“Gavetas, cofres e armários” no Centro Cultural Correios

Diário Carioca
Marina Ribas

“Gavetas, cofres e armários” são ao mesmo tempo espaços íntimos e abrigos ocasionais. Guardam imagens, sonhos e devaneios, constituindo esconderijos onde o indivíduo dissimula ou encerra seus segredos. Esta exposição busca situações de imagens das intimidades solidárias aos esconderijos: assim Mario Camargo explica o mote da coletiva que abre sob sua curadoria, no dia 6 de outubro. Os artistas selecionados, Alice Gelli, Claudio Montagna, Gabi Gelli, Henrique Kalckmann, Jack Motta, Margaret de Castro, Marcelo Rezende, Marina Ribas, Mario Camargo, Mark Engel, Patricia Borges, Sandra Sartori e Solange Jansen, equilibram em suas obras técnicas diversas, com pequenos e grandes formatos (de 0,40 a 1,80m, medindo 10m a de Patricia Borges). Costura sobre papel de seda, fotocolagens em lona com interferências de tinta acrílica, óxidos de ferro e sais sobre papel de algodão exposto ao sol, fibra de vidro, parafina derretida, costura industrial, fotografia, acrílica e tinta serigráfica, tecidos nobres e até miçangas compõem pinturas, instalações e objetos escultóricos que ocupam três salas no 2º andar do Centro Cultural Correios, até o dia 19 de novembro.

“’O armário e suas prateleiras, a escrivaninha e suas gavetas, o cofre e seu fundo falso são verdadeiros órgãos da vida psicológica secreta’ escreveu o filósofo Gaston Bachelard. Esses móveis são o testemunho sensível de uma necessidade de segredos, de uma inteligência do esconderijo. Poderíamos dizer que, através de obras poéticas, os artistas aqui nos oferecem seu cofre para olhar. São, ainda, espaços sensíveis que registram a vida de quem os possui.

Mark Engel
Mark Engel

Reunimos aqui nesta exposição uma coleção de possíveis imagens do ser, múltiplas, cambiantes, que ilustram a permanência humana no mundo e o desejo que compartilhamos por reflexões filosóficas e psicológicas distantes da superfície”, diz Mario Camargo. 

Saiba mais sobre os artistas

Alice Gelli é carioca, frequenta a Escola de Arte Visuais (EAV )no Parque Lage, onde mergulha em diversos acompanhamentos artísticos com mentores como Iole de Freitas e Mariana Manhães. Já participou de diversas exposições no eixo RIO-SP com curadoras como Christiane Laclaux, Manuela Parrino e Beth da Matta. A artista também já participou de feiras de arte como Sparte, ArtRio, Artsoul e Latitude Art Fair com a Bianca Boeckel Galeria.

Claudio Montagna vive e trabalha no Rio de Janeiro. Participou de vários cursos livres de artes visuais na EAV/Parque Lage, desde 2000. Dentre suas exposições se destacam a individual Vida Líquida/Centro Cultural da Justiça Federal (2011/RJ) e as coletivas /Corpos Intrânsito (2018), Galpão Bela Maré Rio (2010), Novas Aquisições Coleção Gilberto Chateaubriand/MAM RJ.

Gabi Gelli transborda sensibilidade. A artista carioca de 26 anos descobriu na adolescência uma condição congênita no coração que mudou sua vida. Gabi buscou ressignificar seu trauma por meio da arte e foi nesse momento que surgiu o projeto das cicatrizes – Instante para sempre -, do desejo de proporcionar para outras pessoas a ressignificação de suas dores.

Henrique Kalckmann teve sua formação em pintura construída em vários cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage no Rio de Janeiro e na Chelsea Art School da University of the Arts London-UK. Tem um Mestrado em Linguística Francesa pela Université de StrasbourgFrança. Participou de várias exposições: no Centro Cultural da Justiça no Rio de Janeiro, no SESC Quitandinha, na EAV, no Centro Cultural Sergio Porto e fez uma grande mostra individual na Gallery 32 – 32, na Green Street London/UK.

Jack Motta é artista visual e documentarista. Em 2007, cursou a Art Vidéo no Centre Georges Pompidou, em Paris. Integra o grupo de trabalho da oficina Antiformas de Intervenção com David Cury, na EAV Parque Lage, desde 2017.  Em 2021, realizou Dandara é Porrada na Galeria Zagut; 100 P.A.L.A.V.R.A.S (Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, Rio, em 2020) e Curináldsson (Rio, 2020). Participou da coletiva Circuito Morais e Vale Galeria Paulo Branquinho, Rio, em 2019 e na EAV/Parque Lage, Rio, em 2018 e 2019 ). Nascida em Porto Alegre, vive e trabalha no Rio de Janeiro.

Marcelo Rezende estudou Artes na Escola Riesbach, em Zurique/Suíça, através de bolsa de estudos e formou-se em Desenho Industrial e Marketing. Frequenta oficinas de arte na EAV/Parque Lage. Marcelo desenvolve um processo muito particular de produção que envolve pintura e colagem de materiais pictóricos na criação de campos visuais. Sua pesquisa atual está relacionada à cultura dita periférica, seu potencial criativo e estético, assim como a desromantização do ornamento, evidenciando questões da periferia do Rio de Janeiro. O artista realizou algumas exposições, como Uma afirmação da presença (Centro Cultural Correios), Potências Periféricas (Espaço Cultural Correios de Niterói), Fronteiras e Impermanências, dentre outras.

Margaret De Castro é artista visual, natural do Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Em 2013, ingressou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde descobriu a pintura como seu meio de expressão. Sua poética está relacionada às questões relativas à figura humana e também àquelas que abrangem o ambiente urbano e cotidiano. Situações aparentemente banais falam da solidão do homem em sua habitual passagem por ambientes públicos homogeneizados, destinados à rápida circulação.

