MAM Rio celebra 75 anos com exposição que reúne 500 peças

Diário Carioca
Obra de Carlos Vergara estará na celebração dos 75 anos do MAM

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro celebra seus 75 anos com a abertura da exposição Museu-escola-cidade: o MAM Rio em cinco perspectivas, no dia 27 de maio de 2023. Com cerca de 500 itens, entre obras do acervo e documentos do arquivo da instituição, a mostra propõe um exercício de memória a partir dos cinco eixos temáticos que foram fundamentais para a sua história, e apresenta um evento que mudou o curso do museu. 

Assim, o público é convidado a olhar para a trajetória do MAM Rio nas suas três primeiras décadas por meio da educação, do design, da experimentação na produção artística, da Cinemateca do MAM e dos movimentos artísticos na história da arte brasileira e internacional, tendo como marco temporal o incêndio de 1978. A curadoria resulta de um esforço de todas as equipes do museu, que se uniram em um processo coletivo para realizar a mostra.

“Os campos de atuação escolhidos cimentam a relevância do MAM Rio como uma instituição que se entende, desde sua fundação, como um centro de formação e um espaço intimamente ligado às dinâmicas da cidade”, comenta o diretor artístico Pablo Lafuente. “Em cada uma dessas áreas, obras do acervo são apresentadas junto a documentos dos arquivos do museu, escrevendo a história por meio de objetos, registros e narrativas que mostram cursos de ação que se entrecruzam em movimentos de convergência e divergência.”

A exposição reúne grandes nomes do acervo do MAM Rio para pontuar os momentos em que o museu foi espaço de experimentação, produção de pensamento e fazer artístico: Abraham Palatnik, Alberto Giacometti, Anita Malfatti, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Antonio Dias, Candido Portinari, Carlos Vergara, Carlos Zilio, Cildo Meireles, Constantin Brancuși, Fayga Ostrower, Hélio Oiticica, Ivan Serpa, Lygia Clark, Lygia Pape, Max Bill, Nelson Leirner, Rubens Gerchman, Tunga e Willys de Castro, dentre 93 nomes da arte brasileira e internacional. 

“Podemos dizer que é uma exposição coletiva e parcial. Coletiva porque conta sobre ações desenvolvidas por muitos, dentro e fora do museu. Em resposta, sua curadoria é assinada pela totalidade da atual equipe da instituição. Parcial porque é feita a partir de escolhas que necessariamente deixam de fora muitos elementos e histórias e, portanto, demandam que o exercício de memória e reflexão a que ela dá início seja contínuo”, avalia Lafuente. 

“Atuando de forma revolucionária, o MAM Rio não somente abrigou manifestações artísticas, mas apoiou e incentivou a experimentação”, destaca Beatriz Lemos, curadora do museu. “A ideia da mostra é dar visibilidade a esses momentos em que a instituição foi um espaço único de vanguarda.” 

Criado como um museu-escola, em 3 de maio de 1948, o MAM Rio encontra-se instalado desde 1958 no icônico edifício localizado à beira da Baía de Guanabara. Referência da arquitetura moderna mundial, o projeto de Affonso Eduardo Reidy foi assolado por um incêndio em 1978, que marcou a mudança de períodos na história da instituição. O evento permeia a narrativa criada pela mostra museu-escola-cidade, que ocupa o Salão Monumental e revisita seu projeto expositivo original, desenhado por Karl Heinz Bergmiller. 

Composto por painéis, vitrines e pedestais, o sistema criado pelo designer de origem alemã foi usado na expografia entre 1967 e 1978. “Bergmiller pensa em todos os preceitos da arquitetura do museu e tem a preocupação de manter o vão livre. Ele constrói esse sistema modular e móvel para que possa ser modificado com facilidade, permitindo a utilização do prédio de diferentes formas”, explica Aline Siqueira, pesquisadora da equipe do MAM Rio.

Espacialmente, os períodos e as áreas de trabalho do museu se mesclam ao longo desta mostra, que se debruça sobre as perspectivas institucionais a partir dos cinco eixos curatoriais. 

O MAM Rio sob cinco lentes

A seção dedicada à educação salienta o pensamento que acompanha o museu desde a sua fundação, com cursos de teoria e prática de diversas modalidades, ministrados por artistas a partir de 1952. Ganham destaque os primeiros cursos desenvolvidos a partir de 1958, no Bloco Escola. A mudança de perfil dos cursos sob a coordenação de Frederico Morais em 1969, em que o foco passa a ser a experimentação, é outro ponto alto. Bem como o momento pós-incêndio, com iniciativas de outros projetos que assumiram a educação do museu até os tempos mais recentes, incluindo a ocupação do Galpão das Artes, projetado no local/espaço destinado ao Teatro, que serviu de espaço para os ateliês nos anos 1990.

