O procurador-geral de Israel, Gali Baharav-Miara, está trabalhando para deferir “regulações de emergência” que permitam ao governo censurar a cobertura da rede Al Jazeera, sediada em Doha, com alcance internacional, sobre o genocídio em Gaza.
Tel Aviv opera para impedir que a rede catariana transmita informações do país. A iniciativa é parte dos esforços de censura e propaganda de guerra do Estado colonial sionista.
As restrições foram propostas pelo ministro de Comunicações, Shlomo Karhi, para “instruir o Conselho de Radiodifusão por Cabo e Satélite a revogar licenças de mídia estrangeira; fechar escritórios; e confiscar equipamentos, em caso de ações lesivas à segurança nacional”.
Karhi acusou a Al Jazeera de “pôr em risco as forças israelenses”, ao registrar seus avanços e difundir notas que contradizem a propaganda israelense, incluindo declarações do grupo de resistência Hamas que desmentem esforços de vilanização.
Baharav-Miara, porém, parece hesitante pois a versão atual do documento dá autoridade ao ministro de Comunicações, em vez do ministro da Defesa, Yoav Gallant, além de contornar a eventual tramitação em cortes distritais.
O gabinete de segurança israelense debate as regulações, sob pressão de Karhi.
Conforme a emissora estatal Kan, o Mossad — serviço de espionagem de Israel — apoia a censura contra a Al Jazeera, ao acusar repórteres de “expor áreas de ação militar e outras localidades sensíveis, à medida que forças israelenses se reúnem no sul para uma possível grande operação em Gaza”.
Em comunicado de 13 de outubro, a Al Jazeera denunciou Israel por atacar jornalistas no sul do Líbano. Além disso, confirmou ataques deliberados contra redes nacionais e estrangeiras, que resultaram na morte de um profissional de imprensa e dois feridos; entre os quais, dois funcionários da Al Jazeera.
Ataques contra a cobertura de imprensa perpetrados pela ocupação israelense são comuns, incluindo jornalistas mortos e fotógrafos mutilados.
Em maio de 2022, um franco-atirador israelense assassinou Shireen Abu Akleh, conhecida repórter da Al Jazeera, enquanto ela cobria uma invasão ao campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada.
Abu Akleh vestia colete e capacete com identificação de imprensa.
Guerra informacional
Israel lançou sua mais recente ofensiva contra Gaza no último sábado (7), após combatentes da resistência romperem a cerca nominal, em resposta aos 17 anos de cerco e uma escalada exponencial de ataques de colonos e soldados em Jerusalém e na Cisjordânia.
Quase 2.4 milhões de palestinos sofrem um desastre humanitário sob a agressão em curso contra Gaza. O massacre deixou civis sem teto, ao privá-los de necessidades básicas, como água, comida, eletricidade e medicamentos.
O escritório de comunicação do governo em Gaza documentou dezenas de ataques e crimes contra profissionais e redes de imprensa.
Dezenas de escritórios de mídia foram parcial ou totalmente danificados pelos bombardeios às torres Palestina e al-Watan, em zonas civis da Faixa de Gaza. Ao menos 40 redações foram alvejadas.
Apesar dos riscos, destacou o gabinete de comunicação do governo em Gaza, os jornalistas palestinos estão resolutos em manter sua cobertura profissional dos fatos em campo, para reportar os crimes da ocupação e responder à desinformação do exército israelense.
O conflito transcende as trincheiras, tomando as manchetes internacionais.
Após corporações de mídia no Brasil e no mundo propagarem rumores facciosos de “bebês decapitados” por militantes do grupo de resistência Hamas, repórteres em campo negaram quaisquer indícios das supostas atrocidades. Oficiais israelenses se negaram a confirmá-los.
O repórter israelense Oren Ziv, da rede +972 Magazine, escreveu na plataforma social X (Twitter): “Estou recebendo perguntas sobre relatos de ‘bebês decapitados pelo Hamas’, publicados após a imprensa visitar o local. Não vimos qualquer evidência disso; comandantes e o porta-voz do exército tampouco mencionaram tais incidentes”.
“Lamentavelmente, Israel usará agora tais alegações falsas para intensificar seu bombardeio a Gaza e justificar seus crimes de guerra”, concluiu Ziv.
Palestinos e observadores denunciam a cobertura das corporações de mídia como racista e propaganda de guerra, ao conceder às forças israelenses aval para perpetrar seu genocídio contra a população civil da Faixa de Gaza.
Ao menos 2.808 morreram até então, incluindo 853 crianças e 636 mulheres. Outras 10.850 pessoas foram feridas. Milhares continuam presos sob os escombros, possivelmente mortos.