Um levantamento inédito da escola de Direito da FGV Rio, em parceria com o centro alemão Democracy Reporting International, demonstra que deputadas de esquerda que foram alvo de representações no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados ganharam quase 70% de apoio entre 2.262 comentários em vídeos do YouTube.
O estudo foi baseado em comentários de 29 vídeos de 10 canais diferentes relacionadas aos processos movidos por quebra de decoro parlamentar. No grupo, estão as deputadas Célia Xakriabá (Psol-MG), Sâmia Bomfim (Psol-SP), Talíria Petrone (Psol-RJ), Erika Kokay (PT-DF), Fernanda Melchionna (Psol-RS) e Juliana Cardoso (PT-SP).
“Os dados apontam para uma polarização significativa no debate sobre os processos disciplinares contra as deputadas, com uma predominância de mensagens de apoio. É alarmante a presença de discursos de ódio e estereótipos de gênero que atacam a competência e aparência das mulheres, o que é reflexo também de nossa desigualdade histórica no cenário político. A toxicidade encontrada em todos os canais revela uma preocupante deterioração da comunicação nos espaços online. Importa ressaltar que, apesar de minoria, em termos de proporção geral, os comentários contrários às deputadas apresentaram um grau maior de toxicidade se comparados aos comentários contrários à instauração dos processos disciplinares, ou seja, favoráveis a elas.”, explica Yasmin Cruzi, professora da FGV Direito Rio e Coordenadora do Programa Diversidade e Inclusão da escola.
De acordo com a análise realizada, cerca de 30% das mensagens com cunho ideológico-partidário e que manifestam apoio às parlamentares mencionam Arthur Lira. O levantamento também apontou que, de 683 comentários com discurso de ódio, 229 foram ataques com estereótipos de gênero, enquanto 153 foram acusações de vitimismo. Outros 57 se referiam à aparência das deputadas.