‘Memórias Negras’: nova série do ‘SP2’ relembra a presença negra na história de São Paulo

Diário Carioca

Divulgação GloboHistórias que os livros não contam. Memórias que não podem ser apagadas. A série ‘Memórias Negras’, que vai ao ar no ‘SP2’ a partir deste sábado, dia 8, traz histórias da população negra que habitou determinados territórios da capital paulista nos séculos XIII e XIX. Conduzida pela repórter Gabriela Dias e exibida sempre aos sábados, a série percorre bairros como Liberdade, Bixiga e a região central da cidade, onde negros escravizados e alforriados viveram por mais de 200 anos. ”Faremos um giro por esses locais para contar que memórias negras são essas, o que representa essas memórias em cada local hoje em dia e o que pode ser feito daqui para frente para preservar a presença negra nesses espaços”, conta Gabriela.   

Na primeira reportagem, a equipe vai ao bairro da Liberdade que, antes de ser reconhecida como um reduto dos orientais, era ocupado por negros. Dessa época, resta apenas a Capela dos Aflitos na região, tombada pelo Patrimônio Histórico e conhecida por receber devotos de Chaguinhas, soldado negro que foi morto por reivindicar salários atrasados. “É o símbolo de uma resistência que veio de ancestrais nossos que edificaram essa capela para poder trazer aos seus um rito de morte. E ela também resiste porque outros grupos de movimentos negros conseguiram manter essa capela até os dias de hoje”, explica o pesquisador Wesley Vieira, um dos entrevistados. Essas memórias – que foram quase perdidas – serão preservadas em um Memorial, que será construído junto à capela.

O Bixiga, bairro que abrigou um dos primeiros quilombos da cidade, o Quilombo do Saracura, conhecido como “pequena África”, é o cenário do segundo episódio. A escola de samba Vai-Vai nasceu dos descendentes desse quilombo. O progresso quase apagou essas memórias. O terreno que foi sede da Vai-Vai por mais de 50 anos vai dar lugar a uma estação do metrô. Durante a escavação para a construção da Linha 6-Laranja foi descoberto um sítio arqueológico. Objetos como louças, couro e até ossos de animais foram encontrados, o que reacendeu a questão da preservação das memórias do Quilombo do Saracura. “A gente quer um museu no território. Consideramos que a estação deve se chamar estação Quilombo-Saracura-Vai-Vai. Precisa ser um memorial à história negra e à memória negra no Bixiga”, diz Luciana Araújo, integrante do Movimento Negro Unificado.

A terceira reportagem conta a história da igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, primeira Irmandade negra do estado de São Paulo, erguida no século XIII por escravos e abolicionistas no antigo Largo do Rosário. No início do século XX, a igreja foi demolida e construída em outro lugar. A antiga Praça do Rosário se transformou na Praça Antônio Prado, e, no lugar da igreja, foi construído o primeiro edifício de escritórios de São Paulo. A Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos foi então erguida no terreno do Largo do Paissandu, onde está até hoje. A Irmandade vive na arquitetura, nos altares, na liturgia de rito católico com influência africana como um símbolo de sincretismo religioso e de resistência. “Eu acho que essa igreja permanece pela resistência e a continuidade das gerações”, diz o padre Luiz Fernando de Oliveira. 

O último episódio aponta para o futuro, mostrando como o legado do povo negro deve ser defendido, mantido e valorizado para as próximas gerações. Entre os exemplos, a importância da educação antirracista nas escolas e outras iniciativas para a difusão da cultura afro-brasileira e resgate da ancestralidade, como o empreendedorismo negro. Criadora da Casa Preta Hub (CASA), polo de criatividade, desenvolvimento e fomento para acelerar empreendedorismo negro, Adriana Barbosa destaca o seu objetivo com a idealização. “Eu gostaria que a população negra pudesse ser vista e percebida não só do ponto de vista braçal, mas do ponto de vista intelectual. Então, é esse lugar que eu sinto falta e que a CASA tenta estimular, para que mais pessoas pretas possam contar as suas histórias em diferentes áreas”, diz Adriana.

A série ‘Memórias Negras’ vai ao ar no ‘SP2’, na TV Globo, todos os sábados durante o mês de abril, a partir do dia 8. 

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Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca