EAV Parque Lage anuncia nova temporada de exposições

Diário Carioca
Disco Inferno - Chico Cunha

A Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage inaugura, em 15 de setembro, quatro exposições individuais em seus espaços. O Mundo em Pintura, de Chico Cunha, e O Mundo em Desenho, de Paloma Ariston, ocupam as Cavalariças sob a curadoria de André Sheik. Clara Cavendish apresenta a intervenção Sagrada Pintura, na Capelinha; e a mostra Corpo Existência, de Gustavo Alves, marca a reabertura da Galeria EAV, no primeiro pavimento do palacete. Ambas têm curadoria de Adriana Nakamuta. 

Para Alberto Saraiva, diretor da EAV Parque Lage, 2022 é o ano de retomada da efervescência dos espaços culturais: “Reocupar a área expositiva da EAV com quatro mostras simultâneas é uma ode à arte. Essa temporada dá continuidade à série de diálogos conceituais, recentemente iniciada, entre os artistas que integram a Escola. Nos interessa mostrar a qualidade da produção dos que passam por ela, seja como professor ou aluno. É uma alegria apresentar a primeira individual de Chico Cunha na EAV. Dono de uma produção pictórica muito bonita, ele integrou a icônica Geração 80 do Parque Lage onde, há quase 30 anos, dá aulas de pintura”, celebra o diretor. “Clara Cavendish, Gustavo Alves e Paloma Ariston, alunos ou ex-alunos, reúnem trabalhos maduros que reafirmam a excelência desta instituição que é referência no ensino de arte, desde 1975, dentro e fora do Brasil”. 

CHICO CUNHA | O MUNDO EM PINTURA | Curadoria: André Sheik

Local: Cavalariças | Abertura: 15 de setembro, às 19h

Em sua primeira individual nas Cavalariças, Chico Cunha apresenta uma série recente de 31 pinturas que, instauradas nas paredes, configuram uma espécie de teatro de imagens. No centro, uma instalação em areia reproduz, em escala, o palacete do Parque Lage: “Este trabalho remete à obra Castelos de Areia (1995), do próprio artista, bem como à João e Maria (2014), instalação em que Chico cria uma aproximação com o universo infantil”, pontua o curador André Sheik. 

A Guerra - Chico Cunha
A Guerra – Chico Cunha

Contar uma história sempre fez parte da produção artística de Chico Cunha. Aqui, o artista vale-se de uma narrativa não linear, permeada de forma recorrente pela Escola de Artes Visuais, seja como lugar de formação ou como um espaço de troca de experiências e afeto. 

Em sua trajetória, diversos trabalhos retratam o palacete: “Sou formado em arquitetura e, desde os anos 1990, minha pintura dialoga com o Parque Lage. A exposição foi pensada como um comentário sobre o espaço físico e, principalmente, sobre o espaço simbólico que a EAV ocupa na minha existência”, revela o artista, que se considera uma “cria” da instituição.

A produção de Chico lida com o figurativo mas é abstrata, privilegiando a construção da imagem pintada. Ainda que de pequenas dimensões, as pinturas nas quais as figuras humanas são reduzidas têm espaços amplos e oníricos, como o inconsciente. Há um jogo constante de escalas. 

“Na exposição, em meio às pinturas, está o castelo de areia, um mundo em miniatura. Podemos dizer que o palacete do Parque Lage é uma derivação tropical (fruto de uma mentalidade colonial ainda tão presente no Brasil), da qual Chico faz um novo simulacro, quase um comentário a respeito de ruínas supostamente civilizatórias: metáfora de uma fragilidade não apenas física do patrimônio brasileiro, mas igualmente do sistema cultural de nosso país”, escreve André Sheik no texto curatorial.

PALOMA ARISTON | O MUNDO EM DESENHO | Curadoria: André Sheik

Local: Cavalariças | Abertura: 15 de setembro, às 19h

Paloma Ariston tem longa relação afetiva com os jardins do Parque Lage, que frequenta desde a infância. Em 2000, passou a cursar a Escola de Artes Visuais que considera fundamental para sua formação artística. Em O Mundo em Desenho, nas Cavalariças, ela divide espaço com Chico Cunha, o ex-professor com quem desenvolveu grande afinidade pictórica: “Ele trabalha com figuração, tem uma bela pesquisa de cor e percebo um diálogo claro entre a minha produção e a dele, que me inspira e me mobiliza. Ainda hoje, no exercício do ateliê, me vem à memória as questões levantadas pelo Chico durante suas aulas”.

Paloma Ariston
Paloma Ariston

A mostra reúne um conjunto de desenhos inéditos em papel, criados especialmente para a ocasião. Em dimensões variadas, feitos com grafite, nanquim ou caneta esferográfica preta, os desenhos em preto e branco têm os jardins do Parque Lage como disparador poético: “Me interessei pelo contraste entre um fecundo jardim florido executado com graves variações de preto”.

Paloma revela que, durante o processo de montagem da exposição, tem a intenção de expandir os desenhos, vazando-os para as paredes: “Em torno dos desenhos vou criar um site specific com carvão, pincel e tinta, como um transbordamento das imagens na parede, estabelecendo novas relações no espaço. Estou pensando estes trabalhos como pontos de vista divergentes de uma mesma cena”, descreve a artista.

De acordo com o curador, as representações de pessoas criadas por Paloma em seus jardins causam um certo desconforto estético: “Nas palavras dela, são ‘corpos desproporcionais, padrões labirínticos e perspectivas desconcertantes’. A temática de sua obra é a estranheza da vida. Ela propõe um olhar amistoso sobre um mundo inóspito e suas figuras quase sempre se apresentam sorrindo, parecem se divertir em meio ao caos cotidiano”, analisa Sheik.

CLARA CAVENDISH | SAGRADA PINTURA | Curadoria: Adriana Nakamuta

Local: Capelinha | Abertura: 15 de setembro, às 19h

Pernambucana de nascimento, Clara Cavendish é radicada no Rio de Janeiro. Graduada em Educação Artística e mestre em História da Arte e da Arquitetura pela PUC-Rio, frequentou a Academia de Artes de Berlim por três anos. Ex-aluna da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, integrou a coletiva “Como vai você, Geração 80?”, realizada em 1984. 

CLARA CAVENDISH
CLARA CAVENDISH

“Eu entrei na EAV com 15 anos, participando das oficinas permanentes com todos os professores daquela época. Entre eles, Celeida Tostes, Luiz Aquila e o próprio Rubens Gerchman. O Parque Lage era minha segunda casa e foi símbolo da volta da pintura nos anos 1980, como um vetor da abertura política, de mudanças e reivindicações”, comenta a artista.

De acordo com a curadora Adriana Nakamuta, Clara leva para a Capelinha uma extensa intervenção pictórica, criada especialmente para o local, se apropriando de elementos da natureza e da arquitetura para dialogar com a espiritualidade: “Ao conectar um repertório diverso e emblemático de imagens históricas do campo da arte, do patrimônio, da cultura e da cidade do Rio de Janeiro, Cavendish cria um diálogo entre o sagrado ofício do pintar, a memória artística e a função social expositiva, tão presentes na trajetória da EAV. Sagrada Pintura intitula esta intervenção em um claro movimento de conexões simbólicas entre o processo artístico e o local da arte”, conclui Nakamuta. 

“A intenção é abordar o contato com a espiritualidade a partir da minha trajetória pictórica. Vou criar uma espécie de colagem com imagens de trabalhos antigos meus e de alguns expoentes da pintura. Pensei em El Greco, talvez alguma coisa de Michelangelo e de pintura brasileira. Vou incluir também elementos que remetam à questão da sexualidade, porque a minha pintura tem muito erotismo”, revela a artista. 

GUSTAVO ALVES | CORPO EXISTÊNCIA | Curadoria: Adriana Nakamuta

Local: Galeria EAV | Abertura: 15 de setembro, às 19h

A reabertura da Galeria EAV, no contexto do pós-isolamento social, é celebrada com a inauguração de Corpo Existência, uma seleção de 15 trabalhos de Gustavo Alves – entre pinturas, guaches e desenhos expressionistas. 

Artista formado pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Gustavo é especialista em História da Arte Sacra pela Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro (2018). Iniciou seus estudos na EAV em 2002, no curso livre de pintura do professor João Magalhães, e, desde 2009, frequenta as aulas de modelo vivo de Gianguido Bonfanti.

Gustavo Alves
Gustavo Alves

A produção artística de Gustavo é centrada na temática do corpo. Sua pesquisa de linguagem e a alternância de traços têm relação direta com a narrativa dos indivíduos que posam durante as aulas de modelo vivo, no Parque Lage. “Me sinto atraído pela diversidade de corpos que se apresentam nas aulas do Gianguido e me interessa a multiplicidade de figuras que eles formam a partir das mudanças de posição”, afirma o artista. “Esse contínuo exercício de desenho e pintura é um teste para romper com os limites dados pela figura do corpo e conseguir representá-los, ainda que por meio de elementos estruturais mínimos ou de manchas que se dissipam”.

A escolha curatorial em meio ao repertório pictórico de Gustavo, que inclui centenas de estudos, desenhos e pinturas acumulados ao longo de vinte anos de estudo, centra-se na possibilidade de apresentar ao público as diferentes leituras e experimentações do artista. 

“Interessante notar que a produção do Gustavo é realizada no contexto das aulas do Parque Lage e, exatamente por isso, achamos pertinente exibir seu trabalho na Galeria EAV, um espaço de trânsito de alunos, professores e outros artistas, em meio às salas do primeiro pavimento da Escola”, avalia Adriana Nakamuta. “Corpo Existência traz à luz da apreciação do espectador a importância da figura humana no ensino artístico até a contemporaneidade”, conclui a curadora.

SERVIÇO:

Exposições | EAV Parque Lage 

Aberturas: 15 de setembro de 2022, quinta-feira, às 19h
Encerramentos: 13 de novembro de 2022Visitação: de quinta a terça, das 10h às 17h (a exposição não abre às quartas). Não é necessário agendamento prévio.

Local: Escola de Artes Visuais do Parque Lage
Endereço: Rua Jardim Botânico, 414
Rio de Janeiro | RJ
Whatsapp: (21)99228-7955 – Secretaria 1 | (21)96654-3179 – Secretaria 2
Website: http://eavparquelage.rj.gov.br/
Instagram: @parquelage
Gratuito | Aberto ao público
Classificação livre

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