Três mil e quinhentos documentos dos Arquivos do Estado de Israel, contendo centenas de milhares de páginas, divulgados na última semana, confirmaram a dimensão das relações e contatos entre o falecido rei jordaniano, Hussein bin Talal, com o regime sionista, incluindo vazamentos de inteligência em favor da ocupação. A divulgação antecede em pouco o 50° aniversário da chamada Guerra de Yom Kippur, em outubro de 1973, travada entre Israel e seus vizinhos árabes. Entre os papéis, está o diário de Eli Mizrahi, então chefe de gabinete da primeira-ministra de Israel, Golda Meir. Apesar de não haver novidades sobre o relacionamento entre as partes, o diário corrobora informações sensíveis sobre o rei Hussein e revela codinomes adotados. Um dos relatos refere-se a um encontro entre o monarca e Meir em um prédio do serviço de espionagem Mossad nos subúrbios de Tel Aviv, em 25 de setembro de 1973, dias antes de se deflagrar a guerra. Segundo as informações, a reunião urgente foi solicitada por Hussein para revelar a Israel os planos da Síria sobre uma ofensiva iminente para reaver as colinas de Golã, capturadas pela ocupação na chamada Guerra dos Seis Dias, em 1967. Mizrahi mencionou o rei sob o codinome “Lift”, com pronome feminino, a fim de omitir sua identidade. No entanto, observou: “Lift nos disse durante a conversa que fora informada por uma fonte sensível que todos os preparativos para a operação síria haviam sido concluídos e que as unidades estavam a postos havia dois dias — incluindo mísseis e Força Aérea”. LEIA: EUA reiteram papel da Jordânia como guardiã dos lugares santos de Jerusalém Segundo o diário: “Os preparativos ocorreram sob a fachada de exercícios militares; porém, de acordo com informações que recebemos previamente, está claro se tratar de posições de disparo. Nossa fonte tem ciência do que significa seu relato, mas insistiu que são fatos”. Meir questionou o monarca se haveria apoio egípcio na operação síria, no que respondeu a fonte: “Não creio. Eles vão colaborar”. Conforme relatos, trata-se do terceiro alerta deferido por Amã ao regime israelense dentro dos três meses que culminaram na guerra. Outro codinome posto a Hussein é “Yanuka” — ou “criança”, em referência a sua ascensão ao trono aos 17 anos. Uma de suas ocorrências está em um telegrama de Mordechai Gazit, diretor-geral do gabinete de Meir, enviado em junho de 1973 ao embaixador israelense nos Estados Unidos, Simcha Dinitz. Sob a chamada “Preocupado, Yanuka”, o telegrama observa que a fonte mostrou receios de que exércitos árabes pudessem cruzar o território jordaniano em caso de guerra, ao reforçar apreensões de Hussein sobre a pressão dos Estados vizinhos para se juntar ao conflito. Segundo o jornal israelense Haaretz, os codinomes do rei Hussein foram enfim confirmados pelos arquivos recém divulgados e pela totalidade do diário de Mizrahi. Até então, os nomes adotados haviam sido editados ou censurados. Apesar da publicação, os Arquivos do Estado de Israel continuam a omitir trechos e nomes sob o pretexto de segurança nacional. Novas revelações podem vir à tona somente daqui 40 anos, aos 90 anos da guerra de Yom Kippur. LEIA: Solução de dois estados está morta, afirma ex-chanceler jordaniano