Galeria Arte132 reúne obras de Abelardo Zaluar, representante singular do abstracionismo geométrico

Diário Carioca
Quadro do artista Abelardo Zaluar Abelardo Zaluar, Sem título, vinil e grafite sobre eucatex, 48 x 58 cm, 1975.

Em uma parceria inédita para o circuito cultural, pois transcende o aspecto comercial, a Arte132 apresenta, no piso superior da galeria, a exposição individual “Abelardo Zaluar: Rigor e Emoção”, realizada junto à Danielian Galeria de Arte (Gávea, RJ). Em cartaz de 13 de agosto a 24 de setembro, e com curadoria de Denise Mattar, a mostra exibe a singularidade do artista fluminense, que abraçou o abstracionismo geométrico de forma muito particular, incorporando linhas do barroco à geometria, beirando a sensualidade. 

Apesar de sempre ter participado ativamente do meio cultural, Zaluar nunca se filiou a nenhuma corrente, tornando sua obra única. O conjunto de obras apresentadas nesta exposição – totalizando 12 quadros –, que integra o acervo próprio das duas galerias, evidencia o processo criativo de Zaluar e a hibridação de técnicas que marca sua trajetória, na qual sempre manteve intacta a presença do giz de cera, óleo, acrílica e colagem; sem hierarquizar qualquer um dos elementos.

A originalidade da produção de Abelardo Zaluar é, ao mesmo tempo, a sua maior qualidade e o motivo do seu apagamento. Sem nenhum par, sua obra não se encaixa nas gavetas da crítica de arte até agora disponíveis  mas oferece ao espectador uma dupla fruição: uma mescla rara de rigor e emoção.”, comenta a curadora Denise Mattar.

A abstração trazia para os artistas uma completa libertação da figura e a independência do real, e era, de fato, uma mudança radical da forma de pensar a arte. Entre 1954 e 1960, Zaluar começa a se desligar da figura, geometrizando e simplificando as imagens, e faz isso em aquarela, óleo e desenho. Autor de uma obra geométrico-abstrata fora do padrão, o artista, desde os anos 1950, até seu falecimento, na década de 1980, mereceu o reconhecimento de alguns dos mais importantes críticos de arte do período, como Frederico Morais, Quirino Campofiorito, Roberto Pontual, entre outros. Entretanto, a partir do final dos anos 1990, a crítica brasileira passou a dar importância quase exclusiva aos integrantes dos grupos concreto e neoconcreto, relegando a segundo plano outros representantes do abstracionismo geométrico. 

Na década de 1970, o artista fazia amplo uso da colagem, incorporando o “trompe l’oeil” (do francês, “engana o olho”, refere-se a uma técnica artística capaz de criar uma ilusão ótica que faz com que formas de duas dimensões aparentem possuir três dimensões) ao seu trabalho. Sempre manteve intacta a presença do grafite e do traço, como um lastro – mesmo em meio à progressiva irrupção da cor, como bem observa Frederico Morais, crítico e historiador de arte, em texto sobre a exposição de 1975. “Há momentos em que o quadro dá a impressão de inflar-se como que dobrado ao peso da cor. A linha insiste em não sair de cena. Se desaparece como grafismo ou traço, ressurge como barra ou friso, por vezes fazendo o papel de alavanca ou cunha em relação aos planos de cor. Outras vezes, é puramente virtual, surgindo da junção de dois planos-quadros, no ponto de articulação dos dípticos. Finalmente, se as curvas desaparecem de sua pintura atual, os planos como que se curvam, formando arcos ou cantos virtuais em arquiteturas ou cenários imaginários.”

Sobre Abelardo Zaluar

Pintor, desenhista, gravador e professor. Nasce em Niterói – RJ, em 1924; e falece em 1987, em um acidente de carro. Entre 1944 e 1948, frequenta as aulas da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), no Rio de Janeiro. Na mesma década, cria, com outros colegas, a Escolinha de Arte do Brasil, tornando-se diretor-técnico da instituição carioca. Em 1959, conquista o primeiro lugar em desenho do Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, na Galeria de Artes das Folhas, em São Paulo. Em 1967, ganha prêmio aquisição no 4º Salão de Arte Moderna do Distrito Federal e menção honrosa na 1ª Bienal Ibero-Americana de Pintura, na Cidade do México, em 1978. Participa de diversas mostras coletivas entre 1959 e 1987, como a Bienal Internacional de São Paulo, o Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), e o Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM), no Rio de Janeiro, do qual recebe prêmio de viagem ao exterior em 1963. Em 1975 e 1979 expõe em retrospectivas no MAM/SP e no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC/PR), respectivamente. No ano seguinte apresenta trabalhos em ainda outra retrospectiva, desta vez no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). Faz parte de comissões de seleção e premiação de salões, como o 7º Salão Nacional de Artes Plásticas, em 1984, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Nos anos 1980, recebe título de professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua obra figura, também, em acervos de instituições como o MNBA-RJ, MAM-SP, MAC-Niterói e MASP-SP.

Sobre a Galeria Arte132 

A Arte132 acredita que o legado artístico de um país e de um período não é constituído apenas por alguns nomes definidos pelo mercado, mas por todos os artistas que desenvolveram um entendimento do mundo e do homem em determinado momento. Dessa forma, expõe e dá suporte à mostras com o compromisso de apresentar arte relevante e de qualidade ao maior número de pessoas possível, colecionadores ou não. A casa (concebida pelo arquiteto Fernando Malheiros de Miranda, em 1972), para além de uma galeria de arte, é um lugar de encontros, diálogos e descobertas. A galeria Arte132 completa um ano de atividades em 16 de agosto de 2022; e, ao longo deste período, apresentou seis mostras de arte. Segue abaixo a retrospectiva de exposições 2021/2022:

  • “Alturas”, de Alex Flemming. De 16 de agosto e 16 de outubro de 2021, com curadoria de Angélica de Moraes.
  • “Entre Brasil e Japão, Paris”, de Helena e Riokai. De 08 de novembro de 2021 a 08 de janeiro de 2022 , com curadoria de Madalena Cordaro e Michiko Okano.
  • “São Paulo, sua, nossa pauliceia desvairada”, de José De Quadros. De 22 de janeiro a 05 de março de 2022, com curadoria de Tereza de Arruda.
  • “Vários 22”. De 19 de março a 21 de maio de 2022, com curadoria de Lilia Schwarcz. 
  • “Mulheres Artistas: nos salões e em toda parte”. De 04 de junho a 30 de julho de 2022, com curadoria de Ana Paula Cavalcanti Simioni.
  • Jewels by Brazil’s Burle Marx Brothers, dos irmãos Haroldo Roberto Burle Marx. De 04 de junho a 30 de julho de 2022, com texto crítico de Antonio Carlos Suster Abdalla.

Serviço

Abelardo Zaluar: Rigor e Emoção

Curadoria: Denise Mattar

Local das exposições: Galeria Arte132 – Av. Juriti, 132, Moema, São Paulo – SP

Período expositivo: de 13 de agosto a 24 de setembro

Horários de visitação: de segunda a sexta, das 14h às 19h. Sábados, das 11h às 17h 

Entrada gratuita 

Share This Article
Follow:
Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca