Para a fotógrafa Sonia Gouveia, o processo de registrar uma imagem passa por um profundo entendimento das possibilidades da linguagem artística, entendendo como a câmera trabalha as potências do olhar. Essa dinâmica se manifesta tanto a partir do que a cerca quanto do mergulho no seu interior, em um exercício da experiência sensível que permeia todo o seu trabalho. A partir dessa investigação, ela desenvolveu a série “Pequenas Dores Cotidianas”, cujas imagens capturam sentimentos complexos a partir da percepção aguçada das miudezas do cotidiano.
Arquiteta de formação, Sonia Gouveia sempre nutriu fascínio pela fotografia, inicialmente por conta de uma máquina Rolleiflex. O objeto não causava fascínio só por sua beleza, mas também por se tratar de um pertence do seu pai, que, portanto, despertava uma conexão afetiva. Quando ingressou na FAUUSP para cursar Arquitetura e Urbanismo, começou a se dedicar também ao aprendizado da fotografia como linguagem. Esse processo a levou a se aprofundar cada vez mais nas artes através de cursos, exercícios autodidatas e da formação teórica, culminando em uma pesquisa de mestrado sobre a documentação fotográfica de arquitetura e a obra de Peter Scheier.
“Inicialmente, meu trabalho era muito ligado à fotografia de arquitetura e de rua: sair para circular e aprender com o que a paisagem me mostrava. Era sobre estar aberta para o imprevisível. Com a série ‘Pequenas Dores Cotidianas’, houve um processo de reflexão sobre o tema, sobre a técnica, e de planejamento, muitas vezes esboçando a imagem em um caderno, através de desenhos, antes mesmo de fotografar. Queria expressar a complexidade dos sentimentos que me atravessavam desde 2019, quando comecei a fazer fotos para exprimir o enfrentamento de uma doença e a ideia de finitude” explica Sonia Gouveia.
O olhar aguçado e sensível de Sonia captura nas imagens da série sentimentos que muitos vivenciaram durante a pandemia, por conta do isolamento social e da crise sanitária e social que acometeu o mundo. Além de registros de cômodos e de outros detalhes dos espaços internos da residência, ela também exercitou se colocar em frente à câmera, em um processo de reconhecimento, também, do seu lugar enquanto artista.
“Por muito tempo, mantive as fotografias apenas para mim. Depois, percebi que se elas ficassem apenas no meu HD, jamais atingiriam seu potencial ou mesmo sua função enquanto obra de arte, que se completa a partir do olhar do outro. Por isso achei também importante me colocar na série, dar um rosto e um corpo para quem estava por trás das câmeras. Acho que, de alguma forma, o meu olhar para a arquitetura se manifesta na série, através da observação do espaço e das soluções compositivas para expressar os sentimentos”, reflete.
SERVIÇO
Sonia Gouveia apresenta a série “Pequenas Dores Cotidianas”
Fotografia Arte Plural – 6ª Edição
Visitação: 2 de julho a 20 de agosto
Local: Icon Artes Galeria (Rua Orestes, 28, Santo Cristo – Rio de Janeiro)
Gratuito