EAV apresenta as exposições ‘Abre Gira’ e ‘Geometrias do habitar’

Diário Carioca
Bruno Miguel. - Tira as flechas do peito do meu padroeiro. - 2022. tinta acrílica, tinta a óleo e tinta em spray sobre tapeçaria. 62,5 x 76 cm. créditos Jaime Acioli

Duas exposições vão apresentar ao público, a partir de 02 de fevereiro, os trabalhos de integrantes da Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage. Abre Gira é a primeira individual de Bruno Miguel, artista e professor da instituição há 13 anos. A mostra ocupará as Cavalariças, sob a curadoria de André Sheik. Já Geometrias do habitar, montada na Capelinha do Parque, reúne trabalhos de Carmen Verônica da Costa Souza, funcionária e aluna da EAV, que adotou o nome artístico Dona Carmen para seguir sua trajetória na cena das artes visuais. A curadoria é de Adriana Nakamuta.

Abre Gira | Bruno Miguel
Curadoria: André Sheik

Através da mistura de tintas acrílica, a óleo e em spray, os trabalhos de Bruno em Abre Gira exibem pinturas sobre tapeçarias antigas compradas em leilões. As obras apresentam entidades e orixás, representações sincréticas religiosas e manifestações presentes na cultura brasileira, como samba, capoeira e festas populares. Desse modo, o artista procura estabelecer ligações com a memória do outro em sua produção, a partir de suportes já existentes e de uso corriqueiro, buscando facilitar o acesso à obra, por meio das vivências afetivas em comum. Neste caso, o sincretismo da umbanda, religião que professa, e outras expressões culturais brasileiras.

Bruno Miguel. _Vovó ama, Vovó cuida._, 2022. tinta acrílica, tinta a óleo e tinta em spray sobre tapeçaria. 49 x 35 cm. créditos Jaime Acioli
Bruno Miguel. _Vovó ama, Vovó cuida._, 2022. tinta acrílica, tinta a óleo e tinta em spray sobre tapeçaria. 49 x 35 cm. créditos Jaime Acioli

“Se grande parte da arte ocidental tem sua origem associada à pintura religiosa cristã, ao retratar elementos de uma crença de matriz africana sobre tapetes, cuja origem é de uma tradição europeia, o artista ressignifica esses tecidos e acrescenta a eles a cultura miscigenada brasileira. Nesse processo, o artista inverte a lógica do protagonismo”, ressalta André Sheik, curador da exposição.

O conjunto a ser exibido em Abre Gira teve início durante a pandemia de Covid-19, coincidindo com o despertar mediúnico de Bruno Miguel. Durante todo o processo e o desenvolvimento da pesquisa, ele consultou e respeitou seus guias espirituais, irmãos de fé e seu pai de santo. Para o artista: “Abre Gira é respeito, amor e muito axé”.

Na opinião do historiador brasileiro Luiz Antonio Simas, “os trabalhos de Bruno Miguel que compõem essa exposição ganham contornos que desafiam, driblam, subvertem os projetos de exclusão do Brasil oficial em nome da força espantosa das brasilidades encantadas. Interferindo em tapeçarias com personagens, cenas e ambientes europeus, e trazendo para a arte-gira orixás, guias, encantados, caboclos, malandros, pombagiras, carnavais, tambores, flechas, cocares; o artista celebra a sofisticação de saberes e modos de vida que dão uma rasteira no racismo estrutural, na colonialidade, nos projetos de branqueamento físico, espiritual, artístico e filosófico”.

Bruno Miguel. _A Primeira Gira no Brasil._, 2022. tinta acrílica, tinta a óleo e tinta em spray sobre tapeçaria. 88,5 x 114 cm. créditos Jaime Acioli

Professor e ex-aluno da EAV, Bruno celebra a oportunidade: “Eu até já havia exposto nas galerias do Parque Lage como aluno, mas foi maravilhoso saber que, no meu décimo terceiro ano como professor da instituição, finalmente terei meu trabalho exibido nesse lugar tão importante para as artes visuais brasileiras”.

Bruno Miguel. _Quem é o cavaleiro que vem lá de Aruanda__, 2022. tinta acrílica, tinta a óleo e tinta em spray sobre tapeçaria. 142 x 184 cm. créditos Jaime Acioli
Bruno Miguel. _Quem é o cavaleiro que vem lá de Aruanda__, 2022. tinta acrílica, tinta a óleo e tinta em spray sobre tapeçaria. 142 x 184 cm. créditos Jaime Acioli

Bruno Miguel é artista, professor e curador carioca. Formado pela Escola de Belas Artes da UFRJ em licenciatura em artes plásticas e pintura, fez inúmeros cursos na EAV Parque Lage, participando do programa “Aprofundamento” em 2010, e desde o ano seguinte é professor da escola. Como artista participa desde 2007 de exposições individuais e coletivas no Brasil e em países como EUA, Alemanha, Portugal, Turquia, Peru, Bolívia, Colômbia, Argentina e Chile. Suas obras estão em importantes coleções institucionais e particulares, nacionais e internacionais. Fez também a curadoria de mostras individuais e coletivas em Londres, Rio de Janeiro e São Paulo.

Geometrias do habitar | Dona Carmen
Curadoria: Adriana Nakamuta

‘Geometria’ e ‘habitar’ foram as palavras escolhidas para intitular a exposição de Dona Carmen. Em seu trabalho, as geometrias são constituídas paralelamente à própria construção do espaço físico pictórico da tela, presenteando o espectador com uma geometria que abraça. Suas pinturas são matérias visuais expressivas de muitas linhas e planos que habitam as suas inspirações e memórias.

Dona Carmen. crédito Renan Lima
Dona Carmen. crédito Renan Lima

Carinhosamente conhecida como Carminha, a artista é parte da memória afetiva dos que passaram pela EAV na última década. À frente da secretaria da escola há 12  anos, ela é assistente de ensino e secretária do diretor. Bolsista da instituição, foi aluna de Anna Bella Geiger, Fernando Cocchiarale, Marcelo Campos, Carli Portella e atualmente frequenta as aulas do curso ‘A pintura como um fazer’, ministrado por Alberto Saraiva, professor e diretor da instituição.

“Sua pintura tem uma geometria sensível construída em camadas; primeiro ela prepara a base da tela em gesso, depois desenha e pinta uma geometria de base em preto e branco, só depois é que vem com as estruturas geométricas coloridas. Ela estabeleceu um processo conceitual claro de construção de suas pinturas, de baixo para cima, e utiliza apenas três cores: azul, amarelo e vermelho, as cores primárias”, observa Alberto.

crédito Renan Lima
crédito Renan Lima

De acordo com Dona Carmen, foi a partir das aulas com Alberto que passou a pintar livremente e discutir seu trabalho. “Pude ir tomando minhas decisões sobre como pintar, criando minhas próprias cores e entrando cada vez mais no universo das formas geométricas. Geometria era meu forte desde criança na escola e, por isso, acho que veio tão impositiva na pintura. A geometria é uma vivência diária, da arquitetura de casa até a da cidade, faz parte integral da vida. Aqui no Rio, nós construímos nossas próprias casas. Nossa geometria é a realidade cotidiana”, afirma a artista.

“A Carminha é a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Essa afirmação consiste em responder perguntas que nós temos feito sobre o lugar da produção artística contemporânea na instituição e as artistas que contribuem para isso. Revelar e tornar público novas contribuições também é nosso propósito enquanto espaço de ensino, troca e experimentações! Nesse sentido, recepcionar na Capelinha as pinturas de Dona Carmem nos orgulha profundamente”, declara Adriana Nakamuta.

crédito Renan Lima (
crédito Renan Lima (

Dona Carmen, 57 anos, é carioca, artista e funcionária da EAV Parque Lage.

SERVIÇO:

Abre Gira

Local: Cavalariças

Abertura: 02 de fevereiro de 2023, de 19h às 21h

Até 02 de abril de 2023

Visitação: de quinta à terça-feira, das 10h às 17h

Geometrias do habitar

Local: Capelinha da Escola de Artes Visuais do Parque Lage

Abertura: 02 de fevereiro de 2023, de 19h às 21h

Visitação: 9h às 17h, de quinta à terça-feira, até 02 de abril de 2023

Escola de Arte Visuais do Parque Lage
Rua Jardim Botânico, 414 – Rio de JaneiroWebsite: http://eavparquelage.rj.gov.br/
Instagram: @parquelage
Whatsapp: (21) 99228-7955 | 96654-3179

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