Marina Ribas apresenta trabalhos de escultura trabalhando com o binômio macio e resistente, ou seja, a espuma e o mármore branco. O cinza e branco trarão para o conjunto de obras nas paredes um desafio e contestação.  Curadora e dona de galeria de arte percorre caminhos pictóricos que somam a sua trajetória artística.

Mario Camargo é formado em Engenharia pela UFRJ. No decorrer do caminho artístico, seus trabalhos evoluíram, sempre com um fio condutor ligando toda a obra à geometria e à abstração. Frank Stela, Nicolas de Stael, Daniel Duren, Mark Bradford, Eva Hesse e Sol Lewitt são referências, e através de seus trabalhos Mario exercita a imaginação e a criatividade. São trabalhos com tinta acrílica, algumas fluorescentes, desenhados, costurados e depois pintados. Algumas exposições em que participou: Solidão dos números primos (Centro Cultural Correios RJ), FCC Memorial de Curitiba, Galeria Cheval de Sable/Paris, Galeria Cândido Portinari/Roma, Museo Nacional de Bellas Artes/Coleção Enersis/Santiago/Chile, MAC 2000 Feira de arte/Paris/França.

Mark Engel – em suas pinturas digitais, ele lida com abstração versus representação, sedução e repulsa, práticas artísticas contemporâneas, história e humor. Mark desenvolve imagens abstratas com base em fotografias, imagens encontradas e objetos digitalizados que aludem a comentários sociais e políticos. Seu trabalho tem sido apresentado em exposições coletivas e individuais desde 1993, em espaços como MAR (Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil), Art in General (Nova York, NY), Centro Cultural Candido Mendes (Rio de Janeiro, Brasil), University of North Texas (Denton, TX), Austin Museum of Art (Austin, TX) e Centro Cultural dos Correios (Rio de Janeiro, Brasil), entre outros.

Patricia Borges, arquiteta sensível e culta, tem seus trabalhos de grande formato oriundos de atividades químicas e de pesquisas, pesquisas estas baseadas nos conhecimentos oriundos de seus cursos no MOMA, na Itália, Florença e em Paris. Sua obra em papel, nesta exposição, terá 10m por 2,25 m e funcionará como uma janela furando uma das paredes que divide os salões 1/2.

Sandra Sartori é brasileira e residiu na Alemanha por 23 anos. Ela mescla seu trabalho com a estética da Geração 80, da qual fez parte com sua experiência com arte alemã, usando fibra de vidro em suas criações.

Solange Jansen – seu contato profissional com a arte, especialmente a arte contemporânea, ocorre na Escola Superior de Desenho Industrial. Teve o privilégio de conviver com Ivan Serpa e de praticar desenho e pintura no atelier do artista. Fez oficinas no Museu de Arte Moderna/RJ com Celeida Tostes e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage com Charles Watson, Kate Scherpenberg, João Magalhaes e Nelson Leiner. Desde 2017 integra o grupo Antiformas e Intervenção, sob orientação de David Cury. Participou de algumas exposições, como Para Todos (Carpintaria/RJ), nas Cavalariças (Parque Lage/RJ) e O ovo, com curadoria de Nelson Lerner.

A exposição nas palavras do curador Mario Camargo

“Os objetos de conhecimento privilegiados do espaço do saber são intelectuais coletivos de nossos mundos. O objetivo privilegiado do espaço não é o objetivo das ciências humanas, mas a figura ou imagens geradas nestes espaços. As imagens são evidências sensíveis que revelam a existência de um comum e dos recortes que nele definem lugares e partes respectivas. O ruído que corrói, desorganiza e ao mesmo tempo cria, mistura e apaga, e nos dá a ver a parte que não tinha parte.

Trata-se da hierarquia dos espaços sensíveis que se opõe à imagem conhecida e controlada da imagem desconhecida.

Com este tema, vamos retornar contato com o insondável das reservas dos devaneios e das intimidades.

Ao contrário da imagem, a obra da Imaginação absoluta, extrai todo o seu ser do pensamento nas intimidades guardadas em espaços que não se abrem para qualquer um – testemunho da inteligência do esconderijo.

Segundo Antônio Cicero (poeta e filósofo), para guardar um algo é melhor não trancá-lo em um cofre. Guardar é olhá-lo, iluminá-lo, vigiá-lo.

Melhor o voo de um pássaro do que uma gaiola.

Concluímos que ao iluminá-lo, atribuímos aos trabalhos, o poder da vida – o poder da criação.

Neste conjunto de obras vamos desafiar o indiscreto em vez de amedrontá-lo, mostrando todo o poder de deixar descoberto e ter a indiscrição da revelação satisfeita capaz de nos deixar a ver o imperceptível. Aquilo que antes chamamos de ruído pode ser a voz daqueles que não falam nossas línguas.

A presença do dissenso dentro do consenso nos dá a ver o invisível – uma recolocação dos espaços e das imagens.  A cristalização dos espaços e o esfumaçamento das fronteiras cria novas constelações do sensível.

Esta exposição será uma forma de revelação, que se situará entre O Cristal e a Fumaça, ou seja, entre a ordem redundante e o caos.

Serviço:

“Gavetas, cofres, armários”

Abertura: 6 de outubro, quinta-feira, das 16h às 19h

Visitação: de 7 de outubro a 19 de novembro de 2022

Curadoria: Mario Camargo

Assessoria de imprensa: BriefCom Assessoria de Comunicação/@briefcomcomunicacao (contato: Bia Sampaio – 21 98181-8351/biasampaio@briefcom.com.br)

Centro Cultural Correios RJ

Endereço: Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro – RJ

Horário: de terça a sábado, das 12h às 19h

Entrada gratuita

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