A Câmara de Comércio Árabe-Brasileira disse estar em tratativas com o Marrocos para a adesão do país à aduana digital da entidade conhecida como Easy Trade, já em uso pela Jordânia e em processo de homologação pela alfândega do Egito.
Se levada a termo, a adesão vai permitir a exportadores brasileiros fazer o despacho digital de documentos de cargas com destino ao país africano, sendo o fim do trâmite baseado no envio e na verificação manual dos documentos de papel que registram as exportações para aquele mercado, de US$ 954,57 milhões em 2022.
As tratativas entre a entidade e o governo do Marrocos foram confirmadas pelo diretor de inovação da Câmara Árabe, Marcos Bulgarelli, em entrevista no Global Halal Brazil Business Forum. “Estamos conversando com a aduana do Marrocos. Eles já têm um sistema que usam junto a outros países, de forma que a integração pode ser, inclusive, facilitada”, disse o executivo.
Há cerca de um ano, a Easy Trade faz o despacho digital de cargas brasileiras para a Jordânia. A plataforma também vem sendo testada pela autoridade alfandegária do Egito. No caso do Egito, o governo do país vem discutindo com a Câmara Árabe uma série de customizações. Além disso, a entidade tem tratativas com câmaras árabes de países europeus para que a Easy Trade seja usada nos fluxos dessas nações com a Liga Árabe.
Segundo explicou Bulgarelli, no fluxo Brasil-Jordânia, a Easy Trade reduziu o tempo de despacho de três semanas para cerca de três dias. No processo antigo, notas fiscais, certificados de origem, de sanidade e de produção conforme às tradições do islã (certificado halal) eram enviados para escritórios do Itamaraty, da Câmara Árabe e outras entidades por motoboy e correio para chancela manual. No novo, a chancela é toda feita na blockchain, com checagem de dados via inteligência artificial e ação humana em caso de discrepância.
Além de economizar tempo e custos com envios, outro resultado da digitalização foi a erradicação das situações em que as cargas chegavam aos portos jordanianos antes de seus respectivos documentos, gerando ao importador custos com demurrage, a taxa de estacionamento de contêineres em terminais portuários.
Sempre que essa situação ocorria com cargas alimentícias, o carregamento ficava inviabilizado, seja porque a demurrage elevava demais o custo final ao consumidor ou porque o alimento perdia seu shelf life, ou seja, o período de tempo em que pode ser consumido com segurança.
A Câmara Árabe também disse estar estudando a integração da Easy Trade com a base de dados da Ecohalal, subsidiária da especialista em rastreabilidade Ecotrace, num projeto para levar ao consumidor muçulmano informações adicionais sobre a origem de alimentos derivados de animais.
Flávio Redi, CEO da empresa, disse ter uma aplicação de blockchain capaz de ligar embalagens individuais de produtos a base de proteína a cada animal na fazenda ou na granja que o originou, com documentos e imagens de vídeo que registram o manejo da criação, o beneficiamento no frigorífico e a logística até o ponto de venda.
Segundo explicou, a ideia é integrar esses dados ao sistema da Câmara Árabe, o que vai permitir gerar uma seleção de informações de interesse do consumidor muçulmano, acessíveis num QR Code impresso na embalagem do produto.
“O consumidor muçulmano se preocupa com a possibilidade de contaminação cruzada do alimento com substâncias proibidas pelo islã, principalmente nas fases anteriores ao abate e no transporte a seu país. Temos uma solução para esta necessidade”, disse Redi.
A Câmara Árabe também estuda o uso dos mesmos QR Codes para oferecer informações adicionais a autoridades sanitárias e alfandegárias de países muçulmanos que recebem os certificados de origem emitidos pela entidade.
O Global Halal é patrocinado por BRF, Marfrig, Minerva Foods, Laila Travel, Turkish Airlines e Embratur, tem parceria da Apex Brasil, Câmara Islâmica de Comércio, Indústria e Agricultura, União das Câmaras Árabes e Liga Árabe, e apoio da Halal Academy.