Violeta Parra (1917-1967) é uma das vozes mais sensíveis e competentes que cantaram a história da América Latina. Muitas das composições da artista chilena são comprometidas com a luta dos oprimidos e contra a injustiça social, e sua “Gracias a la Vida” é reconhecida como uma das mais belas canções de todos os tempos. A partir do dia 04 de agosto, a vida e obra da compositora, cantora, poeta, ceramista, bordadeira e artista plástica vai entrar em cena no espetáculo “Violeta Parra em dez cantos”, com texto de Luís Alberto de Abreu, direção de Luiz Antônio Rocha, atuação de Rose Germano e direção musical de Aline Gonçalves. A peça é a segunda parte de uma trilogia concebida pela atriz e pelo diretor sobre importantes mulher latinas, iniciada com “Frida Kahlo, a deusa tehuana”, em cartaz desde 2014. Este projeto recebeu o fomento da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e da Secretaria Municipal de Cultura, por meio do Programa de Fomento à Cultura Carioca – FOCA.
Em agosto, “Violeta Parra em dez cantos” será apresentada na Arena Carioca Fernando Torres, em Madureira (04/08, às 19h); na Arena Carioca Dicró, na Penha (10/08, às 19h), na Arena Carioca Abelardo Barbosa, em Pedra de Guaratiba (11/08, às 19h) e no Teatro Gonzaguinha, no Centro (dias 17 e 18/08, às 19h). Haverá uma roda de conversa com a equipe do espetáculo após cada apresentação.
“Para Aristóteles, o daimon é uma entidade que simbolizava virtude e sabedoria, a essência mais iluminada do ser humano, na qual o potencial está oculto. A função é nos fazer trilhar o caminho que a gente veio ao mundo para percorrer. Resolvi usar essa imagem para construir a trajetória de Violeta Parra, que supera tantas adversidades para alcançar seu grande propósito de vida”, conta o autor Luís Alberto de Abreu.
Nascida de uma família com poucos recursos econômicos, Violeta foi uma autodidata, cantora e tocadora de violão desde os nove anos de idade. Abraçou a carreira musical definitivamente aos 15, e foi uma das importantes pesquisadoras de ritmos, danças e canções populares chilenas, chegando a catalogar cerca de 3 mil canções tradicionais. A atriz Rose Germano nasceu na Paraíba, num lugarejo chamado Riacho do Meio e traz toda a força e a luta das mulheres nordestinas. As duas histórias se entrelaçam, traçando paralelos entre a vida da atriz e da artista chilena, e aborda temas como a valorização dos povos oriundos de outras culturas, a difusão da cultura latina, a vida, o amor e a morte.
“Falei de mim, da terra seca de onde eu vim, onde as
pedras nos ensinam a dureza e o valor raro do que é delicado. As pedras
me apontaram o humano de todas as coisas, eu disse a ela. Violeta sorriu
e passou longas tardes me contando desventuras de sua vida…
Nessa viagem, nos ligamos de maneira profunda.
Talvez porque ela busque tantas coisas na vida como eu, talvez por ela
ser meia indígena como eu. Não sei se ela era descendente de
mapuche, huiliche, diaguita, aymará, talvez de todas elas. Eu venho dos
Cariri, da Paraíba.” (trecho da peça)
“Violeta Parra, a “peregrina que não cabia dentro de si”, teceu o próprio destino com a sua capacidade de criar, interagir e copilar a sua cultura para dar voz aos esquecidos”, lembra Rose Germano. “Assim como ela, tantas outras mulheres artistas brasileiras, como Tarsila do Amaral, Clarice Lispector e Maria Carolina de Jesus são símbolos de extrema importância na construção de uma identidade feminina própria, pois saíram do papel de figura representada para produzir arte, romper paradigmas e escrever sua própria história. Ao relembrarmos a vida e a grande obra de Violeta Parra, homenageamos muitas outras mulheres à frente do seu tempo”, completa.
Em 2014, o diretor Luiz Antonio Rocha e a atriz Rose Germano iniciaram um estudo sobre a importância da mulher latina e sua contribuição para a mudança de pensamento e de comportamento na sociedade de hegemonia masculina que até hoje silencia vozes femininas. “Pretendemos levar ao público o contato com a cultura chilena que tanto se assemelha a nossa. O autor, Luís Alberto de Abreu, foi muito feliz em trazer uma abordagem crítica e contemporânea sobre a contribuição cultural de Violeta Parra para a América Latina tendo na figura da artista a expressão de uma arte decolonial. Quando trazemos a voz de uma mulher latina como protagonista, estamos trazendo à luz a cultura latina que, durante muitos anos, foi apagada pela imposição de uma cultura que não é genuinamente a nossa, e sim dos nossos colonizadores”, conta o diretor Luiz Antonio Rocha.
