaiou uma cena e puxou o gatilho, acertando Hutchins no estômago e ferindo Souza, que estava atrás dela, no ombro.

PRODUÇÃO DE BAIXO ORÇAMENTO COM RECLAMAÇÕES ANTERIORES.

Embora o escritório do Xerife do condado ainda não tenha formalizado uma denúncia, seus integrantes estão inspecionando o set e não descartam a possibilidade de que alguém da equipe de gravação tenha trazido sua própria munição.

Desde a tragédia, surgiram mais detalhes sobre as condições do set, que foram descritas como precárias e inseguras por vários funcionários dias antes do acidente.

De acordo com o jornal “Los Angeles Times”, ao menos seis assistentes e operadores de câmera se demitiram em bloco no dia do acidente fatal em protesto contra as condições de trabalho e má remuneração.

Dois dias antes do tiro fatal, Lane Luper, assistente de câmera filiado ao sindicato Aliança Internacional de Funcionários de Palcos Teatrais (Iatse), descreveu condições de filmagem precárias em uma série de comentários no Facebook revisados pela Efe.

“Neste momento, estou lutando para que minha equipe, neste filme, tenha quartos de hotel quando demoramos ou estamos cansados demais para dirigir uma hora de volta desde o local das filmagens até Albuquerque. Ou eles dizem não ou nos oferecem um motel lixo de beira de estrada que é usado como abrigo para mendigos”, escreveu.

Luper publicou os comentários em resposta a um vídeo no qual Baldwin incentivou o sindicato a convocar uma greve enquanto negociava um acordo com chefes de estúdios de Hollywood.

“Estou literalmente na produção do Novo México, com ele e os produtores, e estão tratando a equipe local como merda de cachorro”, afirmou, antes de acrescentar que eles “sequer” tinham pagado o que estava combinado.

Além disso, o eletricista chefe do filme, Serge Svetnoy, acusou os produtores de cortar custos e colocar em risco a segurança dos funcionários.

“Para economizar um centavo, às vezes são contratadas pessoas que não são totalmente qualificadas para o trabalho complicado e perigoso, e as vidas de outras pessoas próximas são colocadas em risco”, disse ele em um post no Facebook no último domingo.

COMOÇÃO EM HOLLYWOOD.

O caso reabriu o debate sobre as medidas de segurança em Hollywood.

A aliança Internacional de Funcionários de Palcos Teatrais (Iatse), principal sindicato da insústria audiovisual, colocou um memorial em homenagem a Hutchins em sua sede em Burbank, cidade a cerca de 20 minutos de Hollywood e onde ficam os estúdios Disney e Warner Bros.

“Receio que também estejamos reunidos com alguma frustração e um pouco de raiva”. (…) Muitas vezes a pressa para completar produções coloca a segurança em segundo plano”, disse o vice-presidente da entidade, Michael Miller. EFE

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