Entre as fotografias das atividades realizadas nos diversos espaços do museu, desde os ateliês provisórios até os eventos promovidos nos entornos da instituição, merecem atenção os registros dos Domingos da Criação – iniciativa incontornável na escrita da história do museu, idealizada pelo então coordenador de cursos, Frederico Morais. Também compõem a seção capas dos catálogos das exposições dos alunos do artista Ivan Serpa e obras dos expoentes que atuaram como professores no Bloco Escola, como Aluísio Carvão, Anna Bella Geiger, Carlos Vergara, Cildo Meireles, Décio Vieira e Fayga Ostrower.

Esta perspectiva educacional encontra a sessão dedicada ao design na abordagem sobre a Escola Técnica de Criação (ETC), projeto feito em parceria com o artista argentino Tomás Maldonado que teve como inspiração conceitual e prática a Escola de Ulm, na Alemanha, onde ele era professor. Apesar de não ter sido executado, suas ideias foram fundamentais para a criação do programa pedagógico do Bloco Escola, influenciaram a criação da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) da UERJ, inaugurada em 1962, e formaram as bases para a implementação do Instituto de Desenho Industrial (IDI), que funcionou no museu entre 1968 e 1980. Esta seção explora também o design do logotipo do MAM Rio e o sistema de exposições de Bergmiller, reconstruído para a mostra.

“O museu é um lugar definidor na história do design brasileiro, uma vez que traz o frescor do que se fazia de vanguarda no mundo, em conexão com o Rio de Janeiro”, situa Beatriz Lemos. Esta seção traz fotografias de Tomás Maldonado e Max Bill, ligados à diretoria e à programação da ETC; e a documentação do período de atuação do IDI, em que propôs exposições, organizou as Bienais Internacionais de Desenho Industrial e atuou na consultoria de manuais de mobiliário escolar para o Ministério da Educação e Cultura. Também são exibidas algumas páginas do projeto de Bergmiller, que registram a sua instalação no espaço expositivo; peças de mobiliário que poucas vezes foram expostas, como as cadeiras de Joaquim Tenreiro e Le Corbusier; e uma história visual da logomarca do MAM Rio.

O bloco sobre o fazer experimental mergulha na atitude artística que entra no museu com na Unidade Experimental – um grupo de trabalho e laboratório pedagógico criado por Frederico Morais, no Bloco Escola, que visava promover experiências em todos os níveis. “Daí surge um modo de pensar arte muito próprio do momento, que não se rende ao objeto de arte nem ao mercado ou à ideia tradicional de exposição, mas à própria experimentação. Isso se torna uma metodologia comum na arte até os dias de hoje”, explica Beatriz Lemos.

O anteprojeto de regulamentação da Unidade Experimental é um dos destaques da seção, junto a obras de Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Carlos Zilio, Artur Barrio, Lygia Clark, Lygia Pape, Tunga, Antonio Manuel, Luiz Alphonsus e Antonio Dias. Estes e outros artistas participaram das experimentações que resultaram em exposições – como Circumambulatio, de Anna Bella Geiger, desenvolvida em parceria com os alunos do curso ministrado por ela – e eventos organizados dentro do museu e no seu entorno.

Outro pilar que sustenta a concepção do MAM Rio é a Cinemateca, cujo modelo original engloba o acervo de filmes, documentação e pesquisa, e tem como carro-chefe a programação, que introduz a ideia de memória do cinema junto ao público. Em atividade desde 1955, a Cinemateca do MAM influenciou gerações de realizadores, incluindo a do Cinema Novo de 1968 e a de curta-metragistas dos anos 1960 e 1970, marcando a cultura carioca. Atualmente, a Cinemateca do MAM promove exposições, debates e encontros, além de oferecer apoio nacional e internacional a mostras e retrospectivas, principalmente sobre cinema brasileiro.

Nesse núcleo da exposição, o público tem acesso à documentação relacionada à programação e a parte do acervo histórico da Cinemateca, como projetores, lanternas mágicas e cartazes raros.

Por fim, Museu-escola-cidade resgata alguns dos movimentos artísticos que estiveram ligados à história do MAM Rio, destacando o papel da instituição como propositora desses movimentos e do seu desenvolvimento. Associado ao modernismo desde a sua fundação, o MAM Rio assumiu como tarefa principal acolher e dar acesso à arte do seu tempo, e também contribuiu diretamente na criação de outros movimentos artísticos como a abstração geométrica, o neoconcretismo, a nova figuração e a experimentação. 

