Manágua, 6 nov (EFE).- Mais de 4,4 milhões de eleitores estão convocados às urnas neste domingo para eleger presidente e vice-presidente da Nicarágua, 90 deputados à Assembleia Nacional e 20 representantes ao Parlamento Centro-Americano.
O Conselho Supremo Eleitoral (CSE) informou que a partir deste sábado serão instaladas as 13.459 juntas receptoras de votos, localizadas em 3.106 centros de votação, que abrirão suas portas a partir das 7h (local, 10h de Brasília) nos 153 municípios da Nicarágua.
As autoridades eleitorais, que têm um orçamento equivalente a US$ 21,8 milhões para organizar as eleições, levaram seis dias para distribuir cerca de 5,3 milhões de cédulas nos 15 departamentos e duas regiões autônomas do Caribe.
Embora oficialmente a lista eleitoral seja calculada em 4,4 milhões de nicaraguenses, nos últimos dias o Poder Eleitoral anunciou que admitirá pessoas com carteira de identidade vencida. De acordo com a mídia administrada pelo governo, a medida elevou o universo de eleitores para 4,87 milhões.
A Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), o partido governante, assim como o Partido Liberal Constitucionalista (PLC), o Partido Liberal Independente (PLI), a Aliança Liberal Nicaraguense (ALN), o Caminho Cristão Nicaraguense (CCN), a Aliança pela República (Apre) e a Yatama (Filhos da Mãe-Terra, na língua Miskito) estão participando do concurso eleitoral.
No caminho, o CSE indeferiu três partidos da oposição, sete pré-candidatos à Presidência foram detidos, e dois optaram pelo exílio após saberem dos mandados de prisão contra eles.
“EXÉRCITO” POR TRÁS DA ORGANIZAÇÃO.
Liderada pelo atual presidente, Daniel Ortega, e sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, a FSLN é a favorita para ganhar uma eleição em que os opositores e defensores dos direitos humanos descreveram como “fraudulenta”. A Organização dos Estados Americanos (OEA), a União Europeia e vários países expressaram suas reservas sobre a legitimidade dos resultados.
Ortega e Murillo, que em várias ocasiões já se proclamaram vencedores das eleições de amanhã, apelam para a comunidade internacional para não interferir nos “assuntos internos” da Nicarágua e prometem manter o país no caminho que eles consideram ser de “revolução”.
Para garantir a confiança nas eleições, o governo nomeou 15 mil soldados do Exército Nicaraguense e 16.665 oficiais da Polícia Nacional, que serão encarregados de manter a segurança, tanto dentro quanto fora dos postos de votação.
Em declarações à mídia governamental, o Vice-Presidente do Conselho Eleitoral, Cairo Amador, estimou que cerca de 280 mil pessoas estarão envolvidas na organização das eleições na Nicarágua, não incluindo a polícia eleitoral, com 30 mil agentes, nem os 163.877 monitores eleitorais.
O governo nicaraguense também procurou construir confiança através dos chamados “acompanhantes eleitorais”, um grupo de mais de 200 políticos de diferentes países que, segundo Urnas Abiertas, são “militantes sandinistas” estrangeiros. Eles substituirão a figura do “observador eleitoral”, recentemente anulado da legislação do país.
VIOLÊNCIA E PROIBIÇÕES.
Embora se espere que as eleições corram bem, o observatório multidisciplinar Urnas Abiertas advertiu que 1.656 atos de violência política foram registrados nos últimos 12 meses, 120 deles em outubro passado. Isso inclui, segundo a entidade, “cercos direcionados, perseguições, intimações e ameaças”, supostamente por funcionários e instituições “estatais e paraestatais”.
Murillo, cujo marido também é chefe da polícia e das forças armadas e controla todos os ramos do governo, garantiu que o processo eleitoral tem sido “pacífico e calmo”.
A Polícia Nacional proibiu o porte de armas de fogo e armas dois dias antes das eleições, exceto para policiais, pessoal militar e integrantes do Sistema Penitenciário Nacional no exercício de suas funções.
A partir deste sábado, a venda de bebidas alcoólicas também é proibida, assim como o transporte de substâncias químicas, tóxicas e explosivas, exceto gás liquefeito ou quando estas são transportadas por empresas especializadas.
PRESIDENTE COM MAIS TEMPO NO PODER.
Se for bem sucedido nas eleições, Ortega, que completará 76 anos na próxima quinta-feira, chegaria a seu quarto mandato consecutivo no cargo e sexto no total. Antes, já havia governado de 1979 a 1990.
Com um total de 26 anos como chefe de estado, Ortega é o homem com mais tempo de poder, à frente dos ditadores Anastasio Somoza Debayle (1956 a 1963 e 1972 a 1979), e o pai, Anastasio Somoza García (1937 a 1947 e 1950 a 1956).
Mais de 200 mil pessoas decidiram deixar a Nicarágua no contexto das eleições, de acordo com a organização Nicaraguenses no Exterior (NEEM), quase o dobro do êxodo de 108 mil registrados entre 2018 e 2020 pelo escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). EFE
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