O WBTC está em risco de contágio pelo colapso FTX/Alameda Research?

Diário Carioca

“Acontece que as pessoas não são tão avessas ao risco. Por muitas razões, eles não se opõem ao risco, mas se opõem a perder e a possibilidade de perda possui um papel muito importante em sua decisão” – Daniel Kahneman.

As últimas semanas foram marcadas por um grande medo do contágio da FTX/Alameda Research em relação a outros ecossistemas do mercado de cripto. Diversos ruídos e rumores foram criados, deixando os investidores em pânico, como foi o caso da possível depeg (falta de paridade) do WBTC, principal sintético de da rede da , onde por meio de um tweet, o Duo Nine afirmou que a Alameda Research havia mintado mais de 100 mil WBTC sem lastro.

Para esclarecer essa questão realizamos um estudo profundo sobre o funcionamento do WBTC, assim como das movimentações da carteira da Alameda Research associadas a esse sintético. 

O que é o WBTC?

Criado em 2019 pela BitGo, e Ren Project, o WBTC é um token que representa a posse de um BTC em proporção 1:1 na rede Bitcoin, inicialmente criado na rede Ethereum e depois expandido para diversas outras redes.

O projeto permite com que o poder de compra de um BTC seja utilizado dentro do ecossistema de finanças descentralizadas (DeFi) de plataformas de contratos inteligentes, em aplicativos como UNI e AAVE, a fim de ser rentabilizado.

Como ele funciona?

O funcionamento do WBTC tem três atores:

● Custodians (Custodiantes): agentes que fazem a custódia dos BTCs reais na rede Bitcoin e que devem assegurar o fato de que existe sempre um ativo para cada WBTC;

● Merchants (Mercadores): agentes que fornecem liquidez de WBTC para o mercado e que operam os serviços de mintagem e queima de tokens. Dependem dos custodiantes para fazer a consolidação das suas operações;

● Wrappet Tokens DAO: Uma DAO que vota pela adição e/ou remoção de mercadores do grupo.

Quando um mercador deseja criar WBTC, ele deve primeiro fornecer BTC real para um custodiante, que então minta os WBTCs e os forneça para o mercador conduzir suas operações de mercado.

Quando um mercador deseja recuperar os seus BTC, ele deve queimar a quantidade correspondente de WBTC, assim garantindo que a qualquer momento não exista mais ativos emitidos do que BTCs custodiados.

Os tokens custodiados podem ser auditados em uma página da própria WBTC network, onde há uma relação de carteiras que pode ser conferida em modo on-chain, com os seus respectivos saldos.

De acordo com a página da WBTC network, atualmente, existem cerca de 225.000 WBTC em circulação, contra 235.000 BTC em custódia, o que teoricamente diz que todos os WBTCs estão garantidos. 

Alameda e o WBTC

De acordo com levantamento via Wayback Machine, desde 28 de setembro de 2020, a Alameda Research atuou como mercador da WBTC. Nos dias de hoje, o nome da Alameda já foi removido da página de parceiros e, inclusive, a carteira indicada como custodiante da gestora não pode mais ser encontrada na relação.

Ao investigar a carteira da custodiante no explorador de blocos, é possível observar que ela está com saldo vazio e que 5000 bitcoins foram sacados logo após a declaração de falência da Alameda, no dia 11 de novembro.

A partir desta movimentação, rastreamos onde esses 5000 Bitcoins foram parar e identificamos que eles apenas foram remanejados para outras carteiras que funcionam como custodiantes, ou seja, os BTCs permanecem sob custódia do protocolo e apenas foram realocados entre as carteiras, o que é uma prática comum neste tipo de custódia.

Quanto à teoria da mintagem dos 100K de WBTC, é preciso primeiro esclarecer duas coisas: essa informação consta em um painel do Dune Analytics e ainda não foi confirmada de forma independente e mesmo que esse seja o caso, o que importa é que os custodiantes possuem as reservas necessárias para honrar a paridade 1:1 entre WBTC e BTC. E de acordo com a prova de páginas de reserva da WBTC, esse parece ser justamente o caso.

Enquanto for possível trocar um WBTC por um BTC, é possível arbitrar o desconto, comprando o primeiro ativo por um preço mais barato e pegando um BTC a preço cheio, fato apontado pela própria BitGo em seu twitter como uma “oferta de black-friday”.

Na nossa avaliação, a solução parece sólida e o movimento atual parece mais fruto de pânico do mercado (FUD) do que de uma falha na solvência do protocolo. Ainda assim, o mercado parece ter dificuldade para arbitrar o depeg de forma eficiente, cujo desconto que opera na casa é de 0,8% em relação ao preço do Bitcoin.

De todo modo, não recomendamos a utilização de tokens sintéticos como forma de armazenar valor, e não temos como ter certeza de que o pânico de mercado não seja capaz de aprofundar o depeg entre WBTC e BTC. A princípio, ter um desconto entre WBTC e BTC pode até fazer sentido, considerando o fato de que qualquer token sintético tem um risco extra intrínseco a ele.

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Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca