BRASÍLIA, 25 DE JULHO DE 2023 – A leitura de reportagens policiais de longo fôlego após anos dos acontecimentos tem um sabor especial porque há os detalhes para se compreender inteiramente o desfecho dos casos. E quando esses casos ocorreram em Brasília, há um tempero a mais: conhecemos, já vimos ou ouvimos falar dos protagonistas, porque, apesar de Brasília já ser uma cidade grande, é, ao mesmo tempo, interiorana, todo mundo ou conhece ou já ouviu falar de todo mundo, pois a capital tem apenas 63 anos.
E quando o autor sabe escrever e dá aquele tom coloquial ao texto, o livro fica ainda mais interessante. É o caso do finalista no International Latino Book Awards 2013, na categoria melhor livro de não ficção em língua portuguesa, Não existe crime perfeito – Laerte Bessa e os crimes que abalaram a capital do Brasil (Thesaurus Editora, Brasília/DF, 320 páginas), de Marcos Linhares, maranhense de São Luis, nascido em 1970, radicado em Brasília/DF, jornalista, radialista, tradutor, professor e escritor, autor de mais de 10 livros, entre poemas, crônicas, contos e reportagem.
Os bastidores das investigações, a revelação de interesses políticos tentando impedir o andamento dos trabalhos da equipe de investigadores, a carência de equipamentos modernos, como simples carros e armamentos, falta de verba, a ansiedade de repórteres sem compromisso com a verdade, mas apenas de olho em carniça, tudo isso vem à tona, o que torna atual este livro.
São 60 horas de gravação com o delegado e deputado federal Laerte Bessa e equipe. O escândalo dos Anões do Orçamento (1993), o Caso Pedrinho (1986), o Caso Marcelo Bauer, que assassinou a ex-namorada em 1987, o sequestro da menina Cleucy, filha do bilionário, então senador, Luiz Estevão, estão entre os crimes que compõem esse dossiê.
Hoje, as polícias estão melhores equipadas, mas os crimes, agora, são muito mais complexos. Os narcotraficantes, as facções, aparelharam o Estado e avançam no sentido de se criar uma Schutzstaffel, SS, organização paramilitar ligada ao Partido Nazista e a Adolf Hitler.
Por exemplo, o ex-juiz Sergio Moro, hoje, senador, colocou muita gente poderosíssima na cadeia, mas não conseguiu mantê-la enjaulada, e, recentemente, foi estourado um plano do Primeiro Comando da Capital para assassiná-lo, e à sua família, além de outras autoridades. Aí se vê em que estado estão as coisas.