Brasília, 3 nov (EFE) – O Alto Representante da União Europeia (UE) para Política Externa, Josep Borrell, desembarca ao Brasil nesta quarta-feira com três grandes pautas na agenda: os obstáculos para o acordo com o Mercosul, a Amazônia e a crise na Venezuela.
O chefe da diplomacia europeia chegará a São Paulo vindo do Peru, onde iniciou a primeira viagem à América Latina desde que assumiu o cargo. O primeiro compromisso do espanhol será privado, com membros das Eurocâmaras, para analisar a situação econômica do Brasil, considerado “parceiro estratégico” da UE desde 2007.
A agenda política começará a ser desenvolvida amanhã em Brasília, onde o primeiro compromisso será uma reunião com o ministro das Relações Exteriores, Carlos França.
Segundo fontes diplomáticas, um dos pontos de maior interesse nesse encontro serão as negociações para desbloquear o processo de ratificação do acordo comercial entre UE e Mercosul, cuja presidência semestral está nas mãos do Brasil, até o final do ano.
O acordo foi anunciado em 2019, após duas décadas de negociações, e desde então está praticamente paralisado devido às dúvidas de vários países integrantes da União Europeia pelas políticas agressivas impostas pelo governo de Jair Bolsonaro para o desenvolvimento da Amazônia.
Essas políticas, juntamente com o aumento do desmatamento e das queimadas na região, levaram França, Áustria, Holanda, Bélgica e Irlanda a repensar seu apoio ao acordo comercial com o bloco que inclui também Argentina, Uruguai e Paraguai.
Em fevereiro, ambas as partes concordaram em negociar um anexo ao acordo que se refere exclusivamente ao reforço dos compromissos de proteção ambiental, mas ainda não chegaram a um consenso sobre a redação desse documento e o impasse continua.
Segundo fontes diplomáticas, este texto ajudaria a “recuperar a confiança” especialmente no Brasil e nos compromissos assumidos em relação à preservação da floresta, que estão em xeque desde a chegada de Bolsonaro ao poder.
VENEZUELA, MIGRAÇÕES E UMA PREOCUPAÇÃO COMPARTILHADA.
Outra questão que Borrell irá discutir com as autoridades brasileiras serão os processos migratórios, que se acentuam na América Latina e, especialmente, na Venezuela, de onde se estima que, nos últimos anos, cerca de seis milhões de cidadãos tenham fugido da crise econômica, social e política.
De acordo com dados oficiais, cerca de 300 mil venezuelanos migraram para o Brasil, que desde 2018 lançou a chamada Operação Acolhida, que oferece ajuda humanitária e facilita sua imersão no país e o acesso ao mercado de trabalho.
Esse processo é apoiado pelas agências das Nações Unidas e pela própria UE, que o considera um “exemplo de solidariedade”, como explicou o embaixador do bloco comunitário no Brasil, Ignacio Ybáñez.
Para reforçar a preocupação comum com o fenômeno migratório e especialmente com a crise venezuelana, Borrell planeja se reunir nesta sexta-feira com cidadãos do país presidido por Nicolás Maduro, que se estabeleceram em Brasília, para conhecer de perto sua situação.
Esta questão também será discutida em reunião que ele manterá com o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, cujo gabinete é um dos principais responsáveis pela Operação Acolhida.
Durante a estada de dois dias em Brasília, o representante da UE também pretende participar de um evento organizado em conjunto com a delegação da ONU Mulheres, em que serão discutidas políticas e ações de gênero para a “proteção das mulheres defensoras dos direitos humanos”, de acordo com fontes diplomáticas. EFE