O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, assinou nesta sexta-feira (31/03) a compra do Edifício Joseph Gire, também conhecido como “A Noite”, na Praça Mauá, no Centro. O município adquiriu o imóvel histórico por R$ 28,9 milhões após tentativas frustradas de negociação entre o governo federal e a iniciativa privada. O objetivo da Prefeitura ao adquirir o prédio, inicialmente, é o de negociá-lo com a iniciativa privada. Além do prefeito, o superintendente substituto do Patrimônio da União (SPU) no Rio, Carlos Augusto Rodrigues, também participou da cerimônia.
– A gente vive uma consolidação do projeto Porto Maravilha. Estamos vendo agora os lançamentos imobiliários, mais de seis mil unidades de apartamentos residenciais já vendidas, sendo construídas. Em três meses a gente conseguiu realizar esse sonho, que é ter o edifício A Noite disponibilizado para o mercado, em condições favoráveis. A Prefeitura consegue negociar melhor com o setor privado, nosso desejo é ter aqui um projeto residencial ou um hotel, entendemos que é um estímulo que estamos dando ao Centro da cidade. O papel da Prefeitura é fazer a infraestrutura, e isso já temos aqui, estamos em frente ao mar, com esta vista incrível da Baía de Guanabara – disse o prefeito.
O município fará a negociação do edifício via fundo de investimento imobiliário, o que permite mais versatilidade à negociação com investidores privados, como pagamento com entrada mais parcelamento e permutas. Nos últimos anos, a Prefeitura fez negociações de imóveis públicos similares, como um terreno no Santo Cristo onde está sendo erguido um empreendimento residencial, o Rio Energy. Outro exemplo é o prédio no Largo dos Leões, no Humaitá, que será convertido em outro residencial
Após quatro tentativas de venda pelo governo federal entre 2021 e 2022, a SPU disponibilizou o prédio no mercado pela quinta vez. Em setembro de 2022, o prefeito Eduardo Paes anunciou que o compraria caso não houvesse uma proposta até o prazo estabelecido para lances, no dia 18 de fevereiro de 2023. Como as propostas privadas não vieram, dias antes do prazo a Prefeitura do Rio deu entrada na aquisição do A Noite.
– Um imóvel desse porte não pode ficar sem uso, e a recuperação do prédio vai ter um efeito multiplicador em todo o Centro. Essa já é uma região revitalizada, com vários empreendimentos. E ficamos muito felizes com esse projeto – comentou o superintendente da SPU, Carlos Augusto Rodrigues.
A compra é um marco importante para induzir ainda mais a revitalização da região central. O prédio é um ícone da cidade na Praça Mauá, coração do Porto Maravilha. O entorno já revitalizado pelas obras do Porto deve ganhar ainda mais potencial com a venda do edifício, que fica em endereço privilegiado, em frente ao museu mais visitado do Brasil e símbolo da renovação da área: o Museu do Amanhã.
– A Praça Mauá foi o início da revitalização do Porto Maravilha, a gente fez o Museu do Amanhã, hoje tem o Museu de Arte do Rio, é um lugar muito frequentado. Esses dois museus, juntos, atraem mais de 100 mil pessoas todo mês, e o prédio, infelizmente, ficou no meio dessa revitalização. Aqui na frente passava a Perimetral, às vezes a gente esquece disso, era um lugar escuro, ninguém passava, as pessoas vinham pela Rio Branco, não atravessavam esse limite aqui da Praça Mauá. E esse prédio, infelizmente, ficou esses oito anos fechado. Agora, vindo para a Prefeitura, somos capazes de estruturar um projeto para dar uma ocupação ao imóvel – disse o presidente da Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar), Gustavo Guerrante.
Sobre o edifício A Noite
O edifício A Noite, construído na década de 1920, no Centro do Rio de Janeiro, é tido por muitos como um dos grandes marcos da arquitetura brasileira. Considerado o maior prédio da América Latina na época da sua inauguração, em 1929, foi batizado em referência ao jornal homônimo sediado no local. O arranha-céu de 22 andares e 102 metros de altura, em estilo art déco, também foi a casa da vanguardista Rádio Nacional – emissora de maior audiência do país na época – além de consulados e do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).
Inaugurado de frente para a Praça Mauá e com o cenário da Baía de Guanabara ao fundo, o edifício foi projetado pelos arquitetos Joseph Gire – nome por trás do Copacabana Palace e do Hotel Glória – e Elisiário Bahiana. Em 1936, recebeu sua moradora mais conhecida: a Rádio Nacional.
Pelos corredores dos quatro andares ocupados pela emissora passaram nomes como as cantoras Emilinha Borba, uma das intérpretes mais populares da Rádio Nacional, e Marlene, além de outros grandes artistas da música popular brasileira como Dalva de Oliveira, Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto e Elizeth Cardoso.
Foi no ano de 1940, por conta de dívidas com o Governo Federal, que o prédio passou a ser propriedade da União. Tombado em 2013 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) pelas suas características arquitetônicas e históricas, tornou-se ícone da região portuária da cidade.