Em seu primeiro filme, Verão 1993, Carla Simón contou sua própria história, de uma menina que perde os pais. Em Alcarràs, que venceu o Urso de Ouro no último Festival de Berlim e é exibido a partir desta sexta, 21, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ela também se inspira em algo próximo. “A coisa é que eu tenho uma família muito, muito grande”, disse Simón em entrevista ao Estadão, por videoconferência, durante o Festival de Berlim.
“Verão 1993 era a minha história. Aqui, me inspirei na minha família, que cultiva pêssegos em Alcarràs, na Catalunha. Mas a história é ficção. Eu escrevi com um amigo (Arnau Vilaró) que é de uma pequena vila perto de Alcarràs e cuja família também é de agricultores.”
Alcarràs começa com três crianças, Iris (Ainet Jounou) e os gêmeos Pere e Pau (Joel e Isaac Rivera), brincando na carcaça de um carro, que fingem ser uma nave espacial. Parece apenas mais um período idílico de férias, mas não. A vida dos pequenos, assim como a dos adultos de sua família, está para mudar.
MUDANÇA
Os Solés arrendam a terra há décadas, desde a guerra civil espanhola. O patriarca, Rogelio (Josep Abad), não imaginava que o acordo de boca que tinha com o patriarca da família Pinyol estivesse ameaçado. Mas é o que acontece quando eles fazem um acordo para substituir os pêssegos por painéis solares.
Carla Simón utilizou no elenco gente local, sem experiência. “Vimos cerca de 9 mil pessoas”, contou. “Foi um processo longo, mas foi a parte mais linda de fazer esse filme. Eu sabia que tinha de ser com atores não profissionais, gente com conexão com a terra.”
Por vir de uma família grande, Simón sabe que as dinâmicas internas são bastante complexas. Alcarràs não procura grandes acontecimentos, mas sempre tem algo se passando. “As energias e emoções de cada um afetam os outros”, avisa a diretora. É a vida acontecendo, com seus pequenos conflitos de família e problemas que são sintomas de um mundo em transformação. “Eu acho que, de temas bastante íntimos, dá para falar de assuntos grandes, políticos. No fim, é político.”
O longa, que passa de novo nos dias 22, 25 e 31, é uma homenagem às famílias que ainda estão resistindo, muitas abandonando as terras. A verdade é que o preço da fruta é muito baixo, eles não ganham dinheiro suficiente. “É um grande problema porque a agricultura familiar é o trabalho mais antigo do mundo. E é uma forma respeitosa de tratar a terra, porque, como você quer deixar aquela propriedade para seus filhos e netos, não vai destruir tudo”, conclui a diretora.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo