O comerciante Jorge Martins começou a fumar aos 13 anos. Foram quatro décadas de dependência da nicotina, até que, aos 55 anos, ele resolveu dar um basta e procurou ajuda na Clínica da Família Maria do Socorro Silva e Souza, na Rocinha, ingressando no Programa de Tabagismo, oferecido pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) nas unidades de Atenção Primária. Aos 60 anos e livre do vício, Jorge diz que sua vida mudou, agora tem mais disposição e qualidade. Esta terça-feira (29/8) é o Dia Nacional de Combate ao Fumo, uma data para alertar sobre os malefícios do fumo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o tabagismo uma doença pediátrica, pois muitos fumantes iniciam o vício ainda na adolescência. Dados do Ministério da Saúde indicam que a experimentação do tabaco entre os adolescentes brasileiros ocorre em torno dos 16 anos, tanto para meninos quanto para meninas. Segundo Ana Helena Rissin, da equipe técnica do Programa de Tabagismo da SMS, a ampliação no consumo de nicotina nesta faixa etária deve-se à influência dos novos produtos ofertados pela indústria do tabaco e suas respectivas tecnologias. Sem falar da propaganda ainda presente no comércio ou pontos de venda, apesar da legislação proibir desde 2011.
– Os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), como cigarro eletrônico, vape, pen drive e tabaco aquecido, são diferentes nomes para uma nova forma de entregar nicotina e diversas substâncias tóxicas que elevam os níveis de dependência e exposição a doenças através de seus sabores, cheiros e cores’ – afirma Ana Rissin.
Além da maioria apresentar um teor de nicotina superior ao do cigarro tradicional, os DEFs impactam a percepção dos usuários sobre os riscos à sua própria saúde, uma vez que, em muitos casos, estes não se consideram fumantes. Adição de ingredientes como açúcares e conservantes atuam na melhoria do paladar e aroma destes itens, potencializando o vício e intensificando o desempenho da nicotina no organismo.
Somente nos primeiros quatro meses deste ano, o Programa de Tabagismo da SMS já cadastrou mais de 1,7 mil novos usuários, em 149 unidades de Atenção Primária à Saúde, além daqueles que já haviam iniciado o tratamento em 2022.
– O tratamento é baseado no modelo do Instituto Nacional do Câncer (Inca), com atendimentos individuais e coletivos. Temos grupos de abordagem cognitiva comportamental, com encontros semanais no primeiro mês de tratamento e, posteriormente, quinzenais. Até o usuário completar um ano sendo assistido pela nossa equipe, fazemos reavaliações mensais, de acordo com o método de reabilitação indicado para ele – explica Saul Bernardo, cirurgião dentista que atua no programa há 11 anos, na CF Maria do Socorro.
O ex-fumante Jorge Martins afirma que o Programa de Tabagismo é eficiente. Para ele, o acolhimento e o incentivo dos profissionais da Clínica da Família Maria do Socorro foram fundamentais na sua mudança de vida:
– Posso dizer que tudo mudou. Minha alimentação está ótima. Hoje, sou capaz de sentir o sabor da comida e minha casa não fede mais a cigarro. Também posso falar que abandonar a nicotina me trouxe um avanço financeiro, eu economizei bastante.
A adesão ao tratamento é menor por parte dos jovens. De acordo com a coordenação do Programa de Tabagismo, entre os mais de 1,7 mil novos fumantes que buscaram auxílio nas clínicas da família e centros municipais de saúde, de janeiro a abril, apenas 111 tinham entre 18 e 29 anos. Por outro lado, aqueles que dão continuidade ao protocolo de recuperação obtêm sucesso. Na CF Maria do Socorro, a porcentagem de pacientes que abandonam o cigarro é de 70% por grupo.
– Existem medicamentos fornecidos pelo Ministério da Saúde, como adesivo de nicotina, goma de mascar de nicotina e bupropiona, que servem para reduzir o desconforto inicial que pode surgir ao deixar de fumar, mas nem todo fumante precisa de medicamento para se acostumar a viver sem a nicotina. É ao longo do tratamento que se percebe quais as necessidades de cada fumante no seu processo de parada, ao repensar hábitos e sentimentos associados ao cigarro, como apoio de diversas estratégias que confortam e ajudam nesse percurso – explica Ana Rissin, ressaltando que nem todos os usuários têm a necessidade de medicamentos