A maior mobilização indígena do país, o Acampamento Terra Livre (ATL), começa nesta segunda-feira (4) e se estende até 14 de abril em Brasília.
Com o mote “Retomando o Brasil: demarcar territórios e aldear a política”, a 18ª edição do ATL pretende reunir milhares de representantes dos povos originários e tem como bandeira principal a demarcação de terras.
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“A gente trouxe esse título justamente por conta dessa situação em que estamos hoje: tensa, com várias ameaças aos nossos direitos e a nós, como povos indígenas, como pessoas. Há em curso uma perseguição e criminalização as pessoas comprometidas com as lutas indígenas”, caracteriza Kerexu Yxapyry.
Liderança do povo Guarani Mbya da Aldeia Morro dos Cavalos, em Palhoça (SC), Kerexu é coordenadora da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY) e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que organiza o ATL.
A retomada, depois de dois anos, do formato presencial do Acampamento Terra Livre acontece em momento em que a apreciação do apelidado “Projeto da Mineração” passou para caráter de urgência. O PL 191/2020 prevê que empresas mineradoras e de outros setores que envolvem explorações de grande infraestrutura aconteçam dentro de Terras Indígenas (TIs).
Esse é só um entre outros projetos de lei tramitando no Congresso Nacional e que são chamados, em nota convocatória da APIB, de “projetos da morte”.
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“Só com essa força do movimento indígena que a gente consegue fazer essa resistência. A gente luta com o nosso corpo, com os nossos espíritos e com os nossos maracás”, descreve Yxapyry.
Programação de 2022
Compondo as atividades dos dez dias, além de manifestações e assembleias, acontecerão plenárias sobre o impacto e a ameaça das ações do Executivo, do Legislativo e do Judiciário aos territórios indígenas; uma plenária virtual com o Parlamento Europeu e a Organização das Nações Unidas (ONU); conversas sobre saúde, economia, educação, diversidade e juventude; bem como um resgate dos 18 anos do Acampamento Terra Livre.
Na sexta-feira (8) está prevista a “caravana das originárias” e atividades sobre o corpo como território e a ancestralidade indígena. “Nós pelas que nos antecederam, nós por nós e nós pelas que virão” é o nome de um dos encontros agendados.
No último dia acontece a plenária #LutaPelaVida, sobre a aliança de movimentos sociais para o fortalecimento das lutas indígenas.
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“A partir do Acampamento Terra Livre também identificamos situações que estão acontecendo em todos os estados, trocamos informações e experiências e cada vez mais novas lideranças estão se apresentando e se formando”, conta Kerexu.
A origem do Acampamento Terra Livre
Era 2004 quando um grupo de indígenas do sul do Brasil, dos povos Kaingang, Guarani e Xokleng, viajaram à Brasília para expor às autoridades as suas demandas em defesa da terra. Chegaram e não foram atendidos. Era preciso agendar, esperar.
Resolveram, então, acampar em frente ao Congresso Nacional. “A partir daí começam a chegar outros parentes, se juntar a esse movimento, para dar força”, relata Kerexu.
“A mobilização ganha visibilidade e esse movimento começa a crescer. Se torna, então, um movimento nacional de todos os povos indígenas do Brasil que, a cada ano no mês de abril, se reúne em Brasília no Acampamento Terra Livre”, narra.
“É também para dizer que o ‘dia do índio’ em 19 de abril não é um dia para comemorar. Para que se comemore, é preciso demarcar nossos territórios”, afirma a liderança Guarani Mbya.
“A gente tem desafios muito grandes pela frente”, avalia Kerexu Yxapyry. “Mas estamos muito cientes do que a gente quer”.
Edição: Vivian Virissimo