“O museu estava ligado a todos esses movimentos da passagem da arte moderna para o início da arte contemporânea, entre o final dos anos 1950 e a década de 1970”, ressalta Beatriz Lemos. Ganham destaque as primeiras obras adquiridas para o acervo, de importantes nomes da arte nacional e internacional como Alberto Giacometti, Anita Malfatti, Candido Portinari, Djanira, Fernand Léger, Victor Brecheret e Heitor dos Prazeres, além de obras daqueles que estiveram diretamente envolvidos no surgimento desses movimentos artísticos no espaço do MAM Rio.

Para além dos cinco conceitos, há ainda um sexto núcleo, dedicado ao ano de 1978, quando ocorreu o fatídico incêndio que atingiu o Bloco de Exposições e destruiu 585 obras, aproximadamente a metade do acervo, além da totalidade da biblioteca. A mostra não foca no fato em si, mas na resposta da sociedade civil e dos artistas e outros profissionais da cultura de reconstruir o museu e seu acervo. 

Além de fotografias do dia do incêndio e da documentação acerca da mobilização, que reuniu mais de três mil pessoas nos pilotis do MAM Rio, esta parte da exposição traz obras que foram restauradas posteriormente – como a tela Composição (1952), de Lygia Clark – e aquelas transformadas por seus autores, como é o caso de Nelson Leirner, que converteu Homenagem a Fontana (1967) num díptico em 2013, e de Glauco Rodrigues, que restaurou parcialmente à tela Índio verde e amarelo (1975).

Em paralelo, ao longo do ano e de forma continuada, as equipes do MAM Rio vão se dedicar a completar o acervo documental da instituição, ao registrar o depoimento de artistas e pessoas que fizeram parte destas histórias, engajando-se em um processo de reflexão sobre o futuro do museu. 

A exposição é patrocinada pelo Instituto Cultural Vale, Ternium, Mattos Filho Advogados, BMA Advogados, Redecard, Sergio Bermudes Advogados, Gávea Investimentos, Eneva e Granado por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A mostra conta ainda com apoio institucional da Canson e da Arte Lab.

Por ocasião das comemorações de aniversário, a Orfeu Cafés Especiais se une ao MAM Rio em uma parceria que tem como resultado o lançamento de uma edição limitada de seu café, que a partir de 26 de maio será vendido na loja do MAM Rio e no site da Orfeu. Desenvolvido especialmente para o MAM Rio, o produto inclui uma variedade 100% Arábica cujo primeiro talhão data de 1948, ano da ata inaugural do museu.

Sobre o MAM Rio

A partir do tripé arte-cultura-educação, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro trabalha com a preservação, desenvolvimento e compartilhamento de práticas de criação e pensamento. O MAM Rio tem como patrocinadores estratégicos o Instituto Cultural Vale e a Ternium através da Lei Federal de Incentivo à Cultura e a Petrobras através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro. O museu promove a criação artística e cultural como processo de formação de indivíduos e coletivos. Desde a sua fundação em 1948, atua como um importante agente, contribuindo com a movimentação social dos territórios da cidade por meio da cultura. O acervo de cerca de 16 mil obras é uma das mais relevantes coleções de arte moderna e contemporânea da América Latina. O MAM Rio também conta com patrocínio da Mattos Filho Advogados, BMA Advogados, Redecard, Sergio Bermudes Advogados, Gávea Investimentos, Eneva e Granado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura; Vivo, BAT Brasil e Léo Social através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura – Lei do ICMS RJ; Deloitte, XP Private, Adam Capital, Concremat, Globo, Guelt Investimentos, Icatu e Multiterminais através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS RJ.

SERVIÇO:

Museu-escola-cidade: o MAM Rio em cinco perspectivas

Abertura: 27 de maio de 2023

Encerramento: 3 de dezembro de 2023

MAM Rio

End: av. Infante Dom Henrique, 85

Aterro do Flamengo – Rio de Janeiro

Tel: (21) 3883-5600

Instagram: @mam.rio

Horários:

De quarta a domingo (incluindo feriados), das 10h às 18h

Aos domingos, das 10h às 11h, visitação exclusiva para pessoas com deficiência intelectual

Ingressos:

Contribuição sugerida, com opção de acesso gratuito
Valores sugeridos:
Adultos: R$ 20

Crianças, estudantes e +60: R$ 10 

Ingressos on-line: www.mam.rio/ingressos

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