Em uma homenagem à sétima arte, Mam evidencia a tênue fronteira entre a vida real e a ficção ao conectar suas memórias a obras emblemáticas do cinema
Arte da Capa: Vito Ceccon
Mário Bortolotto, Tatá Aeroplano, Mauro Schames, Daniel Perroni Ratto, Keila Ribeiro e Paulo César de Carvalho dão voz à trechos de filmes que entremeiam as canções
“Sozinho a gente não vale nada”.
Citação do filme O Bandido da Luz Vermelha.
Cine Solidão, segundo disco autoral do cantor e compositor Douglas Mam, será apresentado, pela primeira vez, em show gratuito, no Sesc Taubaté, dia 14 de julho, às 20h, no espaço do Circo.
O repertório é composto por canções que o artista compôs ou arranjou ao longo dos últimos 20 anos. Na obra, ele interliga o repertório do álbum a filmes icônicos, que traduzem emoções vivenciadas por Mam e impressas em suas canções.
O álbum, que teve seu primeiro single, Holerite, lançado no mês de junho, foi concebido em meio ao distanciamento social imposto pelo contexto pandêmico, quando Mam experienciou reviravoltas e marcos pessoais importantes. O momento de ruptura, descobertas e recomeços que vivia, impulsionou um movimento de revisão de sua própria biografia. Nesse mergulho para dentro, o artista percorreu toda sua produção musical e revisitou filmes do cinema nacional e internacional, que o tocavam ou despertavam memórias. Mam, então, identificou pontos de conexão entre suas músicas e o cinema – arte pelo qual tem profunda reverência.
Em um segundo momento, sentindo a necessidade de compartilhar esse processo criativo, até ali um tanto solitário, Mam convidou Lucas Gonçalves, Victor José, João Rocchetti e Rodrigo Cambará, para realizar a coprodução musical do álbum. Juntos testaram sonoridades, misturando estilos sonoros como o rock, o folk e o MPB. O resultado foi um disco em 3 atos, com nuances autobiográficas: nascimento, vida e morte – que alterna momentos de solidão, melancolia, esperança, exaustão, acolhimento e solitude.
Douglas ainda propôs um eco de vozes para ressoar os sentimentos experimentados pelo artista ao ter contato com cada obra cinematográfica abordada no disco. Assim, convidou Mário Bortolotto, Tatá Aeroplano, Mauro Schames, Keila Ribeiro e Paulo César de Carvalho para declamar citações de trechos de filmes como: “São Paulo Sociedade Sociedade Anônima”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “O Bandido da Luz Vermelha”, “Que Horas Ela Volta?”, entre outros. Por fim, duas últimas participações e, talvez, as mais especiais, fazem parte do álbum, reforçando as reverberações pessoais que a feitura da obra trouxe para o artista: as vozes de Dona Gessi, sua mãe, e Nina, sua filha.
Cine Solidão: Um disco em 3 atos
O álbum, dividido em três atos, simboliza a trajetória recorrente às biografias humanas: infância, maturidade e a velhice.
O primeiro bloco de canções – Monte Olimpo, Amalgamar de Rosas e Trem de Papel – tem um tom alusivo à infância e adolescência. “O tom às vezes onírico, outras lúdico, traz referências arquetípicas. É o material que molda e forma o ser humano: as primeiras experiências e descobertas, o olhar e atitude inocente, a imaginação, o primeiro amor, o novo, o espanto… O pano de fundo é bucólico e nostálgico. O passado em tons de sépia, como em uma fotografia antiga”. Explica, Douglas Mam.
Holerite, Mão com Mão e Ventríloquo compõem o segundo ato, para tratar de temas da vida adulta, como o trabalho, os relacionamentos amorosos, as rupturas, as escolhas, a reconstrução e o recomeço. Os impasses da maturidade também ficam explícitos, como é o caso da música Ventríloquo, que apresenta dois momentos antagônicos: a citação do filme ‘O Curioso Caso de Benjamin Button’ – “Você pode ficar revoltado com destino, pode xingar os deuses! Mas quando chegar hora, você tem que aceitar” – e o verso criado por Mam: “Se apaixone pelo destino.”
No terceiro e último ato, o disco remete à velhice e aos movimentos que, normalmente, são inerentes a esse momento. A revisão da vida vivida, a consciência da finitude, o legado, a solidão e a busca pela solitude aparecem nas canções Tivemos um Talvez, Cine Solidão e É algo. Essa última traz uma citação pinçada por Mam do filme ‘O Bandido da Luz Vermelha’ e que remonta seu próprio entendimento sobre a vida: “Sozinho a gente não vale nada”.
Álbum Cine Solidão – Faixa a faixa – Músicas, autoria e filmes citados
1 – Monte Olimpo (Douglas Mam e Thomas Incao). Citação: O Auto da Compadecida
2 – Amalgamar de Rosas (Douglas Mam e Paulo César de Carvalho) Citação: Deus e Diabo na Terra do Sol
3 – Trem de Papel (Douglas Mam, Sérgio Incao e Thomas Incao). Citação: Central do Brasil
4 – Holerite (Douglas Mam. Arranjo: Rodrigo Cambará). Citação: São Paulo Sociedade Anônima
5 – Mão com Mão (Paulo César de Carvalho e Julia Valiengo. Arranjo: Douglas Mam) Citação: Eles não usam Black Tie
6 – Ventríloquo (Douglas Mam e Thomas Incao). Citação: O curioso caso de Benjamin Button
7 – Tivemos um Talvez (Douglas Mam). Citação: Que horas ela volta?
8 – Cine Solidão (Paulo César de Carvalho e Tatá Aeroplano. Arranjo: Douglas Mam). Citação: Chega de Saudade
9 – É Algo (Douglas Mam). Citação: O bandido da Luz Vermelha