Na Netflix o Filme Telefone Preto tem feito sucesso recentemente nos cinemas com uma trama que aborda a história de um garoto de 13 anos que conta com a ajuda de crianças mortas para lidar com um psicopata. E fora isso, o protagonista ainda sofre bullyng na escola. Ou seja, o filme é marcado por vários tipos de violência.
Esse foi só um exemplo de produção audiovisual no meio de tantas outras que levantam uma questão polêmica em relação: a de permitir que nossos filhos possam assistir filmes ou séries com cunho de suspense e terror intensos.
Mas será que existem riscos intrínsecos para as crianças ou jovens que assistem esse tipo de conteúdo? Alguns gatilhos emocionais podem ser disparados e prejudicar a construção de uma base emocional saudável?
Infelizmente, vivemos tempos em que a urgência da vida, assim como as cobranças sociais e velocidade imediatista de tudo ao nosso redor, nos leva a perceber uma mudança significativa na forma de educar e agir com as crianças e jovens. Apesar de sabermos que a fase da infância é de extrema importância para a formação e construção de um adulto equilibrado emocionalmente, estamos cercados por evidências de que essa vida imediatista dificulta e muito as relações familiares e a presença dos pais na vida das crianças.
Ou seja, fica claro a escassez do afeto, da proximidade e das trocas de experiências e vivências de qualidade. Hoje, vemos a falta de diálogo e o acesso, cada vez mais exacerbado, a eletrônicos que tiram e diminuem o convívio saudável entre pais e filhos, além da imersão em séries e filmes de todas as espécies. Mas, nos últimos tempos a oferta de conteúdos de terror intenso relacionado ao universo infantil, vem chamando a atenção.
O grande risco é ativar gatilhos prejudiciais à saúde mental, especialmente, em crianças que já tenham alguma tendência clínica ou não, para desenvolver sentimentos fixados em fobias extremas, depressão, ansiedade generalizada ou até mesmo pânico. Além de alteração de sono, apetite, isolamento social, irritabilidade e agressividade. Resguardadas as devidas proporções, não estamos dizendo que esse conteúdo vai provocar doenças, mas eles podem intensificar sintomas já apresentados ou mesmo, potencializar outros transtornos iminentes.
Fato é que, diante de tantos relatos e com a divulgação de cenas de alguns filmes e séries, concluímos e comprovamos a vulnerabilidade da essência das crianças e o enfraquecimento dessa base emocional equilibrada. O universo é um espelho na criação infantil e somos desafiados a trabalhar o melhor ambiente e informações para nossos filhos, buscando sempre o equilíbrio para sua sobrevivência. Portanto, essa polêmica vai muito além do que apenas tratar do cunho das cenas apresentadas.
Cabe avaliar o enredo que está nas entrelinhas: perversidades, massacres, destruição patrimonial, assassinatos, fantasmas, eventos sobrenaturais, entre outras situações pesadas, do ponto de vista do choque emocional provocado em quem assiste.
Enfim, existe uma linha tênue entre a ficção e a realidade que levanta dúvidas pertinentes neste contexto: tudo é permitido? A liberdade de expressão de produtores e criadores das artes, sustenta a desconstrução do cuidado com a saúde mental em um mundo que precisa proteger a mente humana. Entra aqui a necessidade da responsabilidade afetiva como ingrediente imprescindível para evitar transtornos e neuroses infantis. Portanto, é preciso estar atentos a isso, afinal depressão e ansiedade infantil figuram como grandes males de nossa atualidade.
Dra. Andréa Ladislau/ Psicanalista