Nos próximos dias 12, 13 e 14 de maio, o Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro irá receber a exposição “Ore ypy rã – Tempo de Origem” e o evento “Cosmovisões da Floresta”, em parceria com Selvagem Ciclo de Estudos, com oficinas e palestras que possibilitarão ao grande público um novo olhar sobre a ancestralidade. A ocasião será o momento de apresentar os resultados de três anos de pesquisa do projeto “Ore ypy rã”, idealizado pelas curadoras Sandra Benites, indígena Guarani Nhadeva, e Anita Ekman. Elas trabalham, desde 2021, com o objetivo de mapear artefatos arqueológicos dos indígenas do Brasil espalhados em museus dos Estados Unidos e da Europa. O evento será realizado com apoio do projeto Juntes na Cultura, parceria entre o Goethe-Institut Rio de Janeiro e o Consulado Geral da França no Rio de Janeiro.
A pesquisa de Sandra e Anita resultou no mapeamento de urnas funerárias da Ilha de Marajó (PA) e de zóolitos sambaquis provenientes de Santa Catarina. As peças mapeadas até o momento com o auxílio da arqueóloga Cristiana Barreto, especialista em coleções marajoaras, demonstraram que a história por trás dessas coleções está intimamente ligada à violência e ao legado colonial das expedições científicas organizadas no final do século XIX para as florestas brasileiras. E que foram lideradas por homens europeus e norte-americanos a fim de formarem as coleções dos museus ao redor do mundo.
Espalhadas em mais de 20 instituições, as coleções marajoaras estão presentes, dentre outros, no Museu Etnológico de Berlim, no Museu do Quai Branly da França e no Peabody Museum de Harvard (EUA), além de oito museus brasileiros, como o Goeldi e o de Arqueologia e Etnologia da USP. Através de parcerias nacionais e internacionais, como com o Atlas of Lost Finds, o “Ore ypy rã – Tempo de Origem” pôde digitalizar e realizar a impressão em cerâmica 3D de algumas dessas peças.
O público terá acesso não só a parte delas na exposição, mas também poderá acompanhar a impressão em cerâmica 3D in loco de uma urna perdida no incêndio que aconteceu, em 2018, no Museu Nacional/UFRJ. Além disso, quem for ao MAM participará de uma oficina interativa com a primeira tecnologia de impressão das Américas: um carimbo de pintura corporal de cerâmica também usado entre os marajoaras. De acordo com as curadoras, a ideia é mostrar como passado e presente se conectam em suas tecnologias e promover uma experiência única aos visitantes.
“O Brasil ainda não pediu o repatriamento dos seus artefatos arqueológicos. Mais do que recuperar o patrimônio material, precisamos compreender e ressignificar o sentido desse patrimônio arqueológico a partir da visão e da salvaguarda do patrimônio imaterial das comunidades, dos povos da floresta”, explica Anita Ekman, que é artista visual e pesquisadora de arte rupestre, arte pré-colonial e história das florestas tropicais na América do Sul. Ela trabalha há 20 anos com pesquisadores e líderes Guarani.
Já Sandra, pesquisadora, ativista, antropóloga e educadora, traz sua vivência para o projeto. “A todo momento, o indígena é invisibilizado na nossa sociedade; o direito à terra é negado. Aqui, resgatamos a arte de mulheres indígenas que foram arrancadas da sua mãe-terra”, afirma a curadora, que, recentemente, tornou-se a primeira indígena a ocupar o cargo de diretora de Artes Visuais da Funarte.
Em paralelo ao evento no MAM, o Juntes na Cultura também estará promovendo uma mostra de cinema no Estação NET Rio, em Botafogo. Serão quatro filmes que tratam de assuntos como decolonização, protagonismo indígena e pilhagem de obras de arte. As sessões acontecerão, sempre às 19h30, nos dias 12, 13 e 14 de maio. No dia 13, haverá também uma mesa redonda sobre as cosmovisões indígenas do Atlântico com os criadores dos filmes “Leviathan – Episódio 8”, Shezad Dawood, Carlos Papa, Anita Ekman, Sandra Benites e Cristine Takua, e “A Serra do Roncador ao Poente”, Armando Lacerda.
PROGRAMAÇÃO
12 de maio (sexta)
- A partir das 9h: Impressão da urna perdida no incêndio do Museu Nacional
- 16:00 – 17:00: Abertura da exposição
- Mesa de Abertura sobre o Projeto Tempo de Origem e o Rematriamento dos artefatos arqueológicos indígenas do Brasil através da arte contemporânea, com Larissa Ye’padiho, Anita Ekman, Cilene Andrade (Coletivo Mangue Marajó) e Isabel Hölzl (Diretora do Instituto Goethe). Mediação: Cristiana Barreto.
- Palestra da arqueóloga Cristiana Barreto: Cerâmica Marajoara – Patrimônio em diáspora.
13 de maio (sábado)
- 10:00 – 10:30: Abertura da exposição com reza e música
- Carlos Papa, Cristine Takua e acompanhamento de violão de Patrick Angello
- 11:30 – 12:30: Arqueologia e arte contemporânea
- Oficina de impressão 3D em cerâmica, criação de carimbos de cerâmica para pintura corporal e pintura em tecido.
- Atividade aberta para crianças e pais com Chico Simões, Anita Ekman e Verônica Pinheiro.
- 15:00 – 16:00: Conversas com o Objeto – o caso da Urna de Berlim*. Coordenação de Claudia Mattos Avolese, com a participação de Larissa Ye´padiho, Cilene Oliveira Andrade (Atelier Mangue Marajó) e convidados.
*Urna re-materializada pelo projeto Atlas of Lost Finds e Tempo de Origem no Ateliê Mangue Marajó.
- 16:00 – 17:00: Cosmovisões indígenas da floresta
- A nhe´ery (Mata Atlântica) Guarani e os Sambaquis: Palestra sobre a Nhe´ery de Carlos Papa, Cristine Takua e palestra sobre os Sambaqui e a história indígena da Baía de Guanabara com Diogo Borges (arqueólogo). Mediação: Anita Ekman.
14 de maio (domingo)
- Exposição
SERVIÇO
Exposição Ore ypy rã – Tempo de Origem
Datas: 12, 13 e 14 de maio
Local: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – Av. Infante Dom Henrique, 85 – Parque do Flamengo, Rio de Janeiro
Entrada gratuita