A descarbonização da economia é uma das missões do Plano de Retomada da Indústria, proposto pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e entregue ao governo brasileiro. O documento elencou quatro missões para a retomada do crescimento do país: descarbonização, transformação digital, saúde e segurança sanitária e defesa e segurança nacional.
Diante da importância de descarbonizar a economia, novos modelos de desenvolvimento baseados na integração entre os sistemas econômicos e ecológicos estão surgindo. A economia circular (EC) e a bioeconomia se apresentam como abordagens promissoras.
A economia circular substitui a economia linear que prevalece hoje em dia. O sistema linear de produção se caracteriza pela extração de recursos naturais, processamento, venda e comercialização dos produtos e, consequentemente, o descarte depois que não são mais úteis.
De acordo com o coordenador do curso de Engenharia de Produção do Cesuca Centro Universitário, Eduardo Batista, a economia circular se contrapõe à economia linear, que tem baixa sustentabilidade em termos ambientais.
“Se a gente pensar na economia linear, ela tem uma estação natural, tem um descarte. A economia circular, como o próprio nome diz, fecha sobre si mesma em que o descarte feito pelas empresas de produtos que não são mais usados, ou mesmo de resíduos gerados no processo, são utilizados dentro da própria economia como recursos para outras empresas. Então não é simplesmente o descarte correto dos resíduos, vai além disso: é uma economia que utiliza o descarte como os seus próprios recursos”, explica.
A economia circular desempenha um papel importante na descarbonização industrial, como explica o professor Eduardo Batista.
“Na economia circular, nós temos uma reincorporação na cadeia produtiva de materiais que já foram transformados, talvez eles tenham que sofrer alguma operação, mas isso vai significar menos utilização da energia para a reincorporação na linha de produção da empresa que está usando os recursos. Ou seja, ele está colocando dentro do teu circuito de produção, algo que já foi transformado, isso vai requerer menos estação de recursos e menos consumo de energia para a consumação desse recurso.”
A doutora em engenharia de produção pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Patrícia Guarnieri , que fez pós-doutorado em economia circular na Universidade de Bolonha, na Itália, destaca algumas soluções circulares que podem ser implementadas pela indústria.
“A alteração da matriz energética, redução do ‘food waste’ [desperdício de alimento]. Então você consegue fazer com que esse alimento que seria desperdiçado volte na forma de ração, na forma de outros subprodutos e deixam de ir para os aterros sanitários. O uso de tecnologias mais limpas, que reduzam o desperdício em todas as etapas do processo. A redução do desmatamento, empresas que não praticam ou que não compram matéria-prima proveniente de desmatamento e no sentido da melhoria da infraestrutura de transporte, a gente vê vários operadores logísticos colocando uma frota mais moderna que usa combustíveis sustentáveis, como o biocombustível, etanol e o biogás”, aponta.
Bioeconomia A mudança da visão econômica linear baseada em combustíveis fósseis para uma economia circular evidencia o impacto negativo da ação humana no meio ambiente. Para reduzir esse impacto em todas as cadeias de valor, os recursos renováveis e o consumo de biomassa se tornam cada vez mais necessários.
Nesse sentido, a bioeconomia é definida como “o uso de insumos biológicos no processo produtivo, principalmente nos setores agrícola e industrial. Esse processo utiliza recursos renováveis que não geram resíduos na economia”, explica o economista e especialista em bioeconomia Guide Nunes.
Segundo o especialista, o principal objetivo da bioeconomia é disseminar o uso de produtos de base biológica, a fim de substituir insumos tradicionais por itens cuja produção respeite os ecossistemas.
“O papel da bioeconomia é incentivar o uso da energia renovável, inclusive a partir de insumos biológicos, como microalgas. Na parte de energia renovável, o Brasil já tem um bom acúmulo, tem a questão do etanol, temos uma composição de energia muito limpa que é a energia hidrelétrica, energia fotovoltaica, energia eólica, então o Brasil tem uma biodiversidade muito rica, que é um ativo. É um bem não só de vida e natural, é um bem também econômico, que pode gerar muito valor para a sociedade, se a sociedade brasileira souber utilizar”, afirma.
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