Barcelona, 12 nov (EFE).- A escritora brasileira Paloma Vidal disseca as turbulências do Brasil na última década no romance “La Banda Oriental”, o primeiro escrito em espanhol pela autora.
Para Vidal, que escreve em português desde criança, escrever em espanhol é “uma forma de olhar para o Brasil – país onde vive desde os dois anos de idade – a partir de outro lugar, contando através de outra língua”.
A autora começou a escrever “La Banda Oriental” em 2013, quando as ruas do Brasil presenciavam manifestações contra o governo de Dilma Rousseff, retomou a escrita em 2016, ano do processo de impeachment contra a presidente petista, e concluiu a obra em 2019, com Bolsonaro como presidente.
Em declarações à imprensa, Vidal afirma que “o romance é um reflexo de todos estes anos de transformação política no Brasil, marcados por conservadorismo, machismo e racismo”.
“A ideia de escrever em espanhol e ambientar o romance no Uruguai tem a ver com gerar uma distância para poder narrar o Brasil e os seus horrores”, comentou.
Segundo Vidal, trata-se de “um romance teatral”, cujos protagonistas são uma menina e um cão em um “contexto de violência muito típico da América Latina”.
A violência contra as mulheres é um dos eixos que guiaram Vidal na escrita do romance, uma violência que tem vários níveis, “desde os ideais de consumo impostos aos corpos até a situação extrema de feminicídio em que estes corpos são aniquilados”.
Na opinião da autora, o Brasil é um país “extremamente racista” que, além disso, tem escondido historicamente o seu racismo por trás do mito da harmonia entre brancos e negros.
Vidal acredita que não é possível traçar um paralelo simples entre Trump e Bolsonaro, embora ambos, evidentemente, “surjam em um contexto global em que a extrema direita ganhou espaço”.
Nascida em Buenos Aires, Paloma Vidal começou a escrever quando o processo de impeachment de Rousseff começou, e “quando a possibilidade de alguém como Bolsonaro se tornar presidente do Brasil era inimaginável”.
“Foi uma farsa que abriu as portas para a trágica situação que o Brasil vive agora, e não se trata de sentir falta do seu governo, mas de denunciar as implicações desta ruptura democrática”, advertiu. EFE