Assumir a coordenação geral de Atenção Primária da Área de Planejamento 4.0, que atende Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Vargens e Jacarepaguá, já é um desafio e tanto. A região é a segunda mais populosa da cidade, passa de um milhão de habitantes. Mas aceitar essa função no auge de uma pandemia e ter sob sua responsabilidade a missão de montar dois grandes postos avançados de vacinação – Parque Olímpico e Cidade das Artes – funcionou como novo estímulo para Carla Bianca Teixeira Nunes. Formada há 28 anos em odontologia, ela praticamente saiu da faculdade direto para a Prefeitura, onde acabou trocando a cadeira de dentista pela carreira de gestão em saúde.
A troca fez com que essa servidora tivesse, e tenha ainda hoje, muitas noites mal dormidas, pensando em soluções para o setor. Mas, ao analisar o resultado de seu trabalho, com milhares de doses contra a Covid-19 chegando aos braços dos cariocas, ela tem certeza de que tudo vale a pena. Carla é uma profissional do município que faz a cidade acontecer. E a publicação da sua história faz parte de uma série de sete reportagens que serão divulgadas até domingo (13/03) em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta terça-feira (08/03).
– As unidades básicas de saúde não tinham capacidade para vacinar tantas pessoas ao mesmo tempo. Por isso a necessidade dos polos. Como coordenadora da área, era minha responsabilidade comandar isso. No dia 6 de fevereiro do ano passado, um mês depois de assumir o cargo, já estava com o Parque Olímpico (Arena 3) funcionando como drive thru e para pedestres. Foram 214 dias de atendimento, com mais de 151 mil doses aplicadas. Era uma mega operação, com dez linhas de carros e dez tendas. Isso mobilizava 120 profissionais por dia. Só não abríamos aos domingos – relembra Carla.
A trabalheira costumava ser recompensada com a gratidão de idosos que conseguiam se vacinar com tranquilidade. Com o avanço da imunização e o aumento do público, houve a necessidade de abrir o posto na Cidade das Artes, que funcionou de março a dezembro do ano passado e reabriu em janeiro, após nova explosão de casos. Até o momento são mais de 282 mil doses aplicadas somente neste local. Carla também foi responsável pela montagem de um centro de testagem no Parque Olímpico, que recebia a população com sintomas gripais na Arena 2.
– Meus filhos assistem pela TV e sentem orgulho. Eles querem saber sobre o avanço da vacinação, se isso realmente está contribuindo para o fim da pandemia. Vejo a animação deles, “minha mãe trabalha com isso”. Como mãe eu perdi muita coisa da criação deles. Mas hoje olho para trás e percebo que deu certo, estão bem criados e têm orgulho de mim – conta Carla, que é mãe de um adolescente de 15 anos e uma aluna de Direito de 21 anos.
Apesar do sucesso dos polos, a servidora espera não precisar abrir novas unidades, num sinal de que a população está vacinada e a doença sob controle. E, para ela, uma prova de dever cumprido:
– Acho que a profissional mulher tem aquele foco no cuidado, talvez pelo instinto materno, que deixa gente mais doce, mesmo tendo que enfrentar os deslocamentos diários, reuniões, filho que adoece, aí pede ajuda da mãe. Às vezes ligo para ela e ouço: “você está cansada, não é? Mas está fazendo tanta coisa boa”. Isso é gratificante.