Em ato do 1º de Maio, trabalhadores denunciam inflação e emprego precário: ‘administrando caos’

Diário Carioca

A crise econômica e a perda do poder de compra dos trabalhadores foram alguns dos principais temas do ato promovido por centrais sindicais em São Paulo para o 1º de Maio. Quem foi à Praça Charles Miller, nos arredores do estádio do Pacaembu, relatou as dificuldades em encontrar emprego e de sustentar a família por conta da queda dos rendimentos e, principalmente, do aumento de preços.

“Estou administrando o caos”, disse a vendedora informal Janaína Cristina da Silva, 35 anos. “Sempre tem uma conta atrasada. Eu não consigo mais ir ao mercado e fazer uma compra. Compro o que está faltando.”

Janaína é formada em pedagogia, mas não consegue emprego em sua área. Mora no centro de São Paulo e tem três filhos. Os sustenta com o que ganha vendendo camisetas com temática política. Foi ao ato para se manifestar, mas também para trabalhar.

O ganho com as vendas, entretanto, está cada vez mais longe do suficiente para manter a família. “A inflação comeu minha renda. O que eu comprava com R$ 10, agora eu preciso de R$ 30. Estou vivendo no limite.”

A prévia da inflação de abril deste ano ficou em 1,73% e é a maior para o mês desde 1995, quando foi registrado 1,95%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). Desde janeiro, os preços subiram em média 4,31%. Nos últimos 12 meses, desde abril do ano passado, a alta é de 12,03%.

Paralelamente, o Brasil tem hoje 11,9 milhões de pessoas desempregadas e que seguem em busca de emprego, de acordo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada em 29 de abril pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O número segue estável em relação ao mês anterior. Mas isso ocorre porque parte das pessoas que perderam suas ocupações deixaram de procurar emprego e, por isso, não são contabilizadas entre os desempregados. Em outras palavras, não houve um crescimento na busca por trabalho. A população ocupada caiu 0,5%, o que representa 472 mil pessoas a menos no mercado de trabalho.

Naldo Rezende, 62 anos, é diretor do Sindicato de Cargas Públicas de São Paulo, mas também costumava fazer bicos como músico. Com a pandemia, essa fonte de renda secou. Ele, agora, disse só compra carne ou peixe quando “fecha o olho para o preço”. “Está fora do comum”, afirmou. “Minha mãe mora em Campinas e não dá pra ir vê-la porque passagem e gasolina estão muito caras.”

Segundo Rezende, todos os trabalhadores têm sofrido com a queda na renda e aumento dos preços. Ele, aliás, relatou a situação de colegas que, após a reforma trabalhista de 2017, só conseguiram contratos de trabalho intermitentes e acabam passando mais horas fora de casa para conseguir o mínimo para seu sustento.

“Ele chega no serviço, faz algumas horas e depois tem que esperar algum tempo para voltar a fazer outro período. Isso aí acaba com o coitado, que trabalha de vez em quando, chega cedo e volta à noite”, descreveu.

Servidores reclamam

Marlene Bueno dos Santos, 62 anos, é auxiliar de enfermagem e funcionária pública em Assis (SP). Está afastada do serviço por questões médicas. Tem uma renda garantida. Mesmo assim, disse que sua condição de vida piorou.

“Eu vou no mercado hoje, o óleo está R$ 9,90. Eu vou amanhã e está R$ 11. E amanhã vai ter aumento do gás de novo”, disse ela, lembrando que a Petrobras anunciou aumento do gás natural vendido às distribuidoras, o que deve encarecer o gás encanado.

Marlene crê que a eleição de 2022 deva mudar os rumos do país a partir do ano que vem. Segundo ela, aliás, os atos deste 1º de Maio devem mostrar com clareza a insatisfação da população com o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). “O ato é um é um papelzinho numa numa fornalha. Ele vai ajudar. Todo mundo que está aqui já está consciente do que precisa ser feito”, afirmou.

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Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca