Sentado no vaso, eu a observava através do vidro molhado que a isolava de mim, à distância de um metro, sob a ducha. Seus gestos eram langorosos. Lavou os cabelos com xampu, longamente, e depois se pôs a deslizar espuma de sabonete na sua pele. Abaixou-se e os quadris ficaram ainda mais bonitos. Levantou-se, os olhos fechados, talvez sonhando que corria, nua, sob a chuva, no meio do roseiral e das zínias, numa paleta de Van Gog.
Ela era tão jovem, e eu já então um sátiro, quando percorri pela primeira vez a relva do seu corpo, caminhos ensolarados, santuário que se abriu para os meus sentidos, viagem sempre recomeçada, segredos só nossos.
Sozinha, imersa nos seus pensamentos de mulher, ela sorriu, a água deslizando pelo seu dorso de jambo, e parou subitamente. Escorreu os cabelos, apanhou a toalha e começou a se enxugar sem pressa, esfregando-a levemente na sua alva pele de mulher negra. Ver a mulher amada tomar banho, perceber seu quase imperceptível sorriso de felicidade, é um sinal de Deus.
Ela pôs um pé para fora do boxe, secou-o, e pôs o outro… só então percebeu minha presença, inclinou-se, num gesto gracioso, que somente às mulheres é possível, me beijou levemente na boca e saiu do banheiro. Levantei-me do vaso e fui fazer a barba.