A nota técnica “A ‘Great Resignation’ chegou ao Brasil? Uma radiografia dos desligamentos voluntários no país”, produzida pela gerência de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), constatou que, de janeiro a maio de 2022, ocorreram 2,9 milhões de demissões voluntárias em todo o país. Conhecido como ‘The Great Resignation’ ou a grande renúncia, o fenômeno mundial ganhou relevância a partir da pandemia de Covid-19, com a escassez de insumos para produção, paralisação das atividades, altas taxas de desemprego e a introdução e difusão do trabalho remoto (home office).
Para avaliar o impacto do fenômeno no Brasil, a Firjan revisitou os dados do Caged – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados -, do Ministério do Trabalho e Previdência. “Historicamente, sempre existiram inúmeros fatores que levavam um trabalhador a pedir demissão, desde questões pessoais à busca por ovos desafios profissionais e maiores remunerações”, diz o gerente de Estudos Econômicos da Firjan, Jonathas Goulart.
Porém, segundo o economista, as mudanças nas relações de trabalho, aceleradas pela pandemia e pela transformação digital nas empresas, introduziram novas regras ao jogo: “a preferência por novas modalidades de trabalho, a globalização do mercado de trabalho – com a possibilidade de profissionais brasileiros atuarem em empresas estrangeiras sem sair do país – e um desejo crescente por maior equilíbrio entre trabalho e a qualidade de vida são algumas delas”, avalia Goulart.
Apesar de recente, o fenômeno traz novos desafios para o setor produtivo no que se refere à captação e retenção de talentos nas empresas. O aumento dos pedidos de demissão por iniciativa do trabalhador pode afetar o planejamento das empresas, que precisam não apenas repor uma vaga, mas também treinar um novo funcionário e aguardar que ele atinja toda a sua maturidade produtiva.
Profissionais de Tecnologia da Informação
Conforme os dados analisados do Caged, as profissões da área de Tecnologia da Informação se destacam com maior proporção de pedidos de desligamento nos primeiros cinco meses do ano. Seis das dez ocupações no topo do ranking são dessa área: engenheiro de Aplicativos em Computação, analista de Desenvolvimento de Sistemas, administrador em Segurança da Informação, programador de Sistema de Informação, Engenheiro de Sistemas Operacionais em Computação e gerente de Projetos de Tecnologia da Informação.
Segundo Jonathas Goulart, também chama atenção nos números do Caged que, o Brasil já observou um alto nível de solicitação de demissões em momentos recente. No entanto, esse movimento não havia ocorrido em um cenário de desemprego elevado, como agora. Os últimos dados da PNAD Contínua mostraram que, em maio de 2022, mais de 10,6 milhões de brasileiros se encontravam desocupados em busca ativa por emprego.
Ainda de acordo com o levantamento, profissionais com mais anos de estudo apresentam níveis mais altos de demissão por conta própria. Quase metade dos desligamentos de trabalhadores de nível superior foram voluntárias (48,2%), em contraste com apenas uma em cada quatro (25,4%) entre os menos escolarizados, que nem chegaram a concluir o ensino fundamental.
Já os empregados do sexo masculino, que são maioria no mercado de trabalho formal, responderam por 57,3% do número total de pedidos de demissão no começo de 2022, enquanto o sexo feminino representou 42,7%. Entretanto, quando analisada a proporção sobre o total de desligamentos, as mulheres mais escolarizadas pediram demissão em 37,6% das situações de encerramento de contrato, enquanto os homens esse percentual foi de 30,6%.
Também houve um aumento na proporção de pedidos de demissão em todas as faixas de idade. Como sugere o senso comum, os dados confirmam que profissionais mais jovens possuem maior propensão a deixar o emprego por conta própria quando comparados com os mais velhos: 39,4% de jovens até 17 anos; entre 18 e 24 anos, 38,5%; e entre 25 a 29 anos, 36%; e apenas 23,5% entre 50 e 64 anos