Bendito o fruto entre Elas por elas

Jaqueline Ribeiro
Elas por Elas: em cima, Isabel Teixeira, Thalita Carauta, Mariana Santos e Maria Clara Spinelli. Embaixo: Karine Teles, Deborah Secco e Késia — Foto: Globo/João Cotta

O remake de Elas por elas chegou ao 100º capítulo na última sexta-feira (19/1) com uma singular coleção de índices ruins de Ibope e lamentos inconformados – não raro vemos nas redes sociais variantes da frase: “uma pena que quase ninguém assista”. A trama caminha bem, tem múltiplos enredos satisfatoriamente bem amarrados, algumas atuações ótimas, outras menos, as doses de humor foram sendo calibradas com o tempo, mas aparentemente pesa o fardo de ser uma novela das sete alocada no horário das seis. Quem não assiste tem perdido um grande personagem vivido por Marcos Caruso.

Nesta trama, Caruso vive Sérgio Aranha, o pai devotado de Helena (Isabel Teixeira) e por quem mandou trocar bebês na maternidade, o filho dela teoricamente morto por outro, vivo. Diferente daquele vivido pelo Mário Lago na primeira versão, este Sérgio começou um pouco cômico nas interações com a filha e com a chantagista vivida pela Paula Cohen e foi sendo ajustado, tornando-se mais terno e quase sempre mais sensato nas relações pessoais com atritos ocasionais com Miriam. 

Apesar de ter sido revelado por meio dos flashbacks que Sérgio teve uma atitude horrível com a personagem da Thalita Carauta, no presente, as cenas como senhor respeitável predominavam de tal maneira que a tentativa de enterrar a mulher viva ainda no primeiro mês de novela só representou uma virada para ela: Miriam (Paula Cohen) voltou mais séria, com menos gracejos em espanhol, com um comparsa e mais fome de dinheiro. Quando se tornou próximo de Ísis, Sérgio ficou ainda mais amistoso, defendendo a jovem, o casal composto por ela e seu neto, Giovanni, e até ajudando no abrigo de cães, doando quantias (justo ele tão avaro), arrumando destino para cachorrinhos… ainda que tenha dado ordens para soltar logo depois, mostrando mais uma vez que é capaz de tudo para agradar quem ama.

Desde o capítulo 100, quando ocorreu a revelação sobre a troca de bebês, os personagens têm se revezado em chamá-lo de monstro, mas vinte capítulos antes, quando se lembrou quem era Adriana (Carauta), o personagem do Caruso viveu seu auge, revelando uma faceta aterrorizante novinha em folha. O mesmo senhor simpático, sábio, que ama as filhas e o neto criou uma armadilha e prendeu Adriana para que pudessem conversar sobre o passado e, mesmo vendo o desespero dela e o quão desconfortável ela estava, fez comentários nojentos sobre a noite que passaram juntos. Ainda que a relação deles tenha sido consensual, Sérgio assumiu ali o papel de abusador, uma faceta especialmente podre e executada na medida certa para compor um riquíssimo personagem secundário que não é nem de longe mocinho, mas dificilmente chamado vilão.

Diante das tramas notáveis da faixa das seis, Elas por elas poderia passar-se nos anos 20, quando, entre aquela exuberância de modelitos, uma dondoca resolve reunir as amigas que não vê há duas décadas para um convescote, um chá ou um baile de máscaras. Também poderia ser rural e, em algum momento, certamente Helena tentaria prejudicar o negócio de Adriana que responderia jogando Helena no chiqueiro. Não tendo nada disso, Elas por elas, até aqui, pode ser tida como um belo equívoco, onde temos a sorte de ver, entre outras estrelas, Marcos Caruso honrando Mário Lago e dando um show de atuação

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Jaqueline Ribeiro é bacharela em Comunicação/Jornalismo pela UEMG-Frutal, interessada por tudo o que conta histórias, escreve sobre livros, filmes e discos