Em evento oficial, Bolsonaro faz discurso de candidato, e ministro cita slogan eleitoreiro

Diário Carioca
               O presidente Jair Bolsonaro criticou, nesta quarta-feira (30), seus antecessores no cargo, ao mencionar casos de corrupção, e disse não querer "isso de volta" para o país. A declaração foi dada durante uma cerimônia oficial para lançamento da tecnologia 5G no agronegócio, em uma fazenda na zona rural de Baixa Grande do Ribeiro, no interior do Piauí, e transmitida ao vivo pela TV Brasil, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
"Nós conhecemos na pele o que foi feito nesses últimos 14 anos em nosso Brasil. Não queremos isso de volta. Ninguém está aqui fazendo campanha política. Estamos botando na mesa o que aconteceu lá atrás e o que acontece nos três anos do nosso governo", afirmou o presidente, sem citar nomes. Ele também listou iniciativas do seu governo, como Auxílio Brasil e a conclusão da transposição do Rio São Francisco, para defender o legado do governo. 
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Embora fosse um evento oficial da Presidência da República, os discursos no palanque tiveram forte conotação eleitoral. O presidente voltou a mencionar o que chama de "ideologia de gênero" nas escolas para se contrapor aos seus opositores. 
"Nós queremos eu nossos filhos e netos sigam as linhas das nossas famílias. Que deles sejam afastados, em sala de aula, a ideologia de gênero. Não podemos admitir que não se nasce homem ou mulher, se decide o sexo lá na frente. Isso é inadmissível". 
Em seguida, ele ainda falou que o país terá eleições limpas e fez uma crítica indireta a alguns ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Não podemos permitir que três ou quatro pessoas definam como serão as eleições".
A cerimônia reuniu ministros do governo e parlamentares. O titular do Ministério das Comunicações, Fábio Faria, citou as eleições de outubro em sua fala e também fez referências aos adversários do governo. 
"A gente vai deixar eles falando sozinhos, porque o povo vota, no momento certo, no período eleitoral, quando for ser discutido isso, a discussão não vai essa narrativa que eles plantam. Cada um vai ter seu tempinho de televisão pra mostrar o que fez", afirmou.
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Slogan eleitoreiro
O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, que é senador licenciado pelo Piauí, também fez um discurso enfático de defesa do governo no evento e chegou a "inventar" um slogan eleitoral para o presidente da República. Nogueira será candidato ao governo do estado nas eleições deste ano, onde o ex-presidente Lula é extremamente popular.


   

“Ser igual é ser livre, ser igual é ser forte, e é isso que o presidente Bolsonaro quer para o Nordeste. E, para terminar, vou usar uma palavra de ordem como nordestino que sou como muito orgulho: Nordeste livre, Bolsonaro presidente!”, afirmou. 

Um pouco antes, Nogueira fez uma referência indireta ao ex-presidente Lula, de quem já foi aliado no passado. "O Nordeste, senhor presidente, não tem dono. O Nordeste é dono do seu destino. Essa é a diferença entre nós e eles. Vocês vão preferir alguém que se diz pai dos pobres, mas é uma verdadeira mãe das empreiteiras? Eu tenho certeza que não". 
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Uso indevido
Mais um vez, a programação da TV Brasil, emissora pública federal, foi interrompida para a transmissão, ao vivo, do ato do presidente. Levantamento da Frente em Defesa da EBC e da Comunicação Pública, com base nas playlists "Agenda do Presidente", disponíveis no canal TV Brasil/Gov, no Youtube, mostram esse tipo de interrupção da programação ocorreu outras 209 vezes ao longo de 2021.
A escalada no uso político da emissora e de outros veículos da EBC tem sido crescente no mandato de Bolsonaro. Em 2019, a partir de abril, foram transmitidos 90 eventos, em um total de 51h44min01s. Em 2020, o volume de transmissões de atoso oficiais foi bem superior, com 157 eventos, totalizando 109h17min40s. E em 2021, os 209 eventos transmitidos consumiram 165hs10min44s de programação da emissora pública que, por lei, deve veicular programação com finalidades educativas, artísticas, científicas, informativas e culturais.
Em artigo publicado em janeiro, com um balanço sobre o tema, a jornalista Tereza Cruvinel, ex-presdente da EBC e uma das personaliades que atuou na consolidação da empresa como emissora de caráter público, explicou porque o uso da TV Brasil por Bolsonaro é uma violação legal e até constitucional.
"Mas não pode o governo ter uma emissora para transmitir atos oficiais, assim como a Câmara, o Senado e o STF têm? Pode, e até deve. Mas não pode fazer isso com a TV Pública. A Constituição, no artigo 223, prevê a complementaridade entre canais privados, estatais e públicos. Ou seja, a convivência, com algum equilíbrio, entre canais comerciais, canais públicos (que devem ser independentes e não governamentais)  e canais dos três poderes do Estado", aponta. 
E acrescenta: "Ocorre que o governo tinha seu canal, a TV NBR, mas Bolsonaro, através de seus interventores, fundiu o NBR com a TV Brasil, a pretexto de reduzir despesas,  e a vem transformando nesse monstrengo, que mistura mensagens governamentais com programas que ainda sobrevivem na grade, próprios de emissora pública".
            Edição: Rodrigo Durão Coelho


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