Estudo analisa casos de violência política na Baixada Fluminense

Diário Carioca
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A cada 45 dias, um político é assassinado na Baixada Fluminense. É o que apontam os dados da pesquisa ‘Violência Política na Baixada Fluminense e na Baía da Ilha Grande’, lançada nesta terça-feira (27). O estudo foi desenvolvido por pesquisadores do Observatório de Favelas, da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Witwatersrand (WITS), da África do Sul, com apoio da Fundação Heinrich Boll e da Open Society Foundations. 

Os pesquisadores analisaram casos de violência cometidos contra políticos e ativistas nas regiões da Baixada Fluminense e Baía da Ilha Grande entre janeiro de 2021 e junho de 2022. Dos 31 casos de violência política mapeados pelo levantamento, 28 foram cometidos na Baixada Fluminense e 3 na região de Ilha Grande. 

A pesquisa analisou diferentes modalidades de violência política. Foram mapeados: 12 casos de execução sumária; 7 casos de atentados contra a vida; 6 casos de ameaça; 1 caso de invasão de espaço político; 1 caso de atentado; 1 caso de ferimento à bala; 1 caso de depredação de espaço político; 1 caso de violência política de gênero; e 1 caso de disparo de arma letal contra manifestação política no período. 

Cerca de 23 dos 31 ataques foram praticados com armas de fogo. Todas as execuções ocorreram na Baixada Fluminense. Isto significa que houve pelo menos 1 assassinato político a cada 45 dias na Baixada, considerando o período de 18 meses analisado na pesquisa. 

O município líder em número de casos de violência política foi Duque de Caxias que contabilizou 10 ataques, seguido por Nilópolis com 4 ocorrências. Logo atrás vem as cidades de Nova Iguaçu, São João de Meriti e Itaguaí. 

A maior parte dos casos indica a existência de uma articulação das disputas políticas locais com conflitos envolvendo redes criminosas. Os territórios controlados por milícias tiveram amplo destaque nesse sentido, especialmente na Baixada Fluminense. Dos 31 casos de violência política mapeados, 13 foram cometidos em áreas de milícia, 9 deles foram execuções. 

O estudo usou como metodologia o levantamento de casos de violência política em jornais, pesquisas complementares na internet, entrevistas e monitoramento e análise das mídias sociais de políticos que atuam na área da segurança pública nas regiões estudadas. 

É importante destacar que, para além dos casos de violência política quantificados pelo estudo, as entrevistas realizadas mostraram que há um conjunto de violências mais estruturais que atingem principalmente mulheres negras na política. As mulheres entrevistadas relataram diversos casos de agressões físicas e verbais, ameaças, intimidações, violência institucional e violência política de gênero e raça.

“Os relatos que documentamos nas entrevistas mostram que nos contextos que analisamos há um conjunto de forças políticas que podem efetivamente traduzir a consolidação de um campo democrático, mas que estão sob constante ataque.” avalia André Rodrigues, pesquisador da UFF, e coordenador do estudo.

Através da análise das redes sociais de políticos que atuam nas regiões estudadas, a pesquisa identificou ainda que os discursos sobre violência e o poder de matar são convertidos em capital político eleitoral e em narrativa ideológica.

“Acompanhando o embrutecimento das relações sociais e políticas no país nos últimos anos, encontramos nessas regiões o aprofundamento de um padrão histórico que mais do que nunca tem reverberado no estabelecimento da violência como plataforma política e como linguagem.” – destaca Leandro Marinho, pesquisador do Observatório de Favelas.

A pesquisa demonstra que a violência é um fator fundamental de estruturação e regulação das relações de poder nas regiões analisadas. Ao organizar tanto os mercados eleitorais quanto a entrada nas instituições políticas municipais, a sua persistência evidencia a fragilidade dos padrões políticos de democracia. A pesquisa apresenta, por fim, um conjunto de recomendações para a reversão dos processos de violência política instalados na Baixada e na Baía da Ilha Grande

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Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca