‘Wandinha’ leva humor ácido e sombrio ao ensino médio

Estadão Conteúdo

Tim Burton nunca escondeu seu desconforto com o mundo. O diretor de Edward Mãos de Tesoura (1990) e Dumbo (2019) sempre gostou dos personagens incompreendidos, hostilizados por terem aparência diferente ou comportamento considerado fora do padrão. Então, é fácil entender por que ele se interessaria em dirigir quatro dos oito episódios de Wandinha, baseada nas aventuras da Família Addams, criada pelo quadrinista Charles Addams na década de 1930, transformada em série de TV em 1964 e famosa pela versão cinematográfica de 1990. É a primeira vez que Burton atua como diretor de tantos episódios de uma série de live action. Wandinha estreia nesta quarta, 23, na Netflix.

Os roteiristas da nova série são Al Gough e Miles Millar, os dois homens por trás de Smallville (2001-2011), sobre a difícil adolescência de outro personagem à margem, Superman. Então é nessa conjunção entre a estranheza de Burton e da criação original de Charles Addams e as dores do crescimento de uma adolescente que se encontra Wandinha.

Para quem não se lembra, Wandinha é a filha de Gomez (Luis Guzmán) e Morticia (Catherine Zeta-Jones) e irmã de Feioso (Isaac Ordonez). Fazem parte do núcleo também Mãozinha, uma espécie de faz-tudo, o estranho Tio Chico (Fred Armisen) e o motorista Tropeço (George Burcea). Mas, à exceção de Mãozinha, eles são meros coadjuvantes. “Trata-se de uma continuação do legado da Família Addams”, disse Guzmán em entrevista ao Estadão. “Wandinha está indo para o ensino médio, ela cresceu. Mas a família mantém seus valores. Eles são sombrios, mas se amam muito.”

Wandinha, a série, foca a agora adolescente (interpretada por Jenna Ortega), que tem um certo prazer com coisas macabras, um apreço pela tortura, pelas trancinhas e por roupas pretas. Apesar disso, a atriz acredita ser fácil se identificar com a personagem. “Série fala de descobrir quem você é, mas também é um drama escolar típico, com garotos que se interessam por ela, meninas que querem ser suas amigas e outras que não querem, coisas que fazem parte da experiência de crescimento”, observou Ortega. “É engraçado ver como Wandinha lida com isso do seu jeito.”

Logo no primeiro episódio, ela é expulsa do colégio ao se vingar dos garotos que fizeram bullying com seu irmão, jogando dezenas de piranhas na piscina. Ela vai para a Escola Nunca Mais, na qual Gómez e Morticia estudaram e se conheceram. É uma instituição para adolescentes especiais, dirigida por Larissa Weems (Gwendoline Christie), em que há lobisomens, vampiros, sereias, gárgulas.

“Acho que muitos filmes e séries de monstros estão falando, na verdade, de pessoas que não se integram tão bem à sociedade”, lembrou Percy Hynes-White, intérprete de Xavier Thorpe, o artista da escola que tenta ser amigo de Wandinha. Hunter Doohan, que faz Tyler Galpin, o garoto sem poderes também interessado em Wandinha, acrescentou: “Para mim, fala de como nos sentimos à margem em nossas próprias vidas, em um momento ou outro”.

No grupo de adolescentes estão ainda Bianca (Joy Sunday), a sereia que é rainha da escola, e vê Wandinha como uma rival, e Enid (Emma Myers), a companheira de quarto da protagonista, que quer ser sua amiga, apesar de ser muito diferente.

Wandinha, por sua vez, tem visões do passado e do futuro. Assim, ela consegue sentir quando um monstro misterioso ataca os habitantes de Jericho. Ele pode ou não ter a ver com a história do lugar, marcada por violência e preconceito contra quem era diferente. Por isso, faz diferença que a intérprete da personagem seja, pela primeira vez, uma latina – no passado, ela foi feita por atrizes como Christina Ricci, que, aliás, aparece aqui como a professora Marilyn Thornhill.

“Isso significa muito para mim, porque, quando eu era criança, era muito fácil ficar desencorajada, já que eu quase nunca me via na TV. Às vezes, parecia simplesmente impossível”, adiantou Ortega. “Então ter alguém como a Wandinha, que é amada por todos, e ser latina, é muito legal. Podemos dar à comunidade alguém para se identificar e se inspirar.”

SORRISOS

Mas a maior diferença dessa Wandinha em relação a outras é que, como ela tem uma série só sua, é possível notar as nuances da personagem – graças também ao talento de Jenna Ortega (de Pânico 5 e X – A Marca da Morte, ambos de 2022). Desta vez, ela até sorri. “É natural sorrir”, admitiu a atriz. “Até porque Wandinha fica feliz com tortura, ama serial killers.” A personagem não gosta mesmo é de chorar. “Ela não acredita nisso, acha uma fraqueza”, afirmou Ortega. “Só que temos oito horas com ela, claro que às vezes ela vai estar mais vulnerável. Então, achava mais interessante mostrar que é uma pessoa de verdade, conhecê-la melhor, porque nunca passamos tanto tempo com ela.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Share This Article
Follow:
Fundada em 1970, a Agência Estado é líder no mercado brasileiro de comunicação em suas áreas de atuação. Por meio dos terminais Broadcast, divulga informações em tempo real para os segmentos financeiro, agrícola, político e corporativo.