Um álbum que deveria ser o presente da gravadora para a artista que celebrava 10 anos de casa se tornou algo muito maior, um marco da música. Para quem olha de fora, “Elis e Tom” bem poderia ser chamado “Tom e Elis” tantas foram as altercações, interferências e contribuições do Maestro na sua produção. Ficou a primeira opção, ficou a lembrança do que acontece quando dois gênios se encontram e é o que Roberto de Oliveira se propõe a resgatar em Elis e Tom, só tinha de ser com você (2023).
Lançado nos cinemas no setembro passado e recém-disponibilizado na Globoplay, o documentário utiliza algumas imagens inéditas da gravação do disco em Los Angeles para, junto de um grande número de depoimentos, recontar a história do encontro, desta vez de uma forma mais íntima, como se estivéssemos lá também.
O documentário em si perde-se algumas vezes na tentativa de analisar Elis e tentar entender sua morte. Por exemplo, atropelando a linha do tempo, antes da metade do doc já nos oferecem a imagem do corpo da cantora no caixão, morte que só veio a ocorrer 8 anos depois. Em contrapartida, sequer mencionam quando Tom Jobim falece. Já que houve uma preocupação em mostrar como era o Tom antes, sua carreira, as relações de sucesso como a parceria com Frank Sinatra, o depois, sua morte, merecia uma notinha de rodapé que fosse.
Dito isso, os fatores positivos da produção excedem em muito qualquer problema narrativo. As discussões não foram gravadas, as imagens inéditas mostram uma relação até amistosa. Elis e Tom passam facilmente por amigos que se reúnem para fazer o que gostam, tirando músicas que vêm à cabeça, quando não são verdadeiros arquitetos da música acertando os detalhes. Não menos importante, os depoimentos dos outros músicos, especialmente, que acompanharam a gravação enriquecem sobremaneira o documentário. Ainda que continue incrível, todos já conheciam o comentário que Tom fez sobre a quantidade de dedos do César Camargo Mariano, o que o restante da brilhante banda viu e ouviu é que soa como novidade, uma adorável novidade– além de um reconhecimento do seu trabalho, claro.
Na véspera do 42º aniversário de morte de Elis, digo: 2024 está apenas começando, há tempo de sobra para escutar o álbum, dar play no documentário e celebrar a vida, o trabalho e aquela satisfação de poder dizer que gênios dessa grandeza são criações desta nossa terra.