‘Nossa cidade só é maravilhosa para um pequeno punhado de ricos, e desastrosa para a classe trabalhadora’, avalia Cyro Garcia

Andre Silva
Cyro Garcia em entrevista ao Diário Carioca - Foto Paulo Monteiro

Em meio ao cenário político que antecede as eleições municipais de 2024, o pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSTU, Cyro Garcia, concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário Carioca, na qual abordou sua candidatura e fez duras críticas à gestão do atual prefeito, Eduardo Paes, do PSD.

Garcia destacou as falhas que enxerga na administração de Paes, apontando uma série de questões que considera cruciais para a classe trabalhadora. Segundo suas palavras, “a gestão de Eduardo Paes é péssima. A nossa cidade está abandonada, em  uma  série  de  aspectos e ele faz igual a todos os administradores da cidade que o antecederam, governam para os ricos e poderosos e não para a classe trabalhadora”.

Cyro Garcia em entrevista ao Diário Carioca - Foto Paulo Monteiro
Cyro Garcia em entrevista ao Diário Carioca – Foto Paulo Monteiro

Um dos principais pontos abordados por Cyro foi a educação. Ele criticou a falta de valorização dos profissionais, mencionando a precarização dos professores, a escassez de concursos e a ausência de um plano de carreira que os valorize devidamente. “Você tem uma educação onde não existe valorização do profissional da educação”, afirmou.

Além disso, o pré-candidato apontou para questões no sistema de saúde, como a permanência das Organizações Sociais (OS) atuando no setor, caracterizando-o como uma “apropriação de verbas públicas para a iniciativa privada”. Ele também destacou a corrupção que permeia grande parte dessas instituições, classificando o setor como “corrupto”.

Outro ponto mencionado por Garcia foi a ausência de concursos públicos e a demora no atendimento, exemplificada pelo tempo de espera em filas do SISREG. Essas questões, segundo ele, evidenciam as falhas na gestão municipal.

Ao longo da entrevista, Cyro Garcia apresentou uma visão crítica e incisiva sobre a gestão de Eduardo Paes, reforçando sua plataforma política centrada na valorização da classe trabalhadora e na luta contra a corrupção e a precarização dos serviços públicos.

Moradia e segurança

Garcia destacou a falta de ações preventivas por parte da prefeitura em relação aos problemas recorrentes causados pelas chuvas, principalmente durante o verão. Ele argumentou que não são realizadas obras para prevenir acidentes decorrentes das chuvas, como deslizamentos de encostas, afirmando que “isso são crônicas de uma morte anunciada”. O pré-candidato ressaltou a falta de intervenção efetiva para garantir saneamento básico e coleta de lixo regular, especialmente em áreas mais vulneráveis, como as favelas e periferias.

No tocante à segurança pública, Cyro criticou a postura omissa de Eduardo Paes diante das políticas de segurança implementadas pelo governo do estado, liderado por Cláudio Castro. Ele expôs a política de “Guerra às Drogas”, caracterizando-a como uma estratégia de criminalização da pobreza. “O que o Eduardo Paes faz? Por exemplo, o Cláudio Castro implementa uma política de segurança que é essa farsa chamada ‘Guerra das Drogas’, que nada mais é do que uma política de criminalização da pobreza e promove um verdadeiro genocídio ao povo negro das favelas, das periferias, e principalmente à juventude negra”.

Além disso, Cyro ressaltou o impacto negativo dessas operações policiais na educação e no acesso aos serviços públicos, citando o fechamento de escolas e postos de saúde durante as incursões policiais nas comunidades. Ele criticou a falta de intervenção do prefeito para proibir essas operações nas favelas, argumentando que é necessário ampliar a visão sobre a responsabilidade municipal em relação à segurança pública. A polícia não é paga para matar; ela é paga para ter inteligência, entender, coibir os crimes, quaisquer que sejam eles, e isso não acontece objetivamente”, opinou o pré-candidato.

Carga tributária e Mobilidade Urbana

Em relação à carga tributária, Cyro propõe uma reforma tributária que redistribua os ônus de forma mais equitativa entre os diferentes estratos sociais. Ele destaca a necessidade de uma política de IPTU que penalize as áreas nobres da cidade, visando isentar os trabalhadores de impostos imobiliários. Essa medida, segundo ele, não só aliviaria a carga tributária das classes menos favorecidas, como também incentivaria uma ocupação mais democrática do solo urbano, onde ricos e pobres coexistem lado a lado. A proposta de Cyro inclui um mecanismo para identificar e diferenciar proprietários de imóveis com base nos serviços públicos efetivamente recebidos, visando uma tributação mais justa e equitativa.

Cyro Garcia em entrevista ao Diário Carioca - Foto Paulo Monteiro
Cyro Garcia em entrevista ao Diário Carioca – Foto Paulo Monteiro

Onerar os ricos e desonerar efetivamente os pobres, os trabalhadores. Vamos ter um mecanismo de saber exatamente quem é quem. Você vai ter que ir objetivamente nos imóveis e ver quais são os imóveis que recebem os serviços efetivamente da prefeitura e do estado e aqueles que não”, pontuou o pré-candidato.

Quanto à mobilidade urbana, Cyro Garcia critica a gestão atual, particularmente a relação próxima entre prefeitura e o setor de transporte representado pela Fetranspor. Ele destaca a ineficiência das empresas privatizadas de transporte público, que oferecem serviços precários a preços exorbitantes. Para enfrentar essa questão, Cyro propõe a municipalização da Fetranspor sob controle dos trabalhadores e de um conselho de usuários. Essa medida, segundo ele, garantiria um transporte público de qualidade, reduzindo a dependência do carro particular e melhorando a mobilidade na cidade.

A Fetranspor deita e rola na câmara municipal, na Assembleia Legislativa e nos poderes instituídos. O Eduardo Paes está mais comprometido com a Fetranspor do que efetivamente com a mobilidade urbana, com os usuários. Nossa cidade só é maravilhosa para um pequeno punhado de ricos, e desastrosa para a classe trabalhadora, completa Cyro.

Eduardo Paes busca apoio de Lula

O cenário político do Rio de Janeiro tem sido marcado por movimentações estratégicas visando as eleições municipais, e uma das mais recentes é a aproximação entre o prefeito Eduardo Paes e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, para o pré-candidato Cyro Garcia, essa aproximação é vista com certo ceticismo.

Com uma longa trajetória no movimento sindical bancário desde a década de 1970, Cyro desempenhou um papel fundamental na fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Partido dos Trabalhadores (PT). No entanto, rompeu com essas entidades juntamente com sua corrente, a Convergência Socialista, para fundar o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e a Central Sindical e Popular Conlutas.

Para Cyro Garcia, o governo de Lula é caracterizado como uma “aliança ampla”, que vai desde a esquerda até setores de centro e direita, com o objetivo de gerir o capitalismo de acordo com os interesses do empresariado. Ele enxerga essa estratégia como uma tentativa de unidade nacional, que inclui partidos que mantêm compromissos com o capital.

Ao analisar a tentativa de replicação desse modelo por parte de Eduardo Paes no âmbito municipal, Cyro aponta para alguns obstáculos que o prefeito pode enfrentar. Um deles é a presença de candidaturas de esquerda, como a do PSOL, e a própria pré-candidatura de Cyro Garcia. No entanto, ele reconhece que Paes busca polarizar a eleição, retratando-se como representante da esquerda frente a candidatos bolsonaristas, uma ideia que Cyro considera irônica, dada a trajetória política de Paes.

Portanto, para Cyro Garcia, a aproximação de Eduardo Paes com o Presidente Lula é vista com ceticismo, pois ele enxerga nessa estratégia uma tentativa de reproduzir um modelo político que, na sua visão, não representa plenamente os interesses da população e que pode encontrar resistência em um cenário político marcado pela diversidade de ideias e posicionamentos.

Além das nuances da estratégia política adotada por Eduardo Paes, Cyro Garcia também fez uma análise profunda sobre a trajetória do Partido dos Trabalhadores (PT), destacando os pontos que, na sua visão, contribuíram para a atual situação da legenda.

De acordo com Cyro, o PT, desde sua fundação na década de 1980, experimentou um crescimento notável, obtendo êxitos eleitorais significativos. No entanto, esse sucesso eleitoral coincidiu com uma transformação interna do partido. O PT, inicialmente composto majoritariamente por representantes da classe trabalhadora, que formulavam políticas a partir de suas experiências no “chão de fábrica” e nas salas de aula, gradualmente passou a ser dirigido por uma burocracia que se distanciou das bases populares.

Essa burocratização do PT, conforme apontado por Cyro, levou o partido a se preocupar mais com seus próprios interesses do que com as demandas das classes trabalhadoras. Com o tempo, o partido passou a ser influenciado por interesses burocráticos, especialmente oriundos dos gabinetes legislativos e do poder executivo.

Um dos aspectos mais emblemáticos dessa transformação, segundo Cyro, foi a mudança na política de financiamento de campanhas do PT. Inicialmente, o partido resistiu ao financiamento por parte de empresas, optando por campanhas financiadas pela militância. No entanto, a partir da campanha de José Dirceu em 1994, o PT cedeu à pressão e aceitou financiamento de grandes empresas, como o Banco Itaú e a Odebrecht, o que marcou uma mudança significativa na identidade e nos interesses do partido.

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