Segundo o Aurélio, livro é um objeto composto por folhas reunidas, presas por um lado e enfeixadas em uma capa. Também é uma obra publicada em formato de livro. Já audiolivro (ou audiobook) é uma obra produzida (ou reproduzida) para ser consumida por meio do som. Se nos ativermos à materialidade da coisa livro, audiobook de fato foge ao conceito. O som normalmente não oferece texturas, cheiros, imagens (do texto às ilustrações), a experiência de compartilhar objetos… tudo isso que o livro oferece. Porém, um ebook também não oferece a maioria dessas coisas e ninguém duvida que se trate de um livro, certo? Por que então o grilo com o bicho audiobook?
A hipótese mais coerente vem do status de intelectualidade que o objeto livro ganhou – e que ainda deve levar um tempo para perder. Mesmo que seja apenas de fachada, como vimos durante as transmissões online na pandemia, uma estante de livros ainda passa uma imagem que um celular repleto de audiobooks não passa. Pode mesmo ser uma estante repleta de livros ruins, terríveis, desastres completos e ainda assim fazem mais vista que um clássico de Dostoiévski em áudio. Não parece absurdo? Pois é.
Mesmo reconhecendo as experiências que um objeto físico oferece, de todas as já mencionadas, passando pelo ato de escrever comentários nas margens (marginália) até a sua fragilidade, a verdade inescapável é que o mais importante, a leitura, continua possível e tão válida quanto. O cerne da história continua igual. A capacidade de nos abalar, atingir nosso íntimo segue lá. Claro, isso porque sequer estamos considerando que há a possibilidade de outras experiências através do áudio. Vozes e efeitos sonoros podem conduzir, seduzir e enriquecer qualquer obra.
Livro? Quem se importa com folhas reunidas, presas por um lado e enfeixadas em uma capa? O que importa é a história!