A atriz Rose Germano, acompanhada em cena pelo violonista Claudio Pereira, interpretará grandes sucessos da compositora chilena, como “Gracias a la Vida”, imortalizada nas vozes de Mercedes Sosa e Elis Regina, e “Volver a los 17”, mais conhecida no Brasil nas vozes de Mercedes Sosa e Milton Nascimento. Também estarão na trilha sonora da peça, “El Gavilan”, “Arriba Quemando El Sol”, “Rin del Angelito”, entre outras.
“A obra da multiartista Violeta Parra é fundamental na estruturação dos povos latino-americanos, nos encanta pela diversidade de temas e estilos, em suas narrativas sonoras. Decolonial, Violeta explorou em suas composições a sonoridade de instrumentos como o charango, a quena, o bombo leguero e o guitarron chileno, que colorem seus sons com cores dessa terra. Reencontrar-se com essa música é reencontrar-se com esses caminhos que contornam nossa América”, avalia a diretora musical Aline Gonçalves,
Sobre Violeta Parra
Violeta Parra é uma das artistas mais importantes da história do Chile. Compositora, cantora, poeta, ceramista, bordadeira, artista plástica e intérprete de suas canções. Realizou um profundo e importante trabalho de promoção da arte chilena, de suas raízes, da arte popular autêntica a que, naquele tempo, se costumava denominar “folclore”. Foi a primeira artista latino-americana, entre homens e mulheres, a ter uma exposição individual no museu do Louvre. Violeta conhecia na pele a sonoridade do povo Mapuche e dos camponeses do interior do chile. Conhecia a sabedoria daquela arte espontânea a que com sua criatividade deu voz, corpo e brilho. Sua música é fruto das sonoridades do campo, da natureza, dos povos originários. Violeta Parra é parte das vozes que contam a história da América Latina, e sem dúvida, uma das mais completas. Percorreu a Europa com suas canções, morou em Paris e Argentina, escreveu sua autobiografia em versos, compôs uma das mais belas canções de todos os tempos: “Gracias a la vida”, reconhecida como a canção do 2º milênio, tornou-se o hino de amor a vida na voz de Mercedes Sosa e ainda hoje continua sendo gravada por artistas mundo afora. Cantores brasileiros como Caetano Veloso, Milton Nascimento, Elis Regina e Alcione também gravaram músicas de Violeta Parra.
Sinopse
“Violeta Parra em Dez Cantos” é uma celebração emocionada da vida e da arte de uma das maiores artistas latinas, que cantou alto o amor, a revolta, as dores e as misérias de seu povo. Através da história e das músicas da chilena Violeta Parra, a peça traça, de maneira crítica, um “raio x” da colonização da América Latina.
Ficha técnica:
Dramaturgia: Luís Alberto de Abreu
Encenação: Luiz Antônio Rocha
Elenco: Rose Germano
Direção musical: Aline Gonçalves
Músico: Claudio Pereira
Direção de Arte e Cenário: Eduardo Albini
Figurino e Adereços: Wanderley Gomes
Iluminação: Ricardo Fujji
Preparador Vocal: Jorge Maya
Cenotécnico: Nilton Araujo
Arte: Cristhianne Vassão
Costureira: Ione Ribeiro
Assessoria de Imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)
Realização: Riacho Produções e Espaço Cênico
Serviço
Violeta Parra em Dez Cantos
Arena Carioca Fernando Torres, em Madureira: 04/08, às 19h.
Endereço: Rua Bernardino de Andrade, 200, Parque de Madureira
Arena Carioca Dicró, na Penha: 10/08, às 19h.
Endereço: Parque Ary Barroso, Penha, s/nº. Entrada pela Rua Flora Lobo.
Arena Carioca Abelardo Barbosa, em Pedra de Guaratiba: 11/08, às 19h.
Endereço: Rua Sd. Elizeu Hipólito, s/nº, Pedra de Guaratiba
Teatro Gonzaguinha, no Centro: dias 17 e 18/08, às 19h.
Endereço: Rua Benedito Hipólito, 125, Centro
Telefone: (21) 2224-3038
Ingressos: gratuitos
Classificação Etária: 12 anos