Um dos grandes acontecimentos que vai deixar marcas no ano de 2022 é sem sombra de dúvidas, a guerra na Ucrânia, que causou diversos conflitos no país, além de colocar a economia de nações em riscos e para o próximo ano, a previsão é de prolongamento.
De acordo com Flávia Carolina de Rezende Fagundes, internacionalista e professora do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário da Serra Gaúcha – FSG, atualmente, os indicativos mostram que a guerra da Ucrânia deve se estender no próximo ano, isso porque nos últimos meses, o país, com o apoio da Europa e dos Estados Unidos, alcançou ganhos no campo de batalha. Por outro lado, a Rússia espera garantir em 2023 a sua vantagem militar com a conscrição de mais 300 mil soldados, o que tem enfrentado oposição internamente, aumentando a pressão ao líder russo para apresentar resultados.
“Nesses termos, onde ambos buscam uma vitória militar e as possibilidades de uma saída diplomática tem diminuído pelo acirramento das rivalidades no campo global, o conflito deve prosseguir em 2023”, comenta a especialista.
O Brasil, assim como todo o mundo, é afetado pelo efeito inflacionário da guerra. Dessa forma, a inflação será um desafio no próximo ano. Além disso, o Brasil tem como desafio, garantir o abastecimento de fertilizantes, em grande parte advindo da Rússia, para o setor agrícola (o que também pode ter um efeito inflacionário por influenciar os custos de produção).
Já no caso da economia mundial, muito vai depender do desenrolar da guerra da Ucrânia. “A crise energética causada pelo conflito tem tido um efeito inflacionário ao redor do globo, o que tem levado os bancos centrais a aumentarem as taxas de juros, isso deve ter um efeito recessivo na economia estadunidense, e ainda maior na Europa que já está em recessão”.
Segundo a internacionalista, o crescimento chinês também desacelerou por conta de problemas ligados a crise no imobiliário e a política de Covid Zero, então o gigante chinês também crescerá menos em 2023 e dessa maneira, os principais desafios para o próximo ano é a inflação, o baixo crescimento econômico e o alto endividamento dos Estados.
Rezende ressalta que a União Europeia tem mantido seu apoio a Ucrânia no conflito, com envio de ajuda financeira e armamentos, seguindo a liderança dos Estados Unidos. No entanto, passada as eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, a corrida presidencial para 2024 deve começar a ganhar espaço na pauta política norte-americana que diante dos problemas internos do país pode fragilizar o apoio desse à guerra.
“Nesse sentido, no próximo ano, a União Europeia pode se ver em uma situação difícil, se os Estados Unidos se desengajarem do conflito, uma vez que a região passa por uma recessão e pode não ter capacidade de manter a ajuda à Kiev. Tal situação, pode ser uma oportunidade para que as partes busquem uma solução para o conflito”, explica.
Disparo de mísseis e possível invasão à Polônia
No dia 16 de novembro de 2022, a Polônia teve seu território atingido por um míssil de fabricação russa, deixando duas vítimas no país e segundo a professora do curso de Relações Internacionais da FSG: “o incidente que houve na Polônia este ano foi atribuído à um disparo acidental por parte da Ucrânia. Nesse sentido, não podemos descartar incidentes que podem levar ao envolvimento da Polônia no conflito”, salienta.
No entanto, não há sinalizações por parte de Moscou de que exista a intenção em avançar o conflito para a Polônia. Além disso, o incidente na Polônia mostrou a cautela da Rússia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em envolver a Polônia no conflito, uma vez que significaria a agressão contra um membro da OTAN, podendo levar a entrada da organização na guerra. Tal situação significaria uma escalada do conflito que poderia levar à uma guerra nuclear, o que não interessa à nenhuma das partes.
“No caso de uma invasão da Polônia por parte da Rússia, Estados europeus podem se envolver por meio da OTAN, uma vez que a organização caracteriza, como de defesa coletiva, e a Polônia é parte da OTAN. O artigo n. 5 garante proteção militar a qualquer integrante do bloco, ou seja, um ataque contra um membro da organização é como um ataque contra todos”.
Apesar de tudo, no momento não há indicativos de que a Rússia tenha intenções de invadir a Polônia, ainda mais que significaria um enfrentamento direto com a OTAN, o que causaria uma escalada do conflito que poderia ser extremamente perigoso para o mundo.
Por fim, Rezende finaliza dizendo que: “não é possível fazer previsões exatas sobre o desdobramento dos acontecimentos. Mas no momento, não há indicativos de que a guerra possa chegar à um fim no curto prazo. Se tratando de uma guerra de desgaste, na qual não há o uso de toda a capacidade russa, o conflito pode se estender por um longo período, mas nunca se sabe qual será a duração de uma guerra”