Quito, 29 out (EFE).- O Equador pode demorar “de dez a 15 anos” para se recuperar do impacto do tráfico de drogas, um período longo devido às ramificações dessa atividade em todos os níveis sociais, sanitários e econômicos, segundo o presidente do país, Guillermo Lasso.
“Que ninguém pense que vamos resolver isto em um mês ou um ano. Eu diria que nem sequer vamos terminar de consertar no nosso governo. O que queremos é iniciar uma política pública que se mantenha estável e que, dentro de dez a 15 anos, se recupere do problema”, disse o mandatário em entrevista à Agência Efe.
Lasso se pronunciou ao ser questionado sobre o estado de emergência que decretou no dia 18 para combater o aumento do crime e da criminalidade neste ano, e se planeja renová-lo.
Com taxas de homicídio sem precedentes nos últimos anos, o presidente atribuiu o fenômeno ao crescimento do tráfico de drogas com destino a outros países e ao consumo interno.
“Já sabíamos que o Equador era utilizado como país de trânsito para a droga que ia para os EUA e também para a União Europeia. Infelizmente, nos últimos 14 anos, o Equador também se tornou um país de consumo que afeta crianças e jovens”, disse o presidente.
O governante atribuiu a situação “aos dois governos dos últimos 14 anos” e, em particular, ao de Rafael Correa (2007-2017), sobre o qual disse que “entregou deliberadamente parte do território equatoriano ao tráfico de drogas”.
Para Lasso, este fenômeno “foi combinado com o fato de não haver vagas suficientes nas universidades ou empregos” para os jovens, o que significa que “alguns deles aderiram ao tráfico de droga e são alistados por gangues transnacionais”.
O problema também se reflete nos recentes massacres nas prisões equatorianas, onde só neste ano mais de 250 reclusos foram mortos em acertos de contas entre gangues.
“Temos de reconhecer que o Estado não teve controle nas prisões, nem tem funcionários ou capacitação suficientes”, reconheceu o presidente, que, além dos US$ 120 milhões que destinou aos radares da costa e para melhorar o sistema prisional, acredita que “é necessária uma reforma jurídica”.
Uma reforma que, segundo ele, precisa corrigir o fato de as prisões estarem “sob o controle de guardas penitenciários que estão proibidos de transportar armas, no máximo, um bastão, contra bandos de traficantes de droga com armas, explosivos e até drones”.
Por todas estas razões, o presidente considera necessária uma ação conjunta das instituições governamentais para enfrentar os problemas em nível de “saúde, educação, esporte, cultura e com a secretaria de direitos humanos”.
Questionado sobre a sua intenção de renovar o estado de emergência de 60 dias, Lasso disse que “depende do Tribunal Constitucional”, que é “muito zeloso nestas questões”.
De acordo com o presidente, o objetivo do atual estado de emergência é “frear” e “tomar forças para definir uma estratégia que envolva o reforço da Polícia Nacional em termos de números, capacitação, equipamento e, sobretudo, um forte apoio político e moral do governo para que os agentes se sintam seguros de que não serão punidos no cumprimento do seu dever”